Rambla do Raval, Barcelona |
Na minha primeira visita à capital da Catalunha, minha hospedagem em Barcelona foi em um apartamento no Raval, que aluguei junto com duas amigas, para passar a virada do ano (de 2007 para 2008).
Foi uma experiência bem interessante. O Raval, na época, estava meio na moda, passando por um processo de revitalização. Hoje eu já não recomendaria essa opção, pois o Raval está complicadinho, no quesito segurança. Continua sendo um lugar bacana pra farrear, mas com certos cuidados.
Mas vale a experiência de hospedagem em Barcelona em apartamento alugado. Os preços dos hotéis na cidade são muito altos e essa opção, além de sair mais em conta, permite também uma estadia mais próxima da vida real.
Veja como foi a minha experiência de hospedagem em Barcelona em um apartamento no Raval:
Barcelona: como é ficar hospedada no Raval
O bairro do Raval foi a moradia das a famílias operárias na época da Revolução Industrial, quando foi construída a maioria dos seus edifícios atuais. É uma vizinhança que entrou em decadência e já foi muito barra pesada, experimentou um ensaio de gentrificação, nas duas últimas décadas, e começa a ficar meio esquisito de novo.
O Raval é famoso pela boemia, um dos bairros mais procurados pelos notívagos em Barcelona. O bairro fica no miolo histórico de Barcelona, na margem Oeste das Ramblas. Seus limites oficiais são os bairros do Eixample (ao Norte), o Bairro Gótico (a Leste), Sant Antoni (a Oeste) e Poble Séc (ao Sul).
Veja essa dica: O que fazer nas Ramblas de Barcelona
O Raval já foi apontado como uma das áreas de maior densidade demográficas do planeta e jamais correu o risco de ser considerado uma das vizinhanças mais seguras.
Mas tem lá seu charme: ruas muito estreitas, ensanduichadas entre prédios antigos de quatro ou cinco pavimentos, um lendário passado de boemia e áreas ainda barra-pesada, enquistadas numa vizinhança pobre (para padrões europeus). Tem um certo ar de Romance Noir — mas se alguém sair de repente detrás de um poste, corra, porque não será Humphrey Bogart.
A área já foi conhecida com "Barrio Chino", bairro chinês — não exatamente por causa dos chineses, muito escassos por aqui, mas por conta da decadência barra-pesada que costumou-se associar às Chinatowns mundo a fora.
No começo do Século 21, porém, o Raval estava bombando de bares, restaurantes e opções descoladas de hospedagem.
➡️ Minha vizinhança no Raval
Nossa vizinhança era bem tranquila, majoritariamente composta de imigrantes, principalmente paquistaneses, indianos e marroquinos.
Quase em frente ao apartamento que alugamos, havia uma mercearia/delicatessen russa onde era possível comprar rigorosamente todo o necessário para um banquete czarista — desde que, é claro, se conseguisse ler os rótulos em alfabeto cirílico.
➡️Como foi o aluguel do apartamento no Raval
O charme era o pátio que se debruçava para os telhados, bom lugar para relaxar no fim do dia, no frio ameno do inverno catalão.
A primeira impressão com a empresa FeelBarcelona, que ainda funciona. Tratamos tudo pela internet, fizemos o depósito para garantir a reserva com cartão de crédito e marcamos a hora de chegada, para que um funcionário da empresa nos aguardasse no apartamento com as chaves.
E aí tivemos um pequeno susto: nosso voo pousou no Aeroporto El Prat de Barcelona por volta das 23 horas. Uma hora depois, conforme combinado, desembarcamos do táxi em frente ao velho edifício no Raval, onde ninguém nos esperava.
O responsável da FeelBarcelona só chegou meia hora depois, o que nos deixou bem cabreiras, paradas na rua escura e deserta. Fizemos o restante do pagamento pela estadia na rua mesmo e recebemos as chaves.
➡️Como era nosso apartamento no Raval
Uma grossa porta, com cara de centenária — a chave de ferro tinha quase um palmo de comprimento — dava acesso ao um pequeno hall do edifício. Depois disso, é escada acima até o quinto andar.
Não tínhamos sido avisadas que não haveria elevador, mas em se tratando de Raval e Bairro Gótico, é sempre prudente não contar com essa comodidade.
Os degraus da escada, muito antigos, iam se retorcendo em um caracol bastante irregular, como se estivéssemos subindo uma torre meio desconjuntada. Mas, tirando a chatice de estar com a mala, tiramos de letra.
Nosso apartamento no Raval era bem arrumadinho: a cozinha americana equipada com as comodidades básicas, sala com TV e som, banheiro para contorcionistas (esfregar as costas no chuveiro pode resultar em sérias equimoses nos cotovelos).
Os dois quartos que se comunicavam diretamente com o terraço, onde havia mesinha e cadeiras, além das máquinas de lavar e secar roupa.
