Piazza Plebiscito, no Centro Histórico de Nápoles. No
alto, o Castel Sant'Elmo, no bairro do Vomero, tremendo mirante para a
cidade |
Tem muito o que fazer em Nápoles — atrações de primeiríssima linha. A cidade tem uma beleza arrebatadora, personalidade forte (herança de um passado cheio de aventuras), culinária deliciosa e o sotaque mais sedutor que já escutei.
Nápoles vista do Vomero, com o Vesúvio ao fundo |
Quando alguém diz que Nápoles é "feia", "suja" e "perigosa" sou capaz de partir para a briga.
Mas meu melhor desagravo a Nápoles é contar os motivos da minha paixão por ela. Veja o que fazer em Nápoles, aproveite a cidade e depois me diga se não tenho razão:
Casarões do Centro Histórico de Nápoles, uma cidade de cores
e emoções fortes |
Os vicos (becos) estreitíssimos do Centro Storico de Nápoles, as ladeiras e escadarias dos Quartieri Spagnoli, as piazettas misteriosas, perdidas entre fachadas seculares (e que a gente nunca mais encontra, quando tenta voltar) estão lá de cara lavada.
Por toda parte a gente vê as marcas do tempo, da fuligem dos escapamentos e do uso cotidiano. Não estão no formol, fazem parte da vida da cidade.
Os casarões e palácios da Via Toledo são uma herança da
dominação espanhola e aragonesa em Nápoles |
Se você conseguir enxergar além da pintura descascada das fachadas, da eventual pilha de lixo deixada pela última greve do serviço de limpeza e do trânsito infernal de Nápoles, vai ganhar uma paixão de cidade para toda a vida.
Comece deixando para alugar carro, se for o caso, na hora de ir embora de Nápoles.
Quanto à segurança, só posso dizer que sempre fui a Nápoles sozinha, andei a pé por toda parte (inclusive tarde da noite) e jamais me senti ameaçada ou desconfortável.
A imponência do vulcão e o azul profundo da Baía de Nápoles compõem uma cena extasiante e só mesmo a cidade que a lenda garante ter sido fundada por Ulisses, o herói da Odisseia, poderia entrar nesse quadro sem destoar.
Nápoles, vista do alto, faz a alma da gente flutuar. Outro ponto de observação espetacular é o bairro do Vomero, especialmente no mirante que fica em frente às muralhas do Castel Sant'Elmo.
Como chegar ao Vomero e ao Posilipo
Para chegar ao Vomero, o jeito mais fácil é usar o funicular, meio de transporte bem popular e útil em Nápoles, a partir do Centro Storico.
Castel Sant'Elmo, no Monte Vomero |
(Funicular parece um bondinho puxado a cabo, para o transporte em encostas, que é chamado de plano inclinado no Brasil.)
Giulia, dona do hostel onde me hospedei, me falou do ônibus C31, que liga o Vomero ao Posillipo, mas eu não experimentei o serviço.
Da estação do Funicular Centrale, no Vomero, as placas de sinalização para pedestres indicam direitinho o caminho até o Castel Sant'Elmo |
Castel Sant'Elmo
Via Tito Angelini nº 22, Vomero
É bem fácil de chegar ao Castel Sant'Elmo. Basta seguir as placas indicativas que marcam o caminho, a partir das duas estações de funicular do Vomero. Abre diariamente, das 8:30h às 19:30h e a entrada custa €5.
No castelo funciona o Museo del Novecento, dedicado à arte napolitana no Século 20.
Vitrine hipnótica da confeitaria Anna Bellavista, na Galeria
Umberto I. O babà é esse douradinho aqui na direita. A sfogliatella está na
prateleira do alto |
Ragù, babà, pizza... Essas palavrinhas de duas sílabas representam a essência da cozinha napolitana: o celestial não precisa ser rebuscado.
E é assim que a gente, sem perceber, acaba enredada em uma teia de sabores magníficos, com consequências catastróficas para a cintura, mas uma sublime experiência para a alma.
Ter uma cidade aos pés de um vulcão não serve só para acrescentar pitadas de drama ao dia a dia. A terra fértil dos arredores do Vesúvio provê a mesa napolitana de frutas e hortaliças suculentas.
Babà, esse gostoso |
Mal deixei a bagagem no hostel, já saí voando para comer babà, doce que pra mim é a cara de Nápoles.
Não vou cometer a heresia de dizer que babà é um bolinho, mas a massa é similar. Só que ele vem completamente embebido em calda de açúcar, especiarias e rum, com resultados absolutamente sedutores.
No capítulo doce, outra tentação irresistível em Nápoles é a sfogliatella, delicado capricho de mil folhas finíssimas de massa, recheadas de creme à base de amêndoas.
O espaguete ao vôngole também é típico de Nápoles |
Sabe quando um molho à bolonhesa (que, na verdade, não existe) está divino? Pois então não é bolonhesa, é ragù.
Outras delícias napolitanas são o espaguete ao vôngole e as berinjelas, geralmente servidas empanadas, com molho de tomate e queijo.
Caffè Gambrinus, a cara da outra Nápoles |
Ele destoa completamente do clichê napolitano da roupa secando nas janelas e aquela desordem urbana que faz parte do charme da cidade.
O serviço no balcão do Caffè Gambrinus é concorridíssimo e mais barato, mas eu gosto de tomar meu chocolate sentadinha e bem relaxada |
O Caffè Gambrinus fica no coração da Nápoles elegante, a dois passos do Palácio Real e do Teatro San Carlo, onde o corso de carruagens que descia a Via de Toledo costumava desaguar.
O café está lá desde 1860 e se orgulha de ter sido fornecedor da família real e ponto de encontro de artistas, escritores e intelectuais.
Lustres de cristal, porcelanas... o Caffè Gambrinus é muito
elegante |
Apesar da pose, o Gambrinus foi um notório local de reuniões de antifascistas, nos anos 30, e quase foi fechado pela polícia de Mussolini.
Sentar em uma de suas mesas para provar o chocolate espesso e cheiroso servido lá é o jeito perfeito de terminar uma tarde em Nápoles. O serviço é que está um pouquinho desatento, mas a gente perdoa, pelo charme do Caffè Gambrinus.
Salão de chá do Caffè Gambrinus |
Piazza Trieste e Trento (no final da Via Toledo, em frente ao Teatro San Carlo). Diariamente, das 7h à 1h da madrugada.
Como é costume na Itália, os produtos do Caffé Gambrinus têm preços diferentes, se servidos no balcão ou à mesa. Não tenha dúvidas: sente, relaxe e curta o belo ambiente.
Na mesa, a xícara de chocolate custa € 5 e o babà custa € 4. Você vai ver que é uma graninha muito da bem gasta 😋.
O legendário forno de Brandi em ação |
A casa é famosa por ter criado, no final do Século 19, a pizza margherita, assim batizada em homenagem à rainha Margarida de Saboia, consorte do Rei Umberto I.
Conta a lenda que o casal dono da Pizzaria Brandi foi convocado ao palácio de Capodimonte para preparar algumas redondas para o casal real e resolveu inovar: usaram tomate, muçarela de búfala e manjericão para cobrir a pizza, repetindo as cores da bandeira da Itália.
Seja lá como for, mereciam o Nobel da Culinária por criarem algo tão delicioso com ingredientes tão simples. Dizem que a rainha adorou.
Pizza Margherita é a minha favorita. Embora eu prefira a massa mais fininha, gostei demais da pizza do Brandi.
Dona Margherita (no alto) e minha entrada de mariscos
fritos |
Salita Santa Anna di Palazzo nº 1 (travessa da Via Chiaia, que começa na Piazza Trieste e Trento). Diariamente, das 12:30h às 15:30h e das 19:30h às 23:30h.
Até deu para ir à Pizzaria Brandi sem reserva, mas tive que ter paciência, pois esperei 40 minutos por uma mesa.
O melhor é passar por lá logo cedo, reservar uma mesa e ir passear nas redondezas (o Palácio Real, o Teatro San Carlo, a Piazza Plebiscito e o Basílica de San Francesco di Paola ficam bem pertinho da Pizzaria Brandi).
Ou então ligue e marque a hora. O número é (39) 081 416928. A pizza margherita (individual) custa €7.
O Martírio de Santa Úrsula, de Caravaggio, a obra que
me deixou boba |
6 - Ver o último trabalho de Caravaggio
O quadro O martírio de Santa Úrsula, de 1610, é apontado como a última obra pintada por Caravaggio e está exposto no Palazzo Zevallos-Stigliano, que integra uma rede de galerias de arte em Nápoles.
Acredita-se que O Martírio de Santa Úrsula tenha
sido o último quadro pintado por Caravaggio |
A tela, magnífica, fica em uma sala exclusiva, com um estratégico banquinho para a gente sentar bem quietinha e admirá-la em silêncio, na penumbra... Uma experiência inesquecível.
Caravaggio viveu um período em Nápoles e deixou obras importantes na cidade.
O Palazzo Zevallos-Stigliano fica na movimentada Via Toledo,
uma espécie de 5ª Avenida de Nápoles |
Se você curte Caravaggio, também vai amar ver as telas O Chamado de São Mateus, São Mateus e o Anjo e O Martírio de São Mateus, na igreja de San Luigi dei Francesi, em Roma.
A visita ao Palazzo Zevallos-Stigliano vale pelo acervo e
também pela beleza do edifício |
Foi a poderosa família Colonna quem deu ao palácio as feições que tem hoje, com interiores ricamente decorados.
Mecenas aplicados, os Colonna promoviam saraus legendários em casa, chegando a empregar compositores como Scarlatti e Pergolese.
A galeria exibe obras do Século 16 ao início do Século 20. Acima,
a sala dedicada ao napolitano Gemito |
Obras de Tanzio da Varallo, contemporâneo de Caravaggio |
Hoje, a galeria do Palácio Zevallos-Stigliano expõe artistas importantes, como Luca Giordano. Mais fascinante é descobrir uma infinidade de representantes das escolas napolitanas, muitos deles discípulos ou influenciados por Caravaggio.
Logo no térreo, babei com a mostra dedicada ao pintor Tanzio da Varallo, contemporâneo de Caravaggio. Entre os artistas mais recentes, não perca a sala dedicada às esculturas e desenhos do napolitano Vincenzo Gemito, da virada dos séculos 19/20.
Vitrais do Palazzo Zevallos-Stigliano |
Via Toledo 185 (Metrô Toledo). De terça a sexta, das 10h às 18h. Sábados e domingos, das 10h às 20h. Ingresso €5.
Índice: todos os posts sobre museus e sítios arqueológicos aqui na Fragata
8 - Visitar a Catedral de Nápoles e a Capela de San Gennaro
Guarda as relíquias do padroeiro da cidade, San Gennaro. Na Capela Real repousam a cabeça do santo e um pouco do seu sangue coagulado.
O Duomo (Catedral) é o centro da vida espiritual
napolitana e guarda as relíquias de San Gennaro |
Uma visita à Catedral de Nápoles é um pequeno mergulho na alma napolitana. É comovente ver a devoção do povo da cidade a seu padroeiro.
A primeira vez que fui ao Duomo de Nápoles era domingo e a igreja estava muito cheia. Era impressionante ver as preces dilaceradas dedicadas ao santo.
Uma tremenda experiência antropológica para uma baiana, acostumada com a relação lúdica, de proximidade e camaradagem do povo da minha terra ao Senhor do Bonfim...
Catedral de Nápoles (Duomo di Napoli)
Via Duomo nº 149 (Metrô Cavour). De segunda a sábado, das 8:30h às 13:30h e das 14:30h às 19:30h. Aos domingos e feriados, das 8h às 13h e das 16:30h às 19:30h. Entrada gratuita.
O Cristo Velato, de Giuseppe Sanmartino |
É uma obra soberba, a imagem do Cristo morto, coberto por um véu diáfano (esculpido no mesmo bloco de mármore!!), com a dor do suplício ainda impressa no rosto.
Taí um ingresso que vale a pena pagar |
Um desses príncipes é o alquimista da lenda. Ele também é autor da bizarra mumificação de dois corpos, expostos no subsolo da capela, que exibem todo o sistema circulatório do corpo humano. O príncipe acabou excomungado por suas experiências.
Piazza San Domenico Maggiore. Quando você enxergar essa
coluna, já sabe que está do ladinho da Capela de Sansevero |
A ruazinha onde está a Capela de Sansevero é meio escondida, mas tome como referência a Igreja de San Domenico Maggiore, na praça com o mesmo nome (procure a coluna da foto acima, com a imagem do santo no topo), que é onde começa a Rua (Via) Francesco de Sanctis.
A Capela de Sansevero pode ser visitada diariamente. De segunda a sábado, das 9:30h às 18:30h. Aos domingos e feriados, fecha às 14 horas. Em 2015, a entrada custa €7 (€5, para quem tem de 10 a 25 anos. Menores de 10 anos não pagam).
A Galeria Umberto I impressiona pela rica decoração. É
a irmã caçula da famosa Galeria Vittorio Emanuele, de Milão |
Inaugurada em 1891, a Galleria Umberto I é a cara da Belle Époque, com seu teto envidraçado sustentado por intrincada estrutura de ferro, e a rebuscada decoração das paredes.
O que me encanta mais na galeria, porém, é seu piso, luxuosamente recoberto de mosaicos em mármore.
Uma rosa dos ventos no piso da Galeria Umberto I |
Galleria Umberto I
Acesso pela Via Toledo (na altura do nº 256), Via Santa Brigida (altura do nº 57), Via Giuseppe Verdi e pela Via San Carlo, na altura do Teatro.
A Europa na Fragata Surprise
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Genial, Cyntia!
ResponderExcluirSeus posts são maravilhoso, com fotos, informações e dicas preciosas!!
Vc acredita que não conhecia o Cristo de Giuseppe Sanmartino?
Visito sempre que posso!!
Beijão,
Acco
Valeu, Acco!!
ExcluirEsse Cristo Velato é daquelas obras que valem a viagem. Mas o melhor é que ele fica em Nápoles, meu xodó :)
Cyntia! Obrigada pelo post. Estou indo para Posilipo amanhã, eu vou pegar a linha 140, desço aonde? devo subir andando? é facil achar o mirante? gente não estou entendendo :(
ResponderExcluirStephanie, o 140 faz ponto final no alto do Cabo Posillipo. Ele faz um passeio meio panorâmico pela Riviera de Chiaia e sobe. Confira o trajeto no googlemaps e no rome2rio, porque essas coisas pode mudar. Se o tempo estiver bom, vá até o ponto final e depois desça caminhando. Essa foto, como diz a legenda, foi feita na ladeira. No Vomero e no Posillipo tem vários lugares para contemplar a vista da Baía de Nápoles.
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