Com 17 dias, fiz um roteiro de carro na Grécia maravilhoso, terminando na deslumbrante Meteora, famosa por seus mosteiros pendurados nas rochas |
A Grécia é famosa pelas praias, mas também tem lindas paisagens de montanha |
Viajei até a Ilha de Ítaca pra ver a terra de Ulisses (Odisseu), o herói da Odisseia |
Foi emocionante visitar o Sítio Arqueológico de Olímpia, vestígios da cidade-santuário dedicada a Zeus e sede dos Jogos Olímpicos da Antiguidade |
Cefalônia, no Mar Jônico, é séria candidata ao título de ilha mais bonita que já vi na Grécia. Graças aos ferries regulares, é fácil encaixá-la em um roteiro de carro |
Roteiro de carro na Grécia
1º dia – De Atenas a Nafplio (170 km), com uma parada em Corinto
Saímos do hotel em Atenas (no bairro de Thisio) de metrô
para pegar o carro na locadora, no Aeroporto Internacional Eleftherios Venizelos.
Até pesquisamos a possibilidade de retirar o automóvel na
cidade, mais perto do hotel. Mas, sinceramente, foi melhor percorrer de metrô os 30 km até o Aeroporto e começar a dirigir a partir de lá, para evitar o trânsito
do Centro de Atenas.
Nosso primeiro destino nesse roteiro de carro na Grécia foi Nafplio,
cidade que me proporcionou uma imensa felicidade na primeira visita à Grécia,
em 2012.
O Canal de Corinto começou a ser planejado no Século 7º a.C. |
Canal de Corinto
Do Aeroporto de Atenas até Nafplio, a distância é de 170 km. No caminho entre a Península da Ática, onde fica Atenas, até o Peloponeso, onde está Nafplio, a estrada passa pelo Canal de Corinto (a 110 km da capital), onde vale a pena a parada.
O Canal de Corinto, com quase 7 km de extensão e uma
largurinha de apenas 21 metros, rasga o Istmo de Corinto, a pontinha de terra
que grudava o Peloponeso na Grécia Continental (o que, na prática, torna a
Península do Peloponeso numa ilha).
O que acho mais fascinante no canal é a história dele. A
obra começou a ser idealizada no Século 7º antes (!) de Cristo, para facilitar o
trânsito de embarcações entre o Golfo de Corinto e o Mar Egeu — a travessia
pelo canal economiza nada menos do 700 km de navegação em torno do Peloponeso.
Mas o Canal de Corinto só virou realidade no final do Século 19
(nada menos do que 2.600 anos depois de começar a ser idealizado). Bem antes
disso, houve uma tentativa dos romanos, na época de Nero (Século 1º da nossa
era), de escavar a obra, que não foi adiante.
O Canal de Corinto é um ponto bem popular de parada para
quem vai da Ática para o Peloponeso. Tem estacionamento fácil, várias
lanchonetes e serviços.
Segundo a mitologia, a poderosa Corinto foi governada por Belerofonte, dono de Pégaso |
Sítio Arqueológico de Corinto (Archaia Korinthos)
A apenas 14 km do Canal de Corinto, também vale a pena fazer
uma parada no Sítio Arqueológico de Corinto, restos de uma cidade com mais de 6
mil anos de história, povoada desde o Neolítico.
Cidade muito importante na Antiguidade, Corinto teria chegado
a reunir uma população de 250 mil habitantes e controlava um porto de cada lado
do Istmo, o que lhe assegurava uma respeitável pujança econômica e militar.
Na mitologia, Corinto teria sido governada por Sísifo (aquele
condenado a rolar uma pedra montanha acima todos os dias), por Glauco e por
Belerofonte, o dono de Pégaso, o cavalