Excursão a Angra dos Reis com passeio de escuna: as locações são fantásticas, mas o roteiro, a direção e a trilha sonora não são legais
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Nesse tipo de passeio, o turista é apanhado no hotel, viaja de ônibus ou micro-ônibus até Angra dos Reis, onde embarca em uma escuna que faz algumas paradas em praias da região.
O melhor momento: parada para banho de mar na Freguesia de Santana, na Ilha Grande |
Embarcações fundeadas na entrada da Lagoa Azul, na Ilha Grande |
Veja como foi a excursão a Angra dos Reis e Ilha Grande:
O porto turístico de Angra dos Reis |
Quando falo em "turismo de massas", não estou falando de um turismo barato, afinal pagar R$ 170 por um dia de passeio não chega a ser uma pechincha.
Contratamos a excursão a Angra dos Reis e Ilha Grande pela internet, com uma agência chamada Rio Máximo.
Contratamos a excursão a Angra dos Reis e Ilha Grande pela internet, com uma agência chamada Rio Máximo.
No Porto Turístico de Angra dos Reis é comum encontrar embarcações oferecendo passeios. À direita, o charme da garça sobre a coberta de uma escuna |
É preciso depositar 50% do valor da viagem para confirmar a reserva e, se o restante também for pago em dinheiro, há um desconto de R$ 20 no preço final.
A partida do grupo para Angra dos Reis é bem cedinho. Às 7 da manhã já é preciso estar a postos, esperando o transporte.
A partida do grupo para Angra dos Reis é bem cedinho. Às 7 da manhã já é preciso estar a postos, esperando o transporte.
A paisagem da Baía da Ilha Grande é sempre um encanto |
A empresa foi pontual e na hora combinada já estávamos acomodadas (eu, minha irmã, Simone, e minha amiga Monica) no micro-ônibus que nos levou a Angra.
E é exatamente aí que começam os problemas, já que o veículo expressa muito mais o prefixo (micro) que o substantivo (ônibus), obrigando os passageiros a viajarem duas horas com os cotovelos bem coladinhos às costelas.
Cerca de uma hora depois da passagem por Muriqui, chegamos ao Cais Estação Santa Luzia, em Angra dos Reis, para o embarque na escuna e as nossas esperanças de um relaxado dia al mare começam a desmoronar.
Não entendam mal: como usuária frequente do transporte coletivo, estou super acostumada a viajar de pé (se bem que a rota de ônibus que faço diariamente em Brasília, a caminho do trabalho, dificilmente me obriga a isso).
Tentei identificar entre os passageiros alguém que estivesse com cara de estar curtindo o barulho e juro que não consegui. Estava todo mundo ocupadíssimo berrando no ouvido de alguém, na tentativa de estabelecer uma conversa...
➡️ Roteiro da excursão a Angra dos Reis
E é exatamente aí que começam os problemas, já que o veículo expressa muito mais o prefixo (micro) que o substantivo (ônibus), obrigando os passageiros a viajarem duas horas com os cotovelos bem coladinhos às costelas.
Depois de uma hora de percurso, o grupo tem uma parada na altura de Muriqui, distrito de Mangaratiba, para um café, toalete e uma esticadinha nas pernas.
A essa altura da viagem, já estamos margeando a estonteante paisagem da Baía de Ilha Grande pela Rodovia Rio-Santos, trecho da BR-101 que considero a nossa Costiera Amalfitana.
A essa altura da viagem, já estamos margeando a estonteante paisagem da Baía de Ilha Grande pela Rodovia Rio-Santos, trecho da BR-101 que considero a nossa Costiera Amalfitana.
A entrada da Lagoa Azul |
Apesar do aperto no micro-ônibus, eu ainda estava bem entusiasmada com a perspectiva do passeio de escuna e das paradinhas estratégicas para alguns mergulhos.
Cerca de uma hora depois da passagem por Muriqui, chegamos ao Cais Estação Santa Luzia, em Angra dos Reis, para o embarque na escuna e as nossas esperanças de um relaxado dia al mare começam a desmoronar.
