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A Ponte Nova, sobre o Desfiladeiro do Tajo, a imagem mais forte de Ronda |
Tem lugares que deixam a gente sem palavras. A única vontade é dizer: "Vá! E depois a gente conversa (confie em mim)". É o caso de Ronda, cidade que muita gente visita apenas em uma parada em roteiro de carro pela Andaluzia.
Se eu fosse você, porém, esticava a estadia: tem muito o que fazer em Ronda e garanto que não vai se arrepender de dedicar mais tempo a ela.
Ronda é uma vertigem andaluza, cidade medieval cortada pelo impressionante Desfiladeiro do Tajo que o mundo associa a uma das cenas mais dramáticas escritas por Hemingway — em Por Quem os Sinos Dobram, embora ele jamais tenha identificado a cidade como cenário da ação.
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Arena de Touros de Ronda |
Ronda, porém, é muito mais que o desfiladeiro. Ela tem um patrimônio histórico riquíssimo, herdado, principalmente, do tempo em que era a sede do reino mouro de Taifa de Ronda, que dominou aquelas montanhas por quatro séculos.
Entre muralhas mouras, palácios mudéjares e casas anônimas penduradas no abismo, a gente se perde no encantamento que é andar por Ronda.
É claro que eu fui a Ronda para ver cara a cara o Desfiladeiro do Tajo, a imagem mais forte da cidade. Mas descobri que ela tem muito mais atrações.
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Ronda é cheia de cantinhos mágicos |
Tentando ser objetiva, fiz mais uma listinha de visitas bem bacanas na cidade. Dá uma olhada:
O que fazer em Ronda
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A Praça de Touros de Ronda é uma das mais tradicionais da Espanha |
Calle Virgen de la Paz nº 15
🕒 Diariamente, a partir das 10h. O horário de encerramento das visitas depende da estação do ano (18h no inverno, 19h na meia estação e 20 horas no verão). Quando há corridas de touros, as visitas são suspensas.
💲 A entrada custa € 6,50.
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Acesso à Arena de Touros de Ronda |
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O Camarote Real e as arquibancadas para o público |
A arena é mantida pela Real Maestranza de Caballería de Ronda, uma sociedade com origens no Século 16, semelhante à existente em Sevilha. O berço dessa sociedade foi uma ordem de nobres treinados para combates militares.
A Arena de Touros de Ronda é uma das mais antigas da Espanha. Foi inaugurada no final do Século 18 e ainda está em plena atividade.
Não sou admiradora de touradas (sorry, Papa Hemingway), mas acho importante entender o papel dessa prática na identidade espanhola.
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Pedro Romero, orgulhoso, na entrada da Plaza de Toros |
Ronda também é o berço da Família Romero, uma autêntica dinastia de toureiros iniciada por Pedro Romero — nome de praça e homenageado com uma estátua em frente à arena — que foi um pop star do Século 18, ao ponto de ter seu retrato pintado por Goya.
No Século 20, os rondeños Cayetano e Antonio Ordoñez foram as grandes estrelas da arena.
Os dois toureiros, pai e filho, eram amigos do escritor Ernest Hemingway e do cineasta Orson Welles. Foram os Ordoñez que apresentaram Ronda aos dois artistas americanos, o que faz deles os grandes "culpados" pelo amor que ambos os gringos dedicaram à cidade.
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A poule de treinamentos e o interior da escola de cavalaria |
A arquitetura da Praça de Touros de Ronda impressiona por sua elegância e harmonia.
A vasta arena circular (66 metros de diâmetro) é cercada por uma arcada perfeitamente simétrica que abriga as arquibancadas, sustentadas por colunas em arenito no mesmo tom do piso de areia.
Quando o sol cai, no final da tarde, a luz dourada que banha a Plaza de Toros de Ronda é indescritível — e impossível de fotografar com fidelidade.
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As cavalariças da Arena de Touros de Ronda |
Na visita à Plaza de Toros também é possível conhecer as cocheiras e a poule de treino da escola de equitação que ainda funciona lá.
A Arena de Touros de Ronda também abriga um Museu Taurino, que é menorzinho que o de Sevilha, mas expressa o orgulho de Ronda por ser berço de uma célebre escola de grandes toureiros.
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Olha só essa vitrine!! Tudo delicioso. Os piononos, meus favoritos, estão na segunda prateleira, de baixo para cima, no canto direito |
Confitería las Campanas - Plaza del Socorro nº 3
Saindo da Plaza de Toros de Ronda, logo em frente está a Calle (rua) Pedro Romero, uma ruazinha estreita que homenageia o célebre toureiro do Século 18.
A rua tem pouco mais que uma quadra e desemboca na Plaza del Socorro, com a igreja do mesmo nome (reduzida a cinzas durante a Guerra Civil Espanhola e reconstruída na segunda metade do século passado).
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No feriado de Reis, a Praça do Socorro tinha footing no final da tarde, barraquinhas vendendo petiscos e, claro, doces de gema |
A grande atração da Praça do Socorro é a Confitería las Campanas – Yemas del Tajo, uma confeitaria especializada nos famosos doces de gema de Ronda.
Confesso que fiquei viciada na primeira mordida (e qualquer coisa era desculpa para voltar lá).
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O jardim do Palácio do Rei Mouro |
Cuesta de Santo Domingo. Entrada €6
Atravessando Puente Nuevo na direção Sul (coisa que eu sempre levava duas horas para fazer: apesar de a ponte ter cerca de 100 metros, não conseguia parar de olhar para o o abismo do Tajo), a gente entra na parte mais antiga de Ronda, cheia de palácios encantadores, pracinhas escondidas e ruas estreitas.
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O Palácio do Rei Mouro (a construção ocre à direita), debruçado sobre o Desfiladeiro do Tajo |
Ninguém sabe ao certo porque esse palácio tem esse nome. Uma das explicações seria a pintura que adorna uma de suas portas, retratando um mouro finamente vestido e com cara de rei 😊.
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Detalhes da fachada do Palácio do Rei Mouro |
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Na fachada do palácio, a imagem de um "rei mouro" que pode ter dado o nome ao casarão. À direita, uma fonte moura vizinha à construção |
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Os jardins do Palácio Rei Mouro são do início do Século 20 e recriam o paisagismo tradicional árabe |
Essa visita vale muito a pena, pois são jardins belíssimos, cheios de pequenos recantos quase mágicos — e têm uma vista espetacular para Ronda e para o Desfiladeiro do Tajo.
Mas a parte mais trepidante da visita ao Palácio do Rei Mouro é a descida à mina d'água árabe.
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Ronda vista dos jardins do Palácio do Rei Mouro. No cantinho inferior direito está Puente Viejo, a ponte mais antiga da cidade, ligando as duas margens do Desfiladeiro do Tajo |
A mina é uma plácida "piscina" formada pelas águas do Rio Guadalevín, 100 metros abaixo do Palácio do rei Mouro, na base do Desfiladeiro do Tajo.
Para chegar lá, é preciso descer cerca de 250 degraus (eu até tentei contar, mas estava mais concentrada em não escorregar nem tropeçar no caminho, rsss) escavados pelos árabes na rocha nua.
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Lááááááá no fundo está a mina d'água |
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A escadaria que leva à mina foi construída no Século 14 |
A descida à mina exige joelhos em dia (pense no caminho de volta, escada acima...), mas é um programa tão sessão da tarde que não dá para resistir.
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A mina fica na base do desfiladeiro, entre rochas altíssimas |
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A entrada da mina e às águas cristalinas que abasteciam Ronda. À direita, euzinha, já moída por ter descido 250 degraus — vocês nem imaginam com que cara eu estava na volta... 😀 |
Em alguns pontos da longa escada, pequenas câmaras, também escavadas na pedra, serviam de arsenal e de salas de guardas.
Lá em baixo, além da vista impressionante do desfiladeiro, cujas paredes dão a impressão de chegar ao céu, o melhor é o silêncio.
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Igreja de Santa Maria la Mayor de Ronda |
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Praça Duquesa de Parcent, que ocupa o o centro da antiga medina árabe de Ronda |
No coração da parte mais antiga de Ronda, a Praça Duquesa de Parcent é perfeita para aquela paradinha estratégica, quando tudo o que a gente quer é um banquinho e o silêncio, em um cenário de encanto.
