8 de outubro de 2017

Como organizar uma visita ao Canal do Panamá

Eclusas de Miraflores, no Canal do Panamá
Com mais de 100 anos de funcionamento, o Canal do Panamá é uma obra impressionante

Se o Canal do Panamá fosse uma obra contemporânea, já seria impressionante: uma passagem de cerca de 80 km, aberta artificialmente, cortando um continente e unindo dois oceanos.

Agora, lembre que essa construção foi inaugurada em 1914, quando nós mulheres ainda usávamos espartilhos e apenas as visionárias sonhavam com o direito de votar.

A obra de engenharia que fez uma revolução no comércio e transporte mundiais é a atração mais famosa do país e a visita ao Canal do Panamá continua sendo o passeio mais procurado pelos turistas.

É um programa que pode ser feito até mesmo por quem tem apenas algumas horas no Panamá, durante uma conexão no Aeroporto de Tocumen —, que, diga-se de passagem, é um hub cada vez mais usado por brasileiros a caminho de diversos destinos nas Américas.

Eu estive no Canal do Panamá em meu primeiro dia de viagem pela América Central e gostei muito da visita.

Neste post eu conto direitinho como foi a experiência. Aproveitando o que já tinha lido com o que descobri por lá (eu tive um ótimo guia) também conto um pouco da história e do funcionamento do Canal do Panamá. Assim, você já chega lá muito bem informada 😊.


Visita ao Canal do Panamá


Navio atravessando as Eclusas de Miraflores, no Canal do Panamá
Cargueiro atravessa a Eclusa de Miraflores, no Canal do Panamá


Um pouco da história do Canal do Panamá
Usando um sistema de eclusas para elevar os navios, compensando o desnível do terreno — a parte mais alta do canal, o Lago Artificial de Gatún, está 26 metros acima do nível do mar — o Canal do Panamá é realmente um colosso e uma passagem estratégica para o comércio mundial.

Novamente, imagine como eram as travessias do Atlântico para o Pacífico, antes dele, feitas pela perigosíssima rota do Cabo Horn, na pontinha mais austral da América do Sul, com suas ondas gigantescas e condições climáticas extremas. Essa era uma aventura que podia consumir meses de navegação.

Museu do Canal do Panamá
6% do comércio mundial passam pelas três eclusas (esq) do Canal do Panamá todos os anos

Através do Canal do Panamá, a troca de oceano dura entre 8 e 10 horas, apenas.

Uma visita às Eclusas de Miraflores, a parte do Canal do Panamá que está preparada para receber os turistas, é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco do contexto da construção e da operação do canal.

Eclusas de Miraflores, Canal do Panamá
Olha o mesmo navio da foto anterior concluindo a passagem

A história do Canal do Panamá é a história de uma obra que cobrou pelo menos 30 mil vidas para ser tirada do papel.

Os trabalhadores encarregados de escavar o canal, muitos trazidos das ilhas do Caribe, sucumbiam contaminados pela febre amarela e outras doenças tropicais e também em função das péssimas condições de vida.

Museu do Canal do Panamá
A escavação do Canal do Panamá custou a vida de pelo menos 30 mil trabalhadores

O Canal do Panamá também teve impactos profundos na autonomia panamenha, já que por quase 100 anos a área do canal foi um enclave norte-americano no coração do país.

A primeira tentativa de construir o Canal do Panamá foi deflagrada em 1880, uma iniciativa do francês Ferdinand de Lesseps, que 11 anos antes havia maravilhado o mundo com a inauguração do Canal de Suez, no Egito, passagem que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho.

Como empreendedor independente — sem suportes governamentais — Lesseps arrebanhou investidores privados em diversas partes do mundo para colocar a obra do Canal do Panamá em andamento.

Travessia do Canal do Panamá, Eclusas de Miraflores
Para atravessar o canal, os navios deveriam ter as dimensões ditadas pelo Padrão Panamax (máximas de 289 metros de comprimento, 32,3 metros de largura e 12 m de profundidade, respeitando a capacidade das eclusas). Com a ampliação inaugurada em 2016, as novas eclusas recebem embarcações com até 48 metros de largura e 18 metros de profundidade

A aposta de Lesseps era repetir a fórmula do Canal de Suez: cavar aterra até que o leito do canal ficasse abaixo do nível das duas grandes massas de água separadas pelo Istmo do Panamá e os dois oceanos se encontrassem. Ele não contava com o solo rochoso, com os mosquitos e com a diferença de elevação dos terrenos.

