Liverpool além dos Beatles

O edifício histórico do Town Hall (sede da Prefeitura de Liverpool) tem uma bela decoração interna e recebe visitantes alguns dias por ano. Repare no Rio Mersey, ao fundo

Os Beatles continuam sendo a maior atração de Liverpool. John, Paul, George e Ringo são os principais responsáveis por atrair 52 milhões de visitantes à cidade, todos os anos.

Mas existe uma adorável Liverpool além dos Beatles que os visitantes de bate e volta não têm tempo de descobrir. É por isso que eu recomendo que você estique a sua permanência na cidade e aproveite mais seus encantos.

O contraste entre estilos arquitetônicos é um dos charmes de Liverpool

Liverpool é a casa dos centenários times Liverpool Football Club (18 títulos do Campeonato Inglês, cinco da Champions League e três Copas da UEFA) e Everton (nove títulos da Liga Inglesa). Também é sede de museus interessantes (como a sucursal da Tate Gallery) e dona de uma noite animadíssima.

A cidade dos Beatles também é uma festa pra quem gosta de arquitetura. Dona de um belo patrimônio arquitetônico dos Séculos 18 e 19, Liverpool convive em harmonia com arrojadas construções contemporâneas. Esse contraste urbano resulta muito atraente.

Waterfront de Liverpool: as antigas docas do Rio Mersey viraram um complexo de lazer cheio de atrações

Muitas das construções mais emblemáticas de Liverpool estão no Waterfront, antiga área das docas que passou por um processo bacana de revitalização e tornou-se um interessante complexo de lazer, com lojas, museus, restaurantes e hotéis, à beira do Rio Mersey. 

Mas talvez a maior atração de Liverpool sejam as pessoas. Esqueça o clichê do inglês empertigado. Os liverpudlianos são falantes, informais e muito bem humorados.  

O parque Saint John's Gardens, bem no Centro de Liverpool, tem um sossego impressionante

Não é porque são conterrâneos dos Beatles, não, mas fiquei com a maior vontade de ficar amiga de todos eles 😊

Confira essas dicas para explorar Liverpool além dos Beatles. Você vai descobrir uma cidade cativante:

Liverpool além dos Beatles - o que ver e fazer

 

O Town Hall de Liverpool: sabe aquela imagem dos Beatles acenando para a multidão quando receberam as chaves da cidade? Foi neste balcão aí

Liverpool vista do Town Hall: High Street (no alto) e Castle Street são ruas tão antigas quanto a cidade

⭐Town Hall (Prefeitura)
 High Street, Centro

A origem de Liverpool é uma ocupação viking. Mas, oficialmente, a cidade foi fundada em 1207 pelo rei João Sem Terra (irmão de Ricardo Coração de Leão e inimigo figadal de Robin Hood na lenda saxã).

Dizem que o rei, em pessoa, encarregou-se de conceber o traçado original da cidade, com sete ruas, entre elas a Castle Street e a High Street, em cuja esquina está o Town Hall.

Quando subir a escadaria do Town Hall preste atenção na decoração do interior da cúpula sobre os degraus

O Town Hall, sede da Prefeitura de Liverpool é um primor de edifício do período georgiano, debruçado sobre a convergência de quatro das ruas mais antigas da cidade. Foi inaugurado em 1754, em estilo georgiano (que eu amo) e tem uma decoração interior muito bonita.

O edifício é é tombado pelo patrimônio histórico britânico. Embora já não abrigue a burocracia da Prefeitura de Liverpool, ainda é sede de um gabinete protocolar do prefeito da cidade, usado para solenidades e recepções.

Os salões do Town Hall têm decoração suntuosa

Os belos salões cerimoniais do Town Hall preservam o mobiliário de época e toda a suntuosa decoração de paredes e tetos que o estilo georgiano tanto prezava. O interior da cúpula do edifício, sobre a escadaria principal, é um escândalo de bonito.

Por conta de sua função cerimonial, o Town Hall de Liverpool não está aberto à visitação regular.

Por dentro e por fora, o Town Hall de Liverpool é um primor georgiano

Para vê-lo por dentro (e, claro, roçar os cotovelos na mesma balaustrada de onde os Beatles acenaram para a multidão), há visitas guiadas mensais (£3) e alguns open days, com acesso livre e gratuito do público, em agosto, setembro e na época do Natal.

Veja as datas de visitas ao Town Hall de Liverpool no site da Prefeitura da cidade.

A Biblioteca Central de Liverpool é um show de arquitetura

Eu fiquei looooooouca por esta cúpula

⭐ Biblioteca Central de Liverpool
William Brown Street, Centro, De segunda a sexta, das 9h às 20h. Sábados, das 9h às 17h e domingos das 10h às 17h

Mesmo que você não seja apaixonada por livros e arquitetura (eu sou!), aposto que vai adorar a visita à Biblioteca Central de Liverpool.

