3 de outubro de 2010

Paraty: arco-íris nas janelas


Rua do Centro Histórico e Paraty alagada pela maré cheia
Maré cheia em Paraty

Música deste post: Feeling Groovy, Simon & Garfunkel

Não me encanto tanto pelas “grandes obras”: gosto é de descobrir os pequenos detalhes, o que é único em cada lugar. O Centro Histórico de Paraty está cheio de detalhes que são um deleite. O resultado lírico (possivelmente acidental) de um rigor burocrático inventado nos tempos da Colônia.

As construções dos 33 quarteirões que compõem o núcleo histórico de Paraty não foram desenhadas ao acaso. Elas seguiram regras muito rígidas, ditadas na época da fundação da cidade. E descumprir o Código de Posturas, no Século 18, dava multa e até cadeia.

Símbolos maçônicos nas fachadas de Paraty
Símbolos maçônicos nas fachadas de Paraty
Os símbolos maçônicos são uma das marcas das fachadas de Paraty


Essa cidade colonial rigorosamente planejada poderia ter resultado monótona. Mas pra quê existem cores e janelas? São elas — especialmente as janelas, iguais em desenho e tão únicas em personalidade — que se encarregam de expressar a individualidade de cada casinha de Paraty.

Diz o provérbio manjado que os “olhos são as janelas da alma”. Para mim, as janelas são os olhos das construções. Além de expressarem a idade, procedência e identidade de um edifício, em Paraty elas contam muito sobre a vida interior daquelas casinhas.

Janelas de Paraty
Janelas de Paraty
A rigidez do código de construções do Século 18 vira lirismo nas janelas de Paraty


O arco-íris das janelas de Paraty é um livro de história, sociologia e de memórias pessoais e intransferíveis de cada morador. Bora passear por esse encanto?


Arquitetura colonial em Paraty


Casa colonial de Paraty
Casa colonial de Paraty
casa colonial em Paraty

Mais de dois séculos antes de Brasília, Paraty é resultado de um planejamento urbano colonial que expressa bem as necessidades da época e do lugar. 

Nada de casas de madeira, nem de telhados de palha, para evitar incêndios. E todas pintadinhas de branco, por favor.

As ruas obrigatoriamente tinham que ter traçado levemente curvo, para impedir o "vento encanado" (acreditava-se que o vento provocava doenças).

Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty

No Século 18, os construtores de Paraty sabiam conviver com as marés


E se a maré cheia invade o terreno, vamos tratar de conviver com ela: em vez de barragens, ruas com piso inclinado, formando uma vala no centro — que recebe a água do mar — e casas construídas acima do nível da rua.

Tudo proporcional, simétrico, harmônico e caiado. As casas de Paraty são brancas, mas não são chatas: o arco-íris de suas janelas ilumina tudo e nos lembra que são incontáveis as possibilidades de cores e quase infinitos os tons da alegria.

Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty

Um pouquinho da história de Paraty
Localizada a 258 km do Rio de Janeiro (uma bela viagem pela estrada cênica Rio-Santos), Paraty era território do povo Tamoio antes dos primeiros europeus aparecerem por lá, no Século 16. (Se você leu os relatos de Hans Staden — eu super recomendo — vai lembrar que o pirata alemão passou uma temporada naquela região.)

A pequena povoação que começou a vingar no Século 17 tornou-se a Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty, mas só entraria para valer no mapa a partir do início do século seguinte, como peça importante no Ciclo do Ouro.

Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty

Era pelo porto de Paraty que entravam as mercadorias necessárias a movimentar a vida e a economia mineradora nas Minas Gerais. Uma antiga trilha indígena foi pavimentada para assegurar o transporte. E assim nasceu o Caminho do Ouro, hoje uma rota turística das mais interessantes do País.

Foi o crescimento e a prosperidade da vila que levou seus governantes a baixar o Código de Obras que desenhou a cara do Centro Histórico de Paraty que vemos hoje.

Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty

Não esqueça o turismo responsável
Nem tudo é idílico em Paraty. Depois do Ciclo do Ouro, o porto da cidade teve um papel de destaque no tráfico de africanos trazidos para a escravidão nas fazendas de café do Vale do Paraíba.

Hoje, enquanto o Centro Histórico de Paraty parece um pequeno paraíso, a maioria dos 50 mil habitantes da cidade vive uma realidade bem comum neste país tão desigual — e bem distante das casinhas encantadas do Século 18.

Centro Histórico de Paraty
Lojas no Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty

As populações caiçara, indígena e quilombola da região são as que mais sofrem com a pressão do turismo e da especulação imobiliária.

Não perca isso de vista quando for passear em Paraty. Siga aqueles mandamentinhos básicos do turismo responsável: cuide da natureza, mas também das pessoas. Procure contratar os serviços e consumir produtos locais, especialmente dos pequenos. São muitos os guias de turismo, barqueiros (que alugam traineiras para lindos passeios) e outros profissionais.

Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty
Centro Histórico de Paraty

Procure também conhecer as manifestações culturais e o artesanato da região. Eu me acabei no belíssimo artesanato caiçara que encontrei em Paraty.

Veja as dicas práticas de Paraty no próximo post




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