18 de fevereiro de 2007

O que fazer em Cartagena


Catedral de Cartagena, Colômbia
Catedral de Cartagena

Cartagena era um dos meus sonhos de viagem mais antigos — quando eu era criança, ela era presença constante nos filmes de pirata que eu amava ver na TV. Depois de uma temporada por lá, posso dizer que a cidade é um dos grandes destinos que visitei no continente.

Tem muito o que fazer em Cartagena e boa parte de suas atrações estão mesmo ligadas à memória do período colonial: a incrível muralha construída para conter os ataques dos piratas, o casario multicor com balcões floridos e ruas com calçamento de pedra irregular.

Bairro de San Diego, Cartagena, Colômbia
Um jeito relaxado de admirar o colorido escancarado das fachadas de Cartagena é fazer um passeio de charrete. À direita, a Igreja de San Diego, bairro sossegado dentro da muralha, onde me hospedei

Cartagena herdou grande parte de seu encanto do mar. Localizada em um ponto estratégico do Caribe, a cidade foi um hub do tráfego de mercadorias entre as colônias da América espanhola e a metrópole, nos séculos 16 e 17. A importância de seu porto enriqueceu a cidade e a cobriu de belezas.

Combinei minha viagem a Cartagena com três dias preguiçosos e adoráveis nas Ilhas do Rosário, arquipélago caribenho que fica bem pertinho da cidade, e um dia de passeios em Bogotá (que serviu pra me apaixonar pela capital colombiana e começar a planejar um retorno com mais tempo).

Veja o que fazer em Cartagena e outras dicas para aproveitar essa beleza colonial da Colômbia:

Bairro de San Diego, Cartagena
A exuberância das fachadas do Bairro de San Diego é irresistível
Bairro de San Diego, Cartagena, Colômbia

Bairro de San Diego, Cartagena, Colômbia

O que fazer em Cartagena

⭐Bairro de San Diego
Os 7 km de muralhas que ainda envolvem o núcleo histórico de Cartagena já não precisam proteger a povoação dos ataques de piratas. Hoje, eles servem para manter o Século 21 a uma distância respeitosa da porção colonial da cidade, que são o Centro e os bairros de San Diego e Getsemani.

Eu fiquei hospedada em San Diego, a área mais tranquila dentro da cidade amuralhada. As ruas do bairro ainda estão margeadas por casarões seculares, construções bem cuidadas e sempre exuberantes nas cores das fachadas e na profusão de hibiscos e bougainvilles que emolduram janelas e portas.

Bairro de San Diego, Cartagena, Colômbia

Em San Diego, as soleiras centenárias são pra sentar, bater papo e ver a vida passar


É um prazer enorme andar a esmo, admirando a arquitetura colonial preservada e cheia de vida do bairro de San Diego, onde nada parece cenográfico ou conservado em formol: as soleiras históricas são para sentar e bater papo. 

No final da tarde, os vizinhos colocam cadeiras nas calçadas e as muralhas ficam tomadas de gente passeando, namorando, esperando o pôr do sol...

Muralha de Cartagena, Colômbia

O trecho da muralha em frente ao meu hotel, em San Diego: um belo "calçadão" para passear e ver o mar


Em San Diego, fiquei hospedada no Hotel Boutique Bóvedas de Santa Clara, em frente à muralha. A janela do meu quarto se debruçava para o antigo arsenal de Cartagena, as Bóvedas (literalmente, abóbadas, mas a palavra é usada pera designar locais de armazenamento ou mesmo cofre), hoje um centro de artesanato. 

Os arcos do velho arsenal são uma das logomarcas de Cartagena. É também um ponto de acesso ao alto das muralhas (por uma rampa, bem ao lado das Bóvedas). 

Bóvedas de Cartagena, Colômbia
As Bóvedas funcionaram como arsenal e alojamento das guarnições militares das muralhas de Cartagena. Hoje, abrigam um centro de artesanato

Muralhas de Cartagena, Colômbia

Dos nove quilômetros originais da muralha, sete ainda estão intactos. À noite, grupos fazem serenatas no alto das fortificações


O bairro de San Diego também é famoso por abrigar a casa de Gabriel García Márquez. O escritor, nascido na cidadezinha de Aracataca, escolheu viver em Cartagena e isso enche a cidade de orgulho. Os moradores fazem questão de apontar a residência do autor de Cem Anos de Solidão, postada em frente à muralha e cercada por um muro muito alto. 

Muralhas de Cartagena
Originalmente, eram nove quilômetros de muros, fortalezas e bastiões, envolvendo completamente a cidade colonial. Cartagena era um importante porto de embarque das riquezas das colônias para Espanha e, como tal, era alvo permanente de ataques de corsários ingleses e franceses.

Hoje, por exigências dos automóveis, alguns trechos da muralha foram derrubados, abrindo o núcleo colonial para o resto da cidade. Mas ainda restam sete quilômetros do cinturão de muralhas de Cartagena. A muralha está  muito bem preservada e aninha, em seu interior, os bairros de San Diego, Centro e Getsemany.