O Gato de Botero, na Rambla do Raval |
A permanência mínima para o aluguel, na semana anterior ao Ano Novo, era de sete dias, que era mesmo o tempo que queríamos ficar na cidade para explorar Barcelona e arredores.
Pagamos € 800 pela temporada, tarifa que, dividida por três, foi bem vantajosa, em comparação com os hotéis de Barcelona no mesmo período, onde, aliás, estava impossível encontrar quarto triplo.
Quando fechamos a reserva, fizemos um depósito equivalente a €200. O restante nós pagamos na chegada.
Ao fim da temporada, é feita uma vistoria no apartamento para conferir se há danos ao imóvel e coisas do gênero. Os objetos eventualmente quebrados serão cobrados. A dica, nesse caso, é repor o que for quebrado, para não deixar que a empresa arbitre o preço.
Eu quebrei um cinzeiro de vidro, comprei outro por €2, quando a tabela da empresa avaliava o item em €10. No dia do check-out, os hóspedes precisam estar prontos para deixar o apê ao meio dia, hora que chega a faxineira.
Atrações do Raval
Se você gosta de história e boemia, não pode deixar o Raval fora do seu roteiro em Barcelona. Eu já não tenho muita certeza se voltaria a me hospedar lá — voltar para o hotel tarde da noite talvez não fosse muito tranquilo — mas faço sempre questão de passear pelo bairro e bebericar em seus bares e tabernas despretensiosos e muito simpáticos.
As atrações do Raval vão muito além da boemia. Suas ruas muito estreitas, ocupadas por edifícios de quatro ou cinco andares — herança das moradias operárias do tempo da Revolução Industrial — são hoje o reduto mais multicultural de Barcelona, com muitas famílias imigrantes.
Veja também essas dicas: Barcelona: um passeio no Raval
Pra você ter uma ideia, no entorno do apartamento que alugamos na virada de 2007/2008, na Carrer de Marqués de Barbera, tinha a merceria russa que já mencionei, um café de uma família paquistanesa e outro de uma família marroquina.
Detalhe da fachada do Mercado de La Boqueria, nosso "vizinho" |
A atração mais conhecida do Raval é o legendário Mercado da Boqueria (La Rambla nº 91), uma perdição de possibilidades gastronômicas que virou uma visita obrigatória em Barcelona. O bonito Teatro Liceu (La Rambla nº 51 a 59) também está no território do bairro.
O meu museu-xodó na cidade, o Museu Marítimo de Barcelona, também fica no Raval, assim como o famoso Palau Güell (Carrer Nou de la Rambla nº 3 a 5), que foi reformado por Gaudí, e o antigo Hospital de la Santa Creu, do Século 15, que hoje abriga a Biblioteca da Catalunha (Carrer de l'Hospital nº 56).
Também estão entre as atrações famosas do bairro do Raval o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB, na Carrer de Montalegre nº 5), o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA, na Plaça dels Àngels nº 1) e a Filmoteca da Catalunha (Plaça de Salvador Seguí nº 1).
Nosso apartamento era na Carrer Marqués de Barbera. Essa rua é uma continuação da Carrer de Unió, que desemboca na Rambla na altura do Teatre de Liceu, onde há uma estação do metrô.
Do apartamento até as Ramblas eram só três quadras, muito pertinho do Mercado de la Boqueria. Não poderia ser mais prático...
O Teatro do Liceu, nas Ramblas, "quase na esquina" de casa |
Nossos dias e noites no apartamento foram bem tranquilos. Mesmo a rua deserta, à noite, não inspirava qualquer temor.
Tudo mudou, porém, na noite do Ano Novo, quando todos os ladrões de Barcelona pareciam estar em serviço.
Minhas duas companheiras de viagem sofreram um assalto com violência física, voltando da noitada: um sujeito saiu da esquina mal iluminada e jogou as duas no chão, conseguindo levar a bolsa de uma delas.
Eu escapei desse tranco traumático porque já estava em casa, bastante chateada por ter tido a carteira batida pouco antes da meia noite, no espaço congestionado de um pub da Carrer de Ferrán, no Bairro Gótico. Foi um lance de mestre: alguém passou arrastando a minha bolsa, quando eu puxei de volta, já estava aberta e sem a carteira. Coisa de 10 segundos.
As duas experiências me deixaram com a sensação de que o problema era muito mais a noite de Revellion, cheia de turistas dando bobeira nas ruas, do que propriamente o Raval.
No dia seguinte, quando fomos prestar queixa na delegacia, era de chorar de rir o tamanho da fila de turistas assaltados, alguns ainda trazendo as marcas roxas e arranhões resultantes da aventura. Pra vocês terem uma ideia, esperamos cerca de duas horas e meia para sermos atendidas pelos policiais.
Moral da história
Gostei da experiência de alugar um apê em Barcelona, acho o Raval um bairro bem simpático e que deve ser considerado, mas nunca mais a cidade me verá durante as comemorações do Ano Novo 😊.
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A Europa na Fragata Surprise
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