À beira do Rio Onyar, o casario substituiu as muralhas medievais de Girona |
Música deste post: Milonga del Moro Judío, Jorge Drexler
Atualizado em janeiro de 2020
Uma cidade cheia de vida, abrigo de um patrimônio histórico encantador e povoada por gente que embarca no transporte público cumprimentando afetuosamente o motorista com tapinhas nas costas e distribuindo sorrisos para os desconhecidos.
Esta é Girona ("Gerona", em castelhano), a 90 quilômetros ao norte de Barcelona, no caminho para os Pirineus.
Cenário de Game of Thrones, a Catedral de Girona botou a cidade no radar de muita gente |
Mas não se engane: nada aqui lembra a vidinha de aldeia. Cinemas de última geração, concertos e lojas de grifes badaladas convivem com o belíssimo e bem preservado patrimônio medieval de Girona.
Nas ruas de Girona ouve-se pouco castelhano. O cartão de visitas do orgulho catalão vem logo na simpática correção que eles fazem da nossa pronúncia do nome da cidade: "Djiróna", nos fazem repetir, esconjurando para sempre o G aspirado espanhol.
O encanto meio misterioso das ruelas e escadarias de El Call de Girona, o bairro judeu medieval mais preservado da Europa Ocidental |
Girona, porém, é muito mais do que uma locação de série de TV — por mais eletrizante que seja. É uma cidade repleta de belezas e com um altíssimo astral. Você pode visitá-la em um bate e volta desde Barcelona ou mesmo programar uma temporada mais esticada. Aposto que você vai adorar.
Veja como foi minha vista a Girona:
Ao lado da Catedral, o antigo palácio da Família Montcada tem um anjo na cumeeira. Ao fundo, a torre da Igreja de Sant Feliu (São Félix), do Século 12 |
Roteiro em Girona
Visitei Girona em março de 2011, junto com minha irmã Simone, em um roteiro que também incluiu Barcelona e Carcassone, nos Pirineus Franceses.O que nos chamou a atenção, desde que pisamos na cidade, é a solicitude dos gironenses. Do taxista aos recepcionistas do hotel, dos transeuntes ao motorista do ônibus que nos levou ao centro, todos tinham um festival de dicas sobre "visitas obrigatórias" na cidade.
Ao lado da Catedral, a Igreja de Sant Feliu é apontada como um dos melhores exemplares da arquitetura gótica em Girona |
Meu principal interesse em Girona era ver El Call, antigo bairro judeu, considerado o gueto medieval mais preservado de toda Europa Ocidental.
A pequena Girona, porém, tem muito mais história para contar, desde que sua povoação original pelos ausetanos (ibéricos).
Dizem que as muralhas da cidade enfrentaram 25 cercos, até serem parcialmente destruídas na invasão napoleônica, em 1809.
Uma rua típica de El Call (esq) e o Portal de Sobreportes, que era uma das três portas da muralha medieval de Girona |
A Catedral de Girona
Plaça de la Catedral s/n
🕒 Horários: De abril a outubro, visitas das 10h às 18:30h (em julho e agosto, alto verão, até as 19:30h). De novembro a março, das 10h às 17:30h.
A Praça da Catedral de Girona vista do alto da escadaria |
Nós fizemos um tour guiado informal à Catedral de Girona. Como éramos as únicas visitantes, a funcionária que nos vendeu os ingressos nos acompanhou e deu explicações detalhadas sobre toda a igreja — a paixão dela pelo edifício era contagiante.
A Catedral de Santa Maria de Girona nasceu românica, no Século 11, ocupando o espaço e de um templo dedicado ao culto cristão desde o começo da Idade Média.
O estilo românico, porém, só se conserva atualmente no belo Claustro da Catedral. Ela hoje tem uma fachada barroca (do Século 18) e um interior francamente gótico, fruto de várias reformas executadas a partir do Século 12.
Uma coisa que muitos gironenses faziam questão de nos dizer, recomendando a visita à Catedral, é que ela tem “a maior nave gótica do mundo”, com 22,98 metros de largura, 50 metros de comprimento e 34 metros de altura (esses números exatos eu tive que pesquisar no Google 😊).
Os arquitetos e operários levaram 50 anos para conclui essa nave, que é um prodígio técnico para a época de sua construção, o Século 15.