Os investidores não tiveram paciência. Depois de 10 anos e mais de 25 mil mortos, a escavação francesa foi abandonada.

Foi aí que entraram em cena os norte-americanos. Eles mandaram seus navios de guerra para apoiar uma insurreição panamenha — desde o fim do domínio espanhol, o atual Panamá era parte da Colômbia.

No dia seguinte à independência panamenha, foi assinado o contrato de cessão do território para a construção do Canal do Panamá, que se tornou possessão dos EUA.

Mirantes turísticos da Eclusa de Miraflores, no Canal do Panamá
Os mirantes da Eclusa de Miraflores ficam lotados de visitantes 

Durante quase um século, o Canal do Panamá só cresceu em movimento: em 1914, cerca de 1.000 navios fizeram a travessia entre Atlântico e Pacífico por lá. Hoje, são mais de 15 mil embarcações por ano atravessando o canal.

Enquanto isso, toda vez que os panamenhos olhavam para o Cerro Ancon, o morro mais alto da Cidade do Panamá, viam a bandeira dos EUA tremulando lá em cima.

Foram os tratados firmados entre os presidentes Omar Torrijos e Jimmy Carter, em 1977, que asseguraram a passagem do controle do Canal ao Panamá para o Estado panamenho, processo que só foi concluído em 1999.

Centro de Visitantes da Eclusa de Miraflores, Canal do Panamá
O Centro de Visitantes de Miraflores tem restaurantes, lanchonetes e um museu


Como funciona o Canal do Panamá
Falando agora até que a coisa parece simples: para atravessar os cerca de 80 km do Canal do Panamá, os navios contam com o auxílio de três conjuntos de eclusas — Pedro Miguel e Miraflores, do lado do Pacífico, e Gatún, do lado Atlântico.

As eclusas são como elevadores usados para vencer desníveis de cursos d’água, tornando-os navegáveis.

Gráfico explica os funcionamento das eclusas no Museu do Canal do Panamá
No museu do Canal do Panamá, a exposição ajuda a compreender o funcionamento da via interoceânica

A embarcação chega ao trecho onde há o desnível e é colocada em uma espécie de tanque que se fecha por meio de comportas, que são portões muito fortes para resistir à pressão da água.

Esses “tanques”, as eclusas, são preenchidos com água, caso o navio precise subir, ou têm o volume de água reduzido, caso a embarcação precise descer.

Quando o navio está na mesma altura do curso d’água que pretende singrar, as comportas dianteiras são abertas e ela segue adiante, sem solavancos.

Canal do Panamá


Eu já tive a experiência de estar a bordo de um barco que atravessou uma eclusa, no Rio Douro, navegando entre Peso da Régua e Pinhão, em Portugal. Veja como foi:
Peso da Régua - um passeio pelo Rio Douro


No caso do Canal do Panamá, o desnível a ser vencido, para cima e para baixo, são os 26 metros de altitude, em relação nível do mar, registrado no ponto mais alto do percurso, no Lago de Gatún.

Para isso são usadas as eclusas, que fazem essa elevação em três etapas: 10 metros em Pedro Miguel, mais duas vezes oito metros em Miraflores. Em Gatún, esse processo de subir ou descer é feito em três etapas.

Travessia do Canal do Panamá nas Eclusas de Miraflores


As embarcações são guiadas ao interior das eclusas por pequenos aparelhos ferroviários que percorrem as margens do canal, aos quais os navios estão fortemente amarrados.

Durante toda a travessia do Canal do Panamá, o comando dos barcos, veleiros, cargueiros ou cruzeiros é obrigatoriamente entregue a um prático do canal — os capitães são, temporariamente, “depostos” de seus comandos.

Para atravessar o Canal do Panamá, é preciso pagar “pedágio”, uma taxa que varia de acordo com a carga transportada. Em 2010, o navio de cruzeiro Norwegian Pearl estabeleceu um recorde, ao pagar US$ 375 mil para fazer a travessia.

O valor mais baixo já pago pela travessia do Canal do Panamá ficou por conta do aventureiro norte-americano Richard Halliburton, que em 1928 teve que depositar US$ 0,36 na caixinha para atravessar o canal a nado — proezas atléticas desta natureza atualmente estão proibidas.