A fachada neoclássica da Biblioteca Central de Liverpool foi preservada na reforma e ganhou uma calçada super inspiradora (no alto)

O Picton Room é uma das salas de leitura mais lindas que já vi. Se eu morasse em Liverpool, ia virar a criatura mais estudiosa do mundo só pra frequentá-lo muito

Inaugurado em 1860, o edifício da Biblioteca Central de Liverpool foi construído em estilo neoclássico, com as indefectíveis colunas gregas na fachada, como era moda no período vitoriano.

Do projeto original da Biblioteca, porém, restava muito pouco. Ela não foi poupada durante os pesados bombardeios sofridos por Liverpool, na Segunda Guerra, e reconstruções realizadas no pós-guerra foram feitas sem muito apuro estético.

O exterior vitoriano da biblioteca era praticamente só o que restava do edifício original, severamente danificado pelos bombardeios da II Guerra. A rotunda (acima) é o Picton Reading Room

O resultado é que a Biblioteca Central de Liverpool virou um lúgubre labirinto. Até que a cidade resolveu dar um banho de loja na sede de seu principal acervo de livros e documentos públicos.

Em 2013, a biblioteca ganhou uma reforma ultra moderna. O projeto arquitetônico da remodelação das instalações é de rara felicidade e super premiado. Eu babei com o resultado.

O projeto restaurou e preservou o que restava do edifício vitoriano, que agora está interligado a uma nova ala moderníssima. São seis andares que se debruçam para um átrio central de cúpula envidraçada, lindo demais.

Liverpool vista do terraço panorâmico, no último andar da Biblioteca Central. Repare na foto lá no alto o Empire Theater, o mais importante da cidade na época dos Beatles

Das alas históricas da Biblioteca Central de Liverpool, não deixe de ver o impressionante Picton Reading Room, forte candidato ao título de sala de leitura mais lindo que eu já vi — e olha que eu tenho uma baita milhagem acumulada em visitas a bibliotecas 😀.

O resultado da reforma da Biblioteca Central de Liverpool valeu cada pence dos £ 50 milhões investidos no projeto, assinado pelo escritório Austin-Smith: Lord.

Não deixe de subir até o terraço panorâmico da Biblioteca Central de Liverpool, no sexto andar, para contemplar a cidade.

⭐ Museu da Escravidão de Liverpool
Albert Dock, Liverpool Waterfront. Diariamente, das 10h às 17horas, entrada franca

Liverpool foi fundada no Século 13, na estratégica foz do Rio Mersey, mas só se tornou uma cidade próspera a partir do Século 17. Foi nessa época que o porto de Liverpool ganhou importância, graças às mercadorias que chegavam das colônias britânicas no Novo Mundo.

Desta janela do Museu da Escravidão o visitante contempla as docas secas onde eram reparados os navios negreiros que movimentavam o Porto de Liverpool

Logo depois, o florescimento fabril vivido pela Inglaterra, no Século 18, acrescentaria as exportações ao movimento comercial às margens do Rio Mersey.

Essa história, porém, deixou uma mancha que Liverpool ainda hoje luta para redimir: ao lado das mercadorias, o Porto de Liverpool também teve um papel preponderante no tráfico de pessoas, os africanos levados para a escravidão nas Américas.

"O Spartacus Negro": nosso compatriota Zumbi dos Palmares homenageado como herói da liberdade no Museu da Escravidão de Liverpool

Esse comércio infame fez de Liverpool a sede de grandes frotas de navios negreiros, que faziam escalas regulares em suas docas.

O Museu da Escravidão (Slavery Museum), inaugurado em 2007, no bicentenário da abolição do tráfico na Inglaterra, é  um espaço dedicado a contar e a purgar essa história.

O Museu da Escravidão de Liverpool celebra os lutadores pela emancipação, como nesta galeria (no alto). Acima, a placa registra as palavras do ex-escravizado William Prescott: "Eles vão lembrar que fomos vendidos, mas não de éramos fortes. Eles vão lembrar que fomos comprados, mas não de que éramos corajosos". E o museu completa: "Nós nos lembraremos" 

O Museu da Escravidão de Liverpool está dividido em três blocos principais. A primeira ala presta um tributo aos povos da África Ocidental, exibindo sua arte e engenho em peças de vestuário, instrumentos rituais e utensílios.

Outra ala resgata a história da "Passagem Atlântica", como era chamada a rota do tráfico, e seu papel na economia britânica e das colônias.