Os arquitetos e operários levaram 50 anos para conclui essa nave, que é um prodígio técnico para a época de sua construção, o Século 15.
O ingresso para a Catedral de Girona e, à direita, a escadaria em uma cena de Game of Thrones |
A fachada barroca da Catedral de Girona é uma obra do Século 18 |
Mas a imponência da Catedral de Girona vai muito além de sua nave gótica. Ela fica sobre uma elevação, no miolinho de ruas medievais, e exibe aos visitantes sua portentosa escadaria do Século 16, com 90 degraus — que várias vezes você viu em Game of Thrones — como cartão de visitas.
O interior da Catedral, infelizmente, não pode ser fotografado. Mas preste muita atenção ao Trono de Carlos Magno, ao altar-mor, em prata e esmalte (Século 14) e ao arrebatador Painel da Criação.
O Painel da Criação (El Tapiz de la Creació) é um imenso bordado (3,65 m x 4,70 m) fica no Tesouro da Catedral de Girona. Ele data do Século 11 e serviu originalmente como baldaquino para o altar-mor da igreja.
A Catedral de Girona fica no ponto mais alto da cidade e é alcançada por uma escadaria com 90 degraus — agora famosa por suas participações em cenas de Game of Thrones |
O bordado retrata várias cenas do Genesis e da vida de Cristo. Detalhe: acredita-se que a peça que chegou aos nossos dias seja apenas um fragmento da obra original.
Durante a breve ocupação moura em Girona — entre os anos de 717 e 785 — a catedral foi convertida em mesquita, mas não há traços visíveis desse período.
Durante a breve ocupação moura em Girona — entre os anos de 717 e 785 — a catedral foi convertida em mesquita, mas não há traços visíveis desse período.
O ingresso para a Catedral também dá direito à entrada na Igreja de Sant Feliu |
La Força Vella, primeira fortificação de Girona foi obra dos romanos |
As muralhas de Girona
Apesar da violência do bombardeio bonapartista, em 1809, Girona ainda preserva cerca de 5 km de muralhas.
Essas fortificações, do Século 14, podem ser percorridas no Passeig Arqueòlogic, programa vivamente recomendado aos turistas pelos gironenses e que permite caminhar pelas velhas muralhas da cidade.
As primeiras fortificações de Girona, porém, são muito mais antigas. Foram obra dos romanos, no Século 1 a.C.
Apesar da violência do bombardeio bonapartista, em 1809, Girona ainda preserva cerca de 5 km de muralhas.
Essas fortificações, do Século 14, podem ser percorridas no Passeig Arqueòlogic, programa vivamente recomendado aos turistas pelos gironenses e que permite caminhar pelas velhas muralhas da cidade.
As primeiras fortificações de Girona, porém, são muito mais antigas. Foram obra dos romanos, no Século 1 a.C.
A chamada Força Vella era um conjunto de muralhas e bastiões que cercava completamente a povoação, então estabelecida no ponto mais alto da cidade — o que hoje é o entorno da Catedral.
Nos arredores da catedral ainda há vários vestígios das fortificações romanas |
Parte das construções da Força Vella ainda são visíveis na cidade — saindo da Catedral, siga para a esquerda (para o Sul) pela Carrer de la Força, que acompanha parte do traçado dessas antigas fortificações.
No final da Carrer de la Força você verá uma das entradas para subir às muralhas medievais de Girona, um passeio bem popular entre os turistas, mas que eu não fiz por causa de uma chuvarada que caiu no meu segundo dia na cidade (o dia de retornar a Barcelona).
No final da Carrer de la Força você verá uma das entradas para subir às muralhas medievais de Girona, um passeio bem popular entre os turistas, mas que eu não fiz por causa de uma chuvarada que caiu no meu segundo dia na cidade (o dia de retornar a Barcelona).
O Barri Vell (Centro Histórico) de Girona é cheio de "passagens secretas". Olha euzinha, pronta pra atravessar uma delas para entrar em El Call, o bairro judeu 😉 |
Quem já fez, porém, recomenda muito, pois a caminhada oferece vistas espetaculares da cidade. Há vários acessos à muralha. Outro deles fica em frente aos Banhos Árabes, do Século 11, na direção Norte de quem sai da Catedral.