Canal do Panamá - Eclusas de Miraflores


Como é a visita ao Canal do Panamá
A primeira coisa que você tem que saber é que está indo visitar uma obra de engenharia que circunstancialmente foi convertida em atração turística.

Não espere paisagens e belezas. Esse é um passeio para mentes curiosas, não para contempladoras de pinacotecas (tipo euzinha aqui).

Mas ainda que o Canal do Panamá não ofereça cenários idílicos, eu gostei muito da visita e recomendo.

Centro de Visitantes do Canal do Panamá
Um documentário exibido no Centro de Visitantes ajuda a compreender a construção, a história e o funcionamento do Canal do Panamá


➡️ Outras formas de ver o Canal do Panamá
Algumas empresas oferecem sobrevoos de helicóptero na área do Canal do Panamá, para quem está com um orçamento bem folgado.

Também é possível (e mais barato), navegar um trecho do Canal do Panamá ou mesmo realizar a travessia completa. Agregadores como Get Your Guide e Viator oferecem esses passeios, a partir dos US$ 180.

Centro de Visitantes das Eclusas de Miraflores no Canal do Panamá
Centro de Visitantes das Eclusas de Miraflores

➡️ Horário e preços da visita ao Canal do Panamá
As eclusas de Miraflores, onde é feita a visitação ao canal, estão a 33 km do Aeroporto Internacional de Tocumen e a 25 km do Centro da Cidade do Panamá. 

Essas eclusas estão abertas ao público diariamente, das 8h às 18h (a bilheteria fecha às 17:15). A entrada para estrangeiros custa US$ 15. Crianças menores 12 anos pagam US$ 10.

O Centro de Visitantes das Eclusas de Miraflores tem um pequeno museu sobre a construção do Canal do Panamá e o funcionamento do sistema.


Nos quatro andares das Eclusas de Miraflores há terraços de observação para ver o sobe e desce dos navios.

Não deixe de assistir ao filme que explica o mecanismo de elevação das embarcações e dá uma ideia geral sobre o funcionamento e importância do canal. As sessões de exibição do documentário começam a cada meia hora, em inglês, sempre na hora cheia, e em espanhol, 30 minutos depois.

Restaurante no Centro de Visitantes das Eclusas de Miraflores, Canal do Panamá
Restaurante do Centro de Visitantes das Eclusas de Miraflores

O Centro de Visitantes das Eclusas de Miraflores também dispõe de lanchonetes e de um restaurante, o Atlantic & Pacific Co., que serve almoço em sistema de bufê de segunda a sábado, o brunch, das 11:30h às 16:30h.

➡️ Como chegar às Eclusas de Miraflores
O melhor jeito é ir de carro. Simulei corridas de Uber do bairro de El Cangrejo, onde estava hospedada, até o Centro de Visitantes do canal e o preço mais alto que encontrei foi de US$ 11.

O tempo estimado entre o Centro da Cidade do Panamá e as Eclusas de Miraflores variava imensamente, de acordo com as condições do trânsito, mas nunca eram inferiores a 40 minutos.


Museu do canal do Panamá
Réplica em miniatura das máquinas especialmente criadas para a escavação do Canal do Panamá expostas no museu do Centro de Visitantes

➡️ Como visitei o Canal do Panamá
Fui ao Canal do Panamá como parte do roteiro oferecido pela Guia Panamá, agência do brasileiro Roque Freitas. Ele me recebeu no Aeroporto de Tocumen e já seguimos para o canal, por volta das 7:30h, fugindo dos engarrafamentos.

Levamos cerca de 1 hora nesse trajeto. O pacote completo — recepção no Aeroporto, visita ao canal e city tour, com cerca de 7 horas de duração, custou US$ 120 e eu recomendo.

Museu do Canal do Panamá
O Canal do Panamá corta uma área de floresta tropical riquíssima em vida silvestre

O passeio da Guia Panamá é uma ótima ideia também para quem vai apenas fazer uma escala longa no Panamá e não quer ficar mofando no aeroporto.

Como o tráfego na capital panamenha é infernal, é bom checar com Roque se o tempo de espera que você terá em Tocumen é suficiente para ir até o canal. Ele é muito profissional e atencioso e tenho certeza que vai montar um roteirinho que caiba na sua janela entre voos.

Todas as dicas do Panamá na Fragata Surprise




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