O caminho do meu hotel até a Plaza San Diego

O melhor horário para curtir um passeio sobre as muralhas de Cartagena é o final da tarde, quando o sol arrefece, a luz está perfeita para fotos e a brisa sopra do mar e chega a dar um friozinho. Também é maravilhoso caminhar sobre as fortificações à luz da lua e dos lampiões ouvindo animadas serenatas improvisadas por moradores da cidade.

Em uma noite, estava passeando pelas muralhas de Cartagena e o cenário era tão perfeita que estranhei a falta do acendedor de lampiões (típico de filmes de piratas) recitando seu bordão: "Meia Noite. Meia Noite e tudo bem".

O jeito de bolo confeitado do campanário da Catedral (à esquerda) e a simplicidade de igrejinha de interior de San Toríbio

A pé ou de charrete, explorar o Centro Histórico de Cartagena parece uma missão inesgotável

Passeio de charrete em Cartagena
Basta uma charrete, o calçamento de pedras e a luz dos lampiões de Cartagena, e você está no Túnel do Tempo. Na Cidade Antiga (a parte dentro das muralhas), há diversos "pontos de charretes". O meu passeio eu contratei no bairro de San Diego. 

Era noite de lua cheia e achei muito reconfortante ver os casarões desfilando pra mim, ao som do barulhinho das patas do cavalo no piso irregular. O cocheiro bem que tentou recitar o texto padrão ("à sua esquerda, isso e aquilo"), mas eu menti para ele que já tinha feito um city tour e queria ver apenas a cidade ao luar. Amei!



Os portais das igrejas de Santo Domingo e de San Pedro Claver
Claustro do Convento de Santa Clara, hoje um hotel de luxo

Igrejas de Cartagena
A importância de Cartagena para o Império Espanhol e a consequente riqueza conquistada pela cidade estão ainda bem expressas em seus edifícios religiosos cheios de requinte. 

O Convento de Santa Clara, em San Diego, convertido em hotel de luxo, é um prédio belíssimo, que pode ser admirado mesmo por não hóspedes, bem-vindos para um drinque no bar da piscina, instalada no antigo claustro do monastério.

O Claustro de Santo Domingo 
e a torre da Catedral vista do interior do templo

Bem pertinho do Convento de Santa Clara, do outro lado da praça, está a pequenina Igreja de San Diego, que compensa a simplicidade de traços com uma pintura amarelo-ouro e azul-colonial berrantes em sua fachada.

A Catedral de Cartagena tem uma torre pintada em tons de salmão e amarelo que a gente reconhece de longe. 

A Igreja de Santo Domingo parece simplesinha por fora, mas tem um altar de cair o queixo. San Toríbio tem cara de igrejinha de interior. E San Pedro Claver, com sua fachada em pedra, é a igreja mais bonita de Cartagena.

As armas da Coroa Espanhola no portal da antiga sede da Inquisição

Casa da Inquisição - Museu Histórico de Cartagena
Calle 34 n° 3 -11 Plaza de Bolivar - Centro. De segunda a sábado, das 9h às 19h. Domingos, das 10h às 16h.

O Museu Histórico de Cartagena funciona no vetusto palácio que serviu de "escritório" ao Santo Ofício, a temida Inquisição. 

Apesar da conservação duvidosa do espaço — o cheiro de mofo é muito forte em algumas salas, um desafio para a minha asma alérgica — o prédio imponente, do Século 18, e o acervo de mapas, documentos e peças sacras do museu valem a visita.

O interior da Casa da Inquisição
O pátio do palácio e a soturna peça do acervo do museu

Na parte dedicada à Inquisição, há uma exibição de instrumentos de tortura que é bem difícil de ver ser sentir frio no estômago. Tem até uma guilhotina no pátio externo, "operada" por um manequim vestido de carrasco, de dar calafrios.

O Santo Ofício chegou a Cartagena em 1610 para um reinado de terror que durou 207 anos. Neste período, fez 767 vítimas diretas, entre condenados à prisão ou à morte.


Museu Naval do Caribe
Calle 31 N° 3-62 Calle San Juan de Dios. De terça a domingo, das 10h às 17h

Atrás da Igreja de San Pedro Claver, mirando o Baluarte de San Francisco Javier, está um dos melhores programas de Cartagena. O Museu Naval do Caribe ocupa a antiga Escola dos Jesuítas, do Século 17 (a primeira das Américas). O prédio é maravilhoso e o "recheio" é uma delícia.

É claro que sou suspeita, dada minha predileção pelas "histórias do mar", mas tenho certeza que qualquer mente um pouquinho mais curiosa é capaz de vibrar com o acervo do museu na ala “La Colónia”, composto por objetos e documentos relacionados à navegação da Era dos Descobrimentos e ocupação européia das Américas — as grandes aventuras através do Atlântico.