O roteiro das excursões a Angra com passeio de escuna prevê um total de duas horinhas de paradas para banho de mar |
A embarcação é compartilhada com vários outros grupos — no nosso caso, segundo a organização do passeio, éramos 174 pessoas, entre passageiros e tripulantes, em uma escuna com alegada capacidade para 180.
Sem dúvida, havia coletes salva-vidas suficientes. O que não tinha era espaço pra todo mundo sentar.
Não entendam mal: como usuária frequente do transporte coletivo, estou super acostumada a viajar de pé (se bem que a rota de ônibus que faço diariamente em Brasília, a caminho do trabalho, dificilmente me obriga a isso).
Freguesia de Santana: só meia hora nessa prainha gostosa |
Mas quando me proponho a um passeio de quase sete horas, eu faço questão de poder levantar de vez em quando, sem medo de perder o lugar, e de ter outra acomodação para a bolsa que não sejam os meus joelhos.
O desconforto espacial, porém, era nada, perto da tortura sonora a que são submetidos os passageiros: em vez do pio das gaivotas e do barulho do mar, o que a gente ouve é uma música dos infernos (não faltou nem a “sofrência” de Pablo), tocada em um volume que só pode ter sido programado para traumatizar a fauna marinha da região ao ponto da extinção eutanásica.
O desconforto espacial, porém, era nada, perto da tortura sonora a que são submetidos os passageiros: em vez do pio das gaivotas e do barulho do mar, o que a gente ouve é uma música dos infernos (não faltou nem a “sofrência” de Pablo), tocada em um volume que só pode ter sido programado para traumatizar a fauna marinha da região ao ponto da extinção eutanásica.
Mar e montanhas: adoro |
Depois de umas quatro horas de derretimento cerebral compulsório, pedimos para reduzir um pouquinho dos decibéis e a resposta de um dos organizadores do passeio foi que “as pessoas pagaram para ouvir música”.
Tentei identificar entre os passageiros alguém que estivesse com cara de estar curtindo o barulho e juro que não consegui. Estava todo mundo ocupadíssimo berrando no ouvido de alguém, na tentativa de estabelecer uma conversa...
➡️ Roteiro da excursão a Angra dos Reis
O passeio tinha três paradas previstas, a primeira na Ilha de Cataguases (de 30 a 40 minutos), a segunda na Lagoa Azul, já na Ilha Grande (30 a 40 minutos) e, por fim, a pausa para o almoço na Praia de Japariz, também na Ilha Grande, onde deveríamos ficar uma hora.
Fora essas duas horinhas de refresco, o resto da viagem é passada no aperto barulhento da escuna.
Fora essas duas horinhas de refresco, o resto da viagem é passada no aperto barulhento da escuna.
Fila para reembarcar, depois do almoço |
Como bateu o vento Sudoeste, a programação foi alterada e acabamos parando apenas na entrada da Lagoa Azul (não vimos nem a cara do famoso point de mergulho) e na Freguesia de Santana, uma prainha simpática.
A última parada em Japariz foi cancelada devido ao toró bíblico que desabou e levou a assembleia de passageiros a pedir pra voltar para Angra.
A última parada em Japariz foi cancelada devido ao toró bíblico que desabou e levou a assembleia de passageiros a pedir pra voltar para Angra.
Nossa escuna ancorada na Freguesia de Santana |
O almoço, incluído no passeio, foi servido em um bar na praia, na Freguesia de Santana. Eu não esperava muito, mas, mesmo assim, consegui me irritar com a refeição, que consistia em feijão, arroz e pirão de peixe (a única opção efetivamente comestível) acompanhando frango e peixe empanados.
A bordo da escuna são servidas bebidas, basicamente cerveja (R$ 10) e refrigerantes (R$5) em lata.
Cada passageiro recebe uma comanda, onde é anotado seu consumo. Já no ônibus, a caminho de Angra, somos alertados de que a perda do papel implica o pagamento de R$ 200 (!!!). As opções de tira-gosto são salgadinhos de pacote (R$ 5). Também é possível alugar snorkel (R$10).