Caminhar por El Call é um passeio encantador em Girona |
Bem próximo à Catedral (siga pela Carrer de la Força), El Call é o antigo bairro judeu de Girona, um emaranhado de ruelas inacreditavelmente estreitas, escadarias e passagens em arco cheio de encantamento e um certo ar de mistério.
O que tem de escadaria no lugar de rua em El Call... |
Até a expulsão dos judeus da Espanha, em 1542, era lá que vivia a comunidade judaica da cidade. É muito gostos passear sem rumo por lá.
Se você quiser conhecer mais sobre a história desse bairro e das pessoas que viveram lá, é uma boa ideia reservar um tempo para visitar o Museu d’Història dels Jueus (Museu Histórico dos Judeus), na Carrer de la Força nº 8.
Se você quiser conhecer mais sobre a história desse bairro e das pessoas que viveram lá, é uma boa ideia reservar um tempo para visitar o Museu d’Història dels Jueus (Museu Histórico dos Judeus), na Carrer de la Força nº 8.
Como estamos na Catalunha, o passeio por El Call só poderia terminar com uma taça de cava e tapas deliciosas — pulpitos (polvinhos minúsculos), croquetas (croquetes) e uma porção de butifarras (linguiças) — devidamente devoradas na mesinha do pequeno Café L'Arc (Carrer de la Força nº 9, El Call).
Um dos belos balcões de El Call e, à direita, o Café de l'Arc, onde fizemos uma gostosa farra bem catalã |
As arcadas medievais da Rambla de la Llibertat |
Rambla de la Llibertat
Ao cair da noite, os gironenses desafiavam o frio do começo de março nas mesas dos bares e cafés da Rambla de la Llibertat — hapyy hour de sexta-feira pra lá de animada.
Eles explicam que a Rambla de la Llibertat é sempre muito movimentada. Ela corre em paralelo ao Rio Onyar e foi aberta no final do Século 19, em uma reforma urbana que preservou as arcadas medievais, sob as quais trabalhavam os artesãos de Girona.
O nome da rambla (“Da Liberadade”) refere-se á árvore plantada no local, na comemoração dos 60 anos da libertação da cidade da ocupação napoleônica.
À noite, foi impossível fazer uma foto decente da Pont de les Peixateries. O vai e vem de gente fazia tremer forte estrutura metálica.
Como chegar a Girona
Hospedagem em Girona
Hotel Sol Melià Girona
Carrer de Barcelona n° 112
O Meliá de Girona foi, disparado o melhor hotel de todo o nosso roteiro por Barcelona, Carcassone e Girona.
Pelo antigo site venere.com (que não existe mais), conseguimos uma promoção tipo last-minute, fazendo a reserva na véspera da chagada. A diária no apartamento duplo custou € 60, senhora pechincha.
Bem que a gente estava precisando do conforto, depois das opções mais mochileiras de Barcelona e Carcassonne.
O Meliá Girona tem quartos grandões, camas confortáveis, travesseiros fofinhos, banheiro enorme e todos os mimos que andavam fazendo falta: máquina de café, TV de LCD com dezenas de canais de notícias (foi assim que ficamos sabendo do terremoto no Japão, em março de 2011) e janelas à prova de ruídos.
O hotel fica ao lado de uma gigantesca loja do El Corte Inglés (que dá 10% de desconto aos hóspedes do hotel) e bem pertinho da estação ferroviária.
A Espanha na Fragata Surprise
Madri
Andaluzia: Cádis, Córdoba, Granada, Ronda e Sevilha
Castela e La Mancha: Toledo
Castela e Leão: SegóviaCatalunha: Barcelona, Girona e Tarragona
Comunidade Valenciana: Valência
Galícia: Santiago de Compostela, Caminho de Santiago e cidades da rota
Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Eles explicam que a Rambla de la Llibertat é sempre muito movimentada. Ela corre em paralelo ao Rio Onyar e foi aberta no final do Século 19, em uma reforma urbana que preservou as arcadas medievais, sob as quais trabalhavam os artesãos de Girona.
Tudo pronto para a farra de sexta-feira na Rambla de la Llibertat |
O nome da rambla (“Da Liberadade”) refere-se á árvore plantada no local, na comemoração dos 60 anos da libertação da cidade da ocupação napoleônica.