É bom namorar os balcões de Cartagena do alto da muralha

Baluarte de San Francisco Javier
Em frente ao Museu Naval, o Baluarte de San Francisco Javier é uma das áreas mais agradáveis da Muralha de Cartagena.

Debruçada sobre o Centro Histórico, essa fortificação do Século 17 é um senhor calçadão que paira sobre o burburinho, o mirante ideal para ver as fachadas históricas ganharem tons cada vez mais cálidos, à medida em que o sol vai se pondo, enquanto o vento vira e começa a soprar do mar para a terra, dando aquele friozinho gostoso do entardecer na beira da praia.

A Praça da Aduana, com as torres 
da Igreja de San Pedro Claver, ao fundo

Plaza de la Aduana e os doces das palenqueras
Essa praça, um dos cartões postais mais manjados da cidade, especialmente por causa da Torre do Relógio, fica mais cordial no final da tarde, quando o sol está menos inclemente. É aqui que as vendedoras de doces típicos e frutas se reúnem e oferecem seu produtos, trazidos de Palenque, povoado a uma hora de distância.

A Torre do Relógio, logomarca da cidade, e uma das portas da muralha
Na Colômbia, um palenque é o nosso equivalente ao quilombo — os quilombolas colombianos são chamados de cimarrones.

A atividade quilombola foi sempre muito forte na Colômbia, com registros que datam desde o Século 16, ou seja, desde que os africanos começaram a ser trazidos para a região, eles começaram a reagir à escravidão, a fugir do cativeiro e a constituir suas próprias comunidades.

Como no Brasil, os africanos escravizados escolhiam regiões de difícil acesso como refúgio e reproduziam nos palenques a organização social que conheciam na África.


As palenqueras de Cartagena têm muito das "baianas" de Salvador. No lugar do acarajé, do acaçá e da passarinha, elas vendem doces que lembram as cocadas. 

A inteligência corporal também é a mesma: a naturalidade com que as palenqueras caminham, equilibrando na cabeça grandes bacias cheias de frutas, remete imediatamente às mulheres da minha terra carregando seus tabuleiros.

A Baía de Cartagena, vista do alto do Cerro de la Popa
Detalhe do altar e o pátio do Convento de la Candelária

Mirantes de La Popa e do Castillo San Felipe
Pelo equivalente a R$ 30, contratei um táxi para ir ao Convento de la Candelária, no Cerro de la Popa, no alto de uma montanha debruçada sobre a Baía de Cartagena. Num dia claro, dá para ver até algumas das Ilhas do Rosário.

O convento é de 1607 e está bem conservado. Na igreja, não deixe de ver o altar coberto de ouro que é uma das obras primas da arte sacra cartaginesa. A Virgem da Candelária, muito reverenciada na Colômbia, é festejada com uma procissão de velas e archotes, morro acima, no dia 2 de fevereiro -- dia da Festa de Yemanjá, na Bahia.

Castelo de San Felipe de Barajas
No mesmo táxi -- e como parte do "pacote" de R$ 30 -- segui para o Castillo de San Felipe de Barajas, fortaleza que se anuncia como "a maior obra militar colonial das Américas" -- título também reivindicado por San Pedro de La Cabaña, na entrada da Baía de Havana, em Cuba (um daqueles lugares que a gente precisa ver antes de morrer).

O forte é da primeira metade do Século 16 e domina toda a cidade e a Baía de Cartagena. O mais interessante, porém, não é o que se vê do alto, mas o que está nos subterrâneos: são túneis e mais túneis sob a fortaleza. Alguns podem ser explorados pelos visitantes.

As Bóvedas: depois de olhar o artesanato, 
suba a rampa para o contemplar o mar do alto das muralhas

Las Bóvedas
Sou suspeita, porque faço coleção de casinhas compradas nos lugares que visito, mas gostei muito do Mercado de Artesanias que funciona no antigo Arsenal de Cartagena, nas Bóvedas ("abóbadas"), na parte baixa da muralha, no bairro de San Diego. As casinhas que comprei lá não chegam perto da beleza daquelas fachadas vistas ao vivo, mas eu amei!!

Praia de El Laguito
 As praias de Cartagena deixam bastante a desejar, principalmente para quem chega com aquele clichê do Caribe na cabeça (para mar cristalino e perfeito, as Ilhas do Rosário estão a 45 minutos de viagem). Quem foi criado na beira da praia, como eu, dificilmente ficará impressionado com aquela areinha pedregosa, com o mar meio turvo e com ondinhas meio indecisas.

Experimentei a praia de El Laguito, a mais recomendada, que fica numa enseada profunda, na orla da cidade nova. Cercada de prédios altos e ruas arborizadas, o bairro lembra aquele pedacinho Santa Clara/Figueiredo Magalhães, em Copacabana. Na praia, dá para alugar guarda-sol e cadeirinhas, mas é difícil conseguir algum sossego, com a multidão de vendedores insistentes.

Veja mais imagens de Cartagena na página da Fragata no Facebook


 

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