A bordo da escuna são servidas bebidas, basicamente cerveja (R$ 10) e refrigerantes (R$5) em lata.
Cada passageiro recebe uma comanda, onde é anotado seu consumo. Já no ônibus, a caminho de Angra, somos alertados de que a perda do papel implica o pagamento de R$ 200 (!!!). As opções de tira-gosto são salgadinhos de pacote (R$ 5). Também é possível alugar snorkel (R$10).
Superpopulação a bordo |
Lá pelas 16 horas, quando o temporal desabou, foi com um tremendo alívio que a unanimidade dos passageiros votou pelo retorno a Angra.
Ao contrário da maioria das escunas que passavam por nós, a nossa (chamada Ilha Grande) não dispunha de proteção lateral (plásticos transparentes) contra a chuva, o que tornou a jornada de volta ao cais um banho coletivo inapelável.
Ao contrário da maioria das escunas que passavam por nós, a nossa (chamada Ilha Grande) não dispunha de proteção lateral (plásticos transparentes) contra a chuva, o que tornou a jornada de volta ao cais um banho coletivo inapelável.
A paisagem é linda, mas encontre outro jeito de ir a Angra dos Reis e Ilha Grande |
Moral da história: não recomendo de jeito nenhum que você faça essa excursão a Agra dos Reis.
Lamento que as opções de turismo organizado no Brasil ainda estejam tão fortemente divididas entre o "exclusivo" (absurdamente caro) e o "acessível", frequentemente desdenhoso com o consumidor.
A parte boa é que cada vez mais a gente aprende a viajar de maneira independente, cuidando de nossas reservas, planejamento e tudo mais. Acredite, viajar por conta própria pode parecer mais caro e trabalhoso, mas é a forma que oferece a melhor relação custo-benefício para o turista.
Mais sobre o Litoral Sul do Rio
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Rio-Santos: a estrada é a viagem
Itaguaí: os últimos dias de uma enseada
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Lamento que as opções de turismo organizado no Brasil ainda estejam tão fortemente divididas entre o "exclusivo" (absurdamente caro) e o "acessível", frequentemente desdenhoso com o consumidor.
A parte boa é que cada vez mais a gente aprende a viajar de maneira independente, cuidando de nossas reservas, planejamento e tudo mais. Acredite, viajar por conta própria pode parecer mais caro e trabalhoso, mas é a forma que oferece a melhor relação custo-benefício para o turista.
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Vc é corajosa! Se embrenhar numa excursão dessas é um ato de coragem a ser louvado!
ResponderExcluirEu aprendi há tempos que viajar em excursão é furada e dentro do Brasil, furada e meia! Nosso país, infelizmente, não está preparado para o turismo. Uma pena. Com tantas belezas por aqui, seria ótimo que esse turismo de massa funcionasse, que esses day-trips dessem certo aqui como dão em tantos outros lugares do mundo, mas faltam profissionais capacitados e principalmente falta preocupação com o bem-estar do turista. Só se visa o lucro e isso é muito triste!
Obrigada por compartilhar conosco sua experiência, Cynthia!
beijos
Karla, as duas day-trips que tinha feito na vida, aqui no Brasil, tinham funcionado direitinho. Fui a Cânion de Xingó e a Mangue Seco e não tive queixas (eu tinha acabado de sofrer uma tentativa de assalto e decidi que não queria mais me arriscar sozinha, ao volante, naquela viagem).
ExcluirMas é como você falou: em geral, os viajantes são amontoados, já que quanto maior o número de passageiros, maior o lucro da excursão. Uma falta de respeito inacreditável.
Pra minha sorte, eu estava com duas ótimas companheiras de viagem e nós morremos de rir, apesar do perrengue :)
Oi Cyntia,
ResponderExcluirO mesmo ocorre em minha cidade. Fiz um passeio de escuna com meus pais e foi ótimo, outra pessoa fez em outro dia e foi horrível.
