Ah, essas fachadas apaixonantes da cidade colonial de
Cachoeira |
Música deste post: Oriente, Gilberto Gil
Se você vai a Salvador, por que não esticar a visita a Cachoeira, Bahia, um tesouro colonial do Recôncavo Baiano?
O Recôncavo, pra mim, é o lugar mais bonito do mundo. As muitas décadas de esquecimento e maus tratos não arrefeceram a luz exuberante da região, que faz as cores de lá serem sempre as mais vivas e sedutoras. A paisagem é suave e aconchegante, pontuada por belas cidades coloniais.
Cachoeira vista da Casa de Câmara e Cadeia |
Cachoeira clicada do morro da Igreja do Rosarinho dos Pretos |
Além de Cachoeira, São Félix, Muritiba, Jaguaripe e Maragogipe completam o encanto.
Pertinho de Salvador (distâncias que giram na casa dos 100 km), as cidades coloniais do Recôncavo são uma super opção de passeio para quem vai à Bahia.
Essa é uma região para descobrir a força da cultura herdada dos africanos — e testemunhar a resistência dessas tradições.
Carro da Cabocla da Independência. Todo 25 de Junho, um
grande desfile celebra a insurreição de Cachoeira, em 1822, primeiro movimento
da Guerra de Independência da Bahia |
As construções seculares, a culinária e as celebrações são as marcas desta concha de terra que se enrosca em torno das águas da Baía de Todos os Santos. Um universo fascinante que precisa entrar na agenda dos viajantes.
Veja as dicas para visitar Cachoeira e suas vizinhas do Recôncavo:
Cachoeira, Bahia: um tesouro colonial
A pequena cachoeirana comemora a restauração da Igreja da Ordem Terceira do Carmo no 24 de agosto, Festa de São Bartolomeu |
É por isso que gosto de chegar a Cachoeira à noite e andar descalça pelo calçamento irregular, admirando as fachadas dos Séculos 18 e 19, parando na beira do Paraguaçu para ver as luzes de São Félix, do outro lado do rio.
A Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira é uma preciosidade. Sua decoração interna, em chinesices, foi executada por artesãos da colônia portuguesa de Macau |
A decoração da Ordem Terceira é uma profusão de douramentos e as imagens sacras têm feições asiáticas |
Nichos na sacristia da Igreja da Ordem Terceira |
Adoro a história de Cachoeira. A independência do Brasil começou na cidade, no levante de 25 de junho de 1822.
Quando Pedro I deu o grito do Ipiranga, os cachoeiranos já tinham enfrentado e posto para correr os portugueses. Os colonizadores bem que tentaram conter o levante, bombardeando cachoeira a partir de uma canhoneira ancorada no Rio Paraguaçu.
Os cachoeiranos, porém, tomaram a canhoneira portuguesa na base da foice e do porrete.
O Primeiro Passo para a Independência da Bahia, pintura de
Antônio Parreira sobre o levante de Cachoeira. A tela está exposta na Câmara
Municipal da cidade |
Todo 25 de Junho, Cachoeira, "A Heroica", assume o posto de capital da Bahia. É a homenagem da terra à bravura dos insurgentes de 1822 |
O início da Guerra de Independência é a grande data de Cachoeira. Todos os anos, no 25 de Junho, a cidade vira capital da Bahia por 24 horas. A celebração tem um grande desfile cívico, samba de roda e saudação nos terreiros de Candomblé.
É arrepiante ouvir milhares de pessoas cantando o Hino ao Dois de Julho (hoje o Hino do Estado da Bahia), que fala das lutas pela Independência: "Com tiranos não combinam brasileiros corações", diz os estribilho do nosso hino.
Na Bahia, as comemorações da Independência são muito diferentes das realizadas no resto do país.
É arrepiante ouvir milhares de pessoas cantando o Hino ao Dois de Julho (hoje o Hino do Estado da Bahia), que fala das lutas pela Independência: "Com tiranos não combinam brasileiros corações", diz os estribilho do nosso hino.
Na Bahia, as comemorações da Independência são muito diferentes das realizadas no resto do país.
Nada de parada militar. Quem vem para a rua é o povo. Desfilam as escolas, os blocos afro, os partidos políticos, as filarmônicas, os capoeiristas, congregações religiosas e até as corporações militares, muito mais notadas por suas bandas de música.