O famoso casario colorido às margens do Rio Onyar, a imagem mais conhecida de Girona |
Orla do Rio Onyar
Diante do Rio Onyar, que corta Girona, uma parte das muralhas medievais bombardeadas por ordem de Napoleão deu lugar a um amontoado de prédios que lembram a simpática desordem de Ponte Vecchio, em Florença — a luz também tem algo de Toscana nessa encantadora cidade catalã.
O Rio Onyar, na verdade, divide o tempo em Girona. Na margem direita está a cidade medieval, enquanto a vida contemporânea pulsa na margem esquerda.
As cores e a luz á beira do Rio Oynar tem um quêzinho toscano |
Uma série de pontes comunicam as duas porções da cidade — porque, afinal, o tempo não para em nenhum dos dois lados.
Entre as muitas passarelas do tempo sobre o Rio Onyar, preste atenção à Ponte de Pedra e à Ponte de Ferro (a Pont de les Peixateries) esta uma obra de Gustave Eiffel, o engenheiro da torre parisiense. Ela é exclusiva para pedestres, muito movimentada e fotogênica.
Entre as muitas passarelas do tempo sobre o Rio Onyar, preste atenção à Ponte de Pedra e à Ponte de Ferro (a Pont de les Peixateries) esta uma obra de Gustave Eiffel, o engenheiro da torre parisiense. Ela é exclusiva para pedestres, muito movimentada e fotogênica.
A Orla do Rio Onyar à noite é bem romântica |
À noite, foi impossível fazer uma foto decente da Pont de les Peixateries. O vai e vem de gente fazia tremer forte estrutura metálica.
Mas a vista da Ponte de Ferro é maravilhosa: a torre iluminada da Catedral e o contorno das construções antigas que derramam seu reflexo suave sobre o rio.
Pont de les Peixateries, obra de Gustave Eiffel |
Girona está 100 quilômetros ao norte de Barcelona, de onde é farta a oferta de trens até lá, desde os regionais pinga-pinga até o TGV.
Os horários e preços podem ser consultados no site da Renfe, a companhia de trens do Estado Espanhol.
Os ônibus da Alsa também ligam Barcelona a Girona, com saídas em diversos horários.
A estação ferroviária de Girona estava em reformas, quando estivemos na cidade |
Os ônibus da Alsa também ligam Barcelona a Girona, com saídas em diversos horários.
Nós compramos o bilhete de trem de Girona para Barcelona na estação, mesmo. Mas você pode encontrar preços melhores comprando o bilhete com antecedência no site da Renfe |
Chegamos a Girona vindas de Carcassonne, com baldeação em Figueres, a cidade natal de Salvador Dalí |
Hospedagem em Girona
Hotel Sol Melià Girona
Carrer de Barcelona n° 112
Simone fez a única foto do nosso apartamento no Meliá Girona. Não reparem a bagunça 😁 |
Bem que a gente estava precisando do conforto, depois das opções mais mochileiras de Barcelona e Carcassonne.
O Edifício dos Correios é uma das construções mais
significativas da parte nova de Girona. Foi inaugurado em 1922 e sua fachada
tem esculturas de Frederic Marés
|
O Meliá Girona tem quartos grandões, camas confortáveis, travesseiros fofinhos, banheiro enorme e todos os mimos que andavam fazendo falta: máquina de café, TV de LCD com dezenas de canais de notícias (foi assim que ficamos sabendo do terremoto no Japão, em março de 2011) e janelas à prova de ruídos.
O hotel fica ao lado de uma gigantesca loja do El Corte Inglés (que dá 10% de desconto aos hóspedes do hotel) e bem pertinho da estação ferroviária.
Transporte em Girona
Na Carrer de Barcelona, na Cidade Nova, param os ônibus da Linha 2 (1,30 Euro) que levam até o Centro Histórico de Girona (parada Correos).
Na Carrer de Barcelona, na Cidade Nova, param os ônibus da Linha 2 (1,30 Euro) que levam até o Centro Histórico de Girona (parada Correos).
Madri
Andaluzia: Cádis, Córdoba, Granada, Ronda e Sevilha
Castela e La Mancha: Toledo
Castela e Leão: SegóviaCatalunha: Barcelona, Girona e Tarragona
Comunidade Valenciana: Valência
Galícia: Santiago de Compostela, Caminho de Santiago e cidades da rota
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