Como citado acima, se houvesse organização, todos ganhariam. É lamentável que no Brasil se pense apenas no lucro imediato.
Parabéns pelo texto!
Obrigada, Vaneza :) Acho que a mania do lucro imediato nem é monopólio nosso, mas é muito chata a falta de respeito com o consumidor.
ExcluirObrigada, Vaneza :) Acho que a mania do lucro imediato nem é monopólio nosso, mas é muito chata a falta de respeito com o consumidor.
ExcluirCyntia,
ResponderExcluirLamento que você tenha tido uma experiência tão desagradável neste passeio à Angra dos Reis. Como você sabe, sou guia no Rio de Janeiro e este passeio é um dos que às vezes faço. Na verdade, só fiz duas vezes, até agora. A primeira com um grupo de 20 médicos húngaros e a segunda com um grupo de estudantes do Rio Grande do Sul. As duas experiências foram boas, pois informamos aos passageiros como o tour é operado, frisando a questão do coletivo. E isso você sabe, passeios coletivos são sempre diferentes de passeios privados. Digo isso, porque faço muito tour privativo com pequenos grupos. E aí tudo muda, mas claro, isso tem um preço. Porém, essa é uma situação que ocorre mundo afora. Estive na Turquia em setembro/2014 e fiz um cruzeiro pelo Bósforo num barco com mais de 200 pessoas e fiquei numa cadeira disputada a tapas...
Por fim, espero que as empresas repensem a operação de determinados tours. Vou mostrar seu post para meus colegas guias, principalmente, àqueles que fazem este tour. Abraço
Jorge, a questão não é compartilhar a escuna com outros grupos. A questão é a superlotação e o desconforto. Quando se leva pessoas para passar sete horas ou mais embarcadas, está claro que a escuna não é um mero transporte, mas o passeio em si.
ExcluirEu fui de Nápoles a Pompeia e Herculano em um trem de cercanias não lotado que quase não tinha lugar para eu pisar. Só que esse não era o passeio, era o transporte que eu escolhi para chegar, de forma rápida e barata, às atrações que ia visitar. Se eu tivesse que passar sete horas em um vagão, pagando caro e tentando ver as atrações pela janelinha, ia odiar, né?
"trem de cercanias TÃO lotado"
ExcluirCyntia, já acompanhava seu blog "de longe" e hoje resolvi dar uma aprofundada melhor, o que me permitiu descobrir preciosidades aqui. Parabéns pelo capricho em cada post. Sua escrita é deliciosa e seria capaz de ficar o dia todo lendo seus escritos.
ResponderExcluirSobre o "turismo de massa", eu concordo plenamente. Não sei de onde surgiu esse conceito de que muita gente, som alto, desrespeito à natureza e às realidades locais pode ser vendido como produto. Sempre defendi a ideia de que o viajante precisa se adequar a realidade que ele está e sou contra esse turismo que obriga a comunidade visitada a ter que se adequar pra receber o turista. O turismo como consumo (e não como experiência) me incomoda deveras.
Mais uma vez, parabéns pelo blog!
Oi, Ana, obrigada!!
ExcluirTambém sou bem grilada com a ideia de turismo de consumo, mas acho que nem sempre a gente consegue escapar...
Bjo
Em BONITO / MS fiz um passeio pelo RIO FORMOSO num barco. Esperando ouvir o cantar dos passarinhos juntamente com o cantos dos pássaros, ouvi foi o motor do barco o tempo todo. O lugar é maravilhoso, mas esse barulho de motor acabou com a viagem. Eles não pensam em nada , querem é lucro$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$
ResponderExcluirEstamos ya en 2023 y los problemas son iguales, me embarque en el mismo viaje y que lastima me ocurrio lo ismo que usted, mala experiencia y la musica a todo volumen sin poder disfrutar de una conversacion, o de informacion sobre los lugares que visitamos. Lo unico que disfrute fue que mi pareja me acompaño y pasamos el dia juntos pero por lo demas deja mucho que desear, que mal que vengo a leer tu post luego del viaje.
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