As neves eternas do Illimani,
onipresentes na paisagem de La Paz
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Meu amigo Paulo Lipp, que conheci na capital boliviana, disse tudo: "Chegar à Bolívia não é só um deslocamento no espaço. É uma viagem no tempo, também". La Paz é surpreendente, fascinante, petinho do Brasil e muito barata. O que mais eu preciso dizer pra lhe convencer?
O campanário de São Francisco tenta competir com as montanhas que cercam a cidade |
O olhar dos aymaras parece dizer "esses europeizados são uns neuróticos" |
O olhar Aymara parece mirar as dinâmicas vertiginosas e a acumulação compulsiva do "mundo de cá" com uma condescendência muda, mas eloquente.
"Mercearia" na Calle Llampu, no Centro de La Paz |
Pode ser efeito do nome, mas a cidade pede e oferece serenidade, em pleno frenesi de gente, buzinas e calçadas tomadas por tabuleiros, onde se vende de tudo e os gorros de lã "de pura alpaca" fazem companhia aos I-Pods.
O relevo dramático, o esplendor das montanhas, o tom dourado da secura do altiplano, a profusão de cores nas polleras (saias) das mulheres nativas... A cidade é uma festa para os olhos. Mas, por baixo desta beleza escancarada, há um encantamento mais sutil, talvez resultante da luz absolutamente peculiar que banha a cidade.
Os Andes estão repletos de maravilhas — e vi inúmeras delas, em 12 dias de viagem. Mas La Paz é uma surpresa que não se esconde e tampouco se anuncia. Sem alarde e sem véus, é um dos segredos bem guardados do nosso lindo continente.
Dicas práticas
Plaza Murillo, sede do governo boliviano |
Esqueça o velho trem: diversas companhias aéreas voam para La Paz e os preços dos bilhetes são convidativos. Por R$ 1.009,00 (isso mesmo: um mil e nove Reais), comprei um bilhete Guarulhos-La Paz, na peruana Taca Airlines, com conexão em Lima, e retorno por Cusco até Guarulhos, também com conexão na capital do Peru.
São as vantagens da antecedência: comprei o bilhete em julho, para viajar em novembro.
Se a ideia for ir só para a Bolívia, é mais vantajoso pesquisar na boliviana Aerosur, que tem vôos diretos saindo de Guarulhos.
O intrincado entalhe da fachada da Igreja de San Francisco, uma das igrejas coloniais mais lindas que já vi |
Onde ficar
Eva Palace Hotel
Calle Sagarnaga 173, Centro
Nosso quarto bagunçadíssimo (minha cama, que não aparece na foto, estava na mais perfeita ordem 😉) |
Apesar da fachada feia, este hotel, administrado por uma simpática família paceña, é um achado: atendimento caloroso e competente, quartos espaçosos, limpos e confortáveis — com vista para a torre e os telhados da espetacular Igreja de San Francisco —, ótima localização e café da manhã bem bonzinho.
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A Calle Sagárnaga concentra uma série de hotéis simples e muito populares entre os turistas mais econômicos |
Plaza Murillo |
Pra enfrentar isso, é fundamental pegar leve, especialmente no primeiro dia, não comer comidas pesadas e tirar um cochilo quando o bicho pegar.
O mate de coca (que não dá onda nenhuma) é fundamental à sobrevivência: metade do mal estar tem origem digestiva e ele é um santo remédio.
O resto, a gente driblou com comprimidos de Soroche Pill, medicamento super-popular na Bolívia, vendido em qualquer farmácia, sem necessidade de receita médica. Uma cápsula de oito em oito horas dá conta do recado.
Onde comer - e o que comer
Sempre ouvi falar muito mal da comida da Bolívia. As críticas, porém, são muito injustas. As trutas do Titicaca são estupendas, servidas geralmente fritas ou grelhadas.
O hábito boliviano de começar as refeições com sopa (mesmo o almoço) pode parecer esquisito, mas, no frio, cai à perfeição. Fiquei viciada na sopa de quínua, sempre deliciosa, leve e reconfortante.
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Almoçando trutas do Titicaca com Simone (à esquerda) e Marúsia (à direita) |
Para beliscar, experimente as empanadas. O mais comum é que tenham recheio de charque, mas as de queijo e as vegetarianas também estão na moda. As famosas salteñas são o tradicional lanche do meio da manhã. Fora desse horário, não é fácil encontrá-las.
Calle Linares, 992, Centro
Comi uma truta ao molho de limão simplesmente deliciosa lá. O lugar é uma mistura de restaurante, hostel e antiquário — o pátio interno do casarão colonial é um pouco tumultuado com a profusão de objetos antigos. O atendimento é simpático e os preços são ótimos: pagamos 190 Bolivianos (US$ 27) por um almoço para três pessoas, com bebidas.
Café Blueberry’s
Avenida 20 de Octubre 2475, Plaza Avaroa, Sopocachi
Marusia e Simone no Blueberry's |
O que beber
As cervejas Paceña e Huari são as marcas mais comuns. Não sou bebedora de cerveja, mas minha irmã Simone, uma especialista, gostou mais da Huari, mais forte e encorpada. A Paceña, segundo ela, é mais levinha. Eu adorei foi o Singani, bebida forte, semelhante à grappa italiana, ótima como aperitivo ou como digestivo.
Dinheiro - preços e moeda
La Paz é uma cidade barata. O Dólar está cotado a 7 bolivianos. É possível comer por menos de R$ 20 em restaurantes de padrão razoável. Os táxis dificilmente custarão mais que 10 Bolivianos para as corridas mais longas (do Centro a Sopocachi, por exemplo).
Do aeroporto, que fica na cidade vizinha de El Alto, até o nosso hotel, no Centro de La Paz, pagamos US$ 10 por uma corrida de táxi, no meio da madrugada. E minha amiga Marúsia deixou o celular cair no carro: o motorista o devolveu, no dia seguinte...
Os cartões de crédito não são muito populares fora dos grandes hotéis e do comércio mais chique. A região da Calle Sagárnaga tem algumas casas de câmbio. Não tentamos trocar reais, apenas dólares.
A Bolívia na Fragata Surprise
Os quatro espetáculos da Ilha do Sol
Copacabana, princesinha do Lago Titicaca
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Copacabana, princesinha do Lago Titicaca
Oi Cyntia
ResponderExcluirJá estou aqui bisbilhotando tudo para a Bolívia, mas pelo que já li e vi, vc tem toda razaão, merece mais que 4 dias.
Beijos
Cyntia, tudo bem?
ResponderExcluirQuantos dias você recomenda para conhecer La Paz? Estou começando a planejar uma viagem para lá no ano que vem e ainda bastante desorientado, não é um destino tão comum.
Obrigado!
Daniel, pra fazer o turismo mais convencional, eu acredito que bastariam dois dias em La Paz e mais um para ir a Tiwanaku.
ExcluirDigo "bastariam" porque isso depende de como você vai reagir à altitude.
Se você vai começar a viagem em La Paz, ponha mais um dia nesta conta, que é para não fazer nada, descansar (dormir é o melhor remédio contra o soroche) e fazer tudo muito devagar.
Se você estiver vindo de outros lugares na altitude, já não vai precisar mais dessa adaptação. Mesmo assim, não espere fazer uma lista grande de atividades no mesmo dia, como se estivesse no nível do mar. Na altitude, a gente cansa muito rápido e precisa de mais pausas.
La Paz é fascinante, mas não tem nada de convencional. Leve um olhar curioso e sem preconceitos e aposto que vc vai curtir muito