Até as datas da celebração da Independência são diferentes. Além do 25 de Junho, em Cachoeira, há o 7 de Janeiro, na Ilha de Itaparica (marcando a vitória dos baianos sobre os portugueses, numa decisiva batalha naval) e o 2 de Julho, em Salvador, feriado estadual e maior das celebrações, pois marca a vitória definitiva dos brasileiros sobre as tropas portuguesas, em 1823.
Por mais de um ano, o povo baiano enfrentou tropas regulares, disciplinadas, bem armadas e treinadas.
A Igreja do Rosarinho dos Pretos congregava os escravos e os
negros libertos de Cachoeira |
Contra o exército português, bateram-se os heróis anônimos, gente pobre da Bahia filha de todas as raças, representada nas figuras do Caboclo e da Cabocla — a figura feminina e a masculina postas em condição de igualdade.
Poucos nomes desses guerreiros chegaram até nós: João das Botas, herói da Batalha Naval de Itaparica. Maria Felipa de Oliveira, marisqueira, descendente de escravos sudaneses, que comandou uma feroz resistência à tentativa de desembarque português em Itaparica, e Maria Quitéria de Jesus, a cachoeirana que se vestiu de homem para poder alistar-se e destacou-se pela bravura em combate.
Poucos nomes desses guerreiros chegaram até nós: João das Botas, herói da Batalha Naval de Itaparica. Maria Felipa de Oliveira, marisqueira, descendente de escravos sudaneses, que comandou uma feroz resistência à tentativa de desembarque português em Itaparica, e Maria Quitéria de Jesus, a cachoeirana que se vestiu de homem para poder alistar-se e destacou-se pela bravura em combate.
Cemitério dos Nagôs, no Rosarinho dos Pretos, e a lápide de
Antonio Domingos Martins, "natural de África" |
Desde os início dos anos 2000, Cachoeira ganhou um impulso de revitalização. Seu patrimônio histórico, de imensa beleza e valor simbólico, vem sendo restaurado e a cidade está ganhando novo sopro de animação com a chegada da Universidade Federal do Recôncavo.
Um dos primeiros tesouros da cidade a ser restaurado foi a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, do iniciozinho do Século 18.
O edifício é um primor de beleza e requinte, inteiramente decorada com azulejos e, principalmente, entalhes de madeira e douramentos.
A imagem de Cristo da Ordem Terceira do Carmo tem os olhos
ligeiramente puxados, uma marca dos artesãos de Macau, antiga colônia
portuguesa na China |
A referência recorrente a motivos chineses (as chamadas "chinesices") na Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira é influência de artesãos da colônia portuguesa de Macau, na China, de onde também vieram as imagens de santos com olhos ligeiramente puxados.
Outro conjunto de grande valor cultural e artístico recentemente restaurado foi a Igreja do Rosarinho dos Pretos e o Cemitério dos Nagôs, espaços religiosos da grande comunidade africana e seus descendentes. O Rosarinho é uma edificação simples, mas de beleza comovente.
Cachoeira está a 120 km de Salvador, às margens do Rio Paraguaçu. Para quem está de carro, basta seguir a BR-324 (que liga a capital a Feira de Santana) até o entroncamento para Santo Amaro (terra de Caetano e Bethânia, que também rende ótimo passeio) e seguir pela BA-026.
A 7 km de Cachoeira está o povoado de Belém de Cachoeira. Vale uma parada para ver a igreja |
A BR-324 é duplicada, mas o trânsito costuma enroscar, por conta do intenso movimento. Evite os horários de pico e dirija com cuidado, porque é enorme a movimentação de caminhões.
A Viação Santana faz a viagem de ônibus entre Salvador e Cachoeira em diversos horários (a cada hora), partindo da Estação Rodoviária de Salvador, no bairro do Iguatemi.
O trajeto é feito em cerca de 1h40 e a passagem custa R$ 20 (cada perna). A Viação Jauá faz a linha Salvador-Maragogipe e seus ônibus param em Cachoeira em alguns horários.
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Eu também adoro o Recôncavo Cyntia.
ResponderExcluirReconcavo Terra de muitos negros que ajudaram a fundar diversas casas de Candomblé, não só na Bahia bem como em São Paulo e Rio de Janeiro. Terra adorada, parabéns aos que nela habitam.
ResponderExcluirDigam pro vereador de Porto Alegre que os bahianos fazem muito mais do que tocar tambor na areia da praia. Respeita a Bahia, seu racista!
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