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Os conventos de Santa Isabel e de la Merced, na Praça Duquesa de Parcent |
A praça é sombreada por árvores frondosas e aconchegada entre as lindas fachadas dos conventos de La Caridad e de Santa Isabel de los Ángeles e o esplendor da Igreja de Santa Maria La Mayor.
O que vemos hoje na Praça Duquesa de Parcent é a versão da Reconquista Cristã para a antiga medina árabe, com os edifícios católicos substituindo importantes construções mouras.
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Quando tudo que a gente quer é um banquinho e o silêncio... |
⭐Igreja de Santa Maria la Mayor
Visitas de segunda a sábado, das 10h às 12:30h e das 14h às 19h.
Entrada: €4
Essa é a igreja mais importante de Ronda. Santa Maria la Mayor está construída sobre os restos de uma mesquita.
O início da obra é do Século 15, período de grande fervor da Reconquista cristã, no reinado dos Reis Católicos. A igreja, porém só foi inaugurada 200 anos depois.
O detalhe mais curioso da Igreja de Santa Maria la Mayor são os dois andares de galerias da fachada principal, como uma loggia, sobre a arcada do térreo.
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Detalhes do interior da Igreja de Santa Maria la Mayor e de sua entrada principal |
A função dessa galeria era permitir que os reis assistissem "de camarote" a procissões e outras celebrações religiosas realizadas na Praça Duquesa de Parcent sem precisarem estar no meio do povo.
Logo na entrada, na sala onde funciona a bilheteria, preste atenção ao antigo mihab (nicho que indicava a direção de Meca), um dos elementos mouros que sobreviveram da velha mesquita sobre a qual foi construída a igreja.
⭐As fachadas de Ronda
O maior encanto de Ronda é a harmonia do conjunto arquitetônico.
A maioria das construções que ocupam a área da antiga medina, que os rondeños chamam de La Ciudad, têm origem medieval, mas apresentam hoje as feições que ganharam em reformas dos séculos 16 e 17.
O maior encanto de Ronda é a harmonia do conjunto arquitetônico.
A maioria das construções que ocupam a área da antiga medina, que os rondeños chamam de La Ciudad, têm origem medieval, mas apresentam hoje as feições que ganharam em reformas dos séculos 16 e 17.
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Em Ronda, a beleza não é monopólio dos palácios |
Mas a beleza, em Ronda, não é monopólio do alto pedigree. O casario anônimo da cidade também é belíssimo e se constitui numa companhia apaixonante em qualquer caminhada.
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Olha o charme dessas "gaiolinhas" (esq) que protegem as sacadas de Ronda, sempre arrematadas por uma espécie de coroa no topo |
Como toda cidade linda que se preze, Ronda tem suas marcas únicas, aquele "sinalzinho" só dela, adornando suas fachadas.
No caso, é um tipo de gradeado bem característico que serve de balaustrada às sacadas, sempre arrematado por uma espécie de "coroa" no topo.
E tudo ganha um arzinho mais especial com o capricho dos moradores, que sempre têm vasinhos de flores dando um toque de cor às suas fachadas, mesmo no frio de janeiro.
Madri
Andaluzia: Cádis, Córdoba, Granada, Ronda e Sevilha
Castela e La Mancha: Toledo
Castela e Leão: SegóviaCatalunha: Barcelona, Girona e Tarragona
Comunidade Valenciana: Valência
Galícia: Santiago de Compostela, Caminho de Santiago e cidades da rota
A Europa na Fragata Surprise
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Belo, belíssimo!
ResponderExcluirValeu, Moa :)
ExcluirNossa !!!! Estou encantado com o seu post. Voce escreve muito bem, com muita leveza e paixão . As fotos são lindas. Parabéns . Estou indo pra Ronda em maio/2016 e seu post me ajudou bastante, li coisas que não havia lido em outros post. Continue viajando e escrevendo assim. Um abraço.Moadia.
ResponderExcluirObrigada, Moadia :)
ExcluirRonda em maio deve ficar linda. Aproveite muito sua estada por lá. É uma cidade de sonho. Fico feliz que a Fragata tenha ajudado no seu planejamento de viagem.
Abs
Oi, Cyntia. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Que bom!!
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