A linha do tempo do museu lembra que o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. No alto, objetos rituais, utensílios e vestimentas de povos da África Ocidental

A ala mais comovente do museu é dedicada à luta contra a escravidão e a heróis como nosso compatriota Zumbi dos Palmares, homenageado como "O Espártaco Negro", uma cena que ainda agora me deixa com um baita nó na garganta.

A visita ao Slavery Museum de Liverpool é perturbadora, sim, mas instigante. Não perca!

Se você se interessa pelo tema, veja também esses posts
Curaçao - Museu Kura Hulanda: o esplendor da África e o horror da escravidão
Curaçao - O Museu Tula homenageia a luta contra a escravidão
Memphis (EUA) - Museu Nacional dos Direitos Civis

As "Três Graças", no Waterfront

⭐ Os contrastes arquitetônicos de Liverpool

Um dos melhores programas de Liverpool além dos Beatles não exige hora marcada ou roteiro rígido.

Basta caminhar sem pressa pela área do antigo porto e do Centro para se encantar com o feliz encontro arquitetônico que hoje é uma marca de Liverpool.

Os edifícios contemporâneos de Liverpool têm traços quase abusados. E convivem lindamente com exemplares vitorianos 

Quer predinhos georgianos? Liverpool também tem

A arquitetura de Liverpool tem a refinada arquitetura georgiana, do Século 18, os traços meio góticos do período vitoriano, do Século 19, e o tom quase desafiador dos edifícios contemporâneos, construídos após o grande processo de revitalização da região das docas, no início deste século.

As pedras cor de mel georgianas, os tijolos do novecento e os onipresentes vidros fumê da atualidade organizam um jogo de dissonâncias que resultam numa agradável harmonia.

A Chinatown de Liverpool tem restaurantes bacanas e é bem animada

O leãozinho de bronze que guarda a entrada do bairro chinês observa a torre da Bombed Out Church (no alto), igreja destruída em um bombardeio que agora é um centro cultural interessante

A virada do Século 20 também está muito bem representada na paisagem arquitetônica de Liverpool.

Preste atenção ao conjunto de prédios do Pier Head, onde estão as Three Graces (três graças), três edifícios tombados pela Unesco como patrimônio da Humanidade e considerados a grande expressão arquitetônica da história mercantil da cidade.

A trinca é composta pelo Royal Liver Building (de 1911), com sua torre do relógio super Gothan City, o Cunard Building (1916) e o edifício da administração do Porto de Liverpool (1907).

O Museu de Liverpool é mais um show de arquitetura. E o acervo é uma divertida caminhada pela história da cidade

⭐ Museu de Liverpool

Diariamente, das 10h às 17h, com entrada gratuita

Quase frente às "Três Graças", o edifício do Museum of Liverpool chama a atenção pelo arrojo das linhas contemporâneas da fachada.

O saguão de entrada do museu , com a grande escadaria em espiral, é disputadíssimo pelos visitantes para fotos.

A claraboia e a escadaria em caracol do Museu de Liverpool são disputadíssimas para fotos

O acervo do Museu de Liverpool não tem nada de muito retumbante, se você estiver procurando obras de arte e tesouros. Mas conta a história da cidade de um jeito muito gostoso — e quem não quer saber tudo sobre a urbe que pariu os Beatles?

O prédio do museu é muito bacana e a exposição está organizada de um jeito muito atraente. Vale super a visita.

Exposição sobre a Overhead Railway, testemunha do progresso de Liverpool no Século 19

Você vai descobrir que é um prazer circular entre os grandes painéis e vitrines que contam a história de Liverpool desde a Idade do Bronze até a atualidade, com uma atenção especial ao modo de vida dos liverpudlianos, suas lutas e alegrias.

O comércio, a tradição naval, a importância do porto e a efervescente vida política e sindical dos trabalhadores de Liverpool aparecem em destaque na exposição do museu da cidade.

A tradição combativa de Liverpool é um orgulho da cidade

Também têm destaque a história e a paixão da cidade pelo Liverpool e o Everton, os dois amados times de futebol locais.

Ah, sim, também tem uma ala dedicada àqueles quatro meninos que continuam aparecendo nos meus posts sobre Liverpool, mesmo quando estou determinada a não falar deles 😊.

O capítulo mais famoso da História de Liverpool

O maior tesouro no acervo do Museu de Liverpool é um vagão original da Liverpool Overhead Railway, primeira linha férrea elétrica elevada do planeta, inaugurada no finalzinho do Século 19, mais um orgulhos dos liverpudlianos.

A pequena ferrovia percorria toda a área das docas da cidade e operou até 1956.

Pier Head e o Rio Mersey vistos do Museu de Liverpool

Museus e sítios arqueológicos citados na Fragata

Inglaterra - todas as dicas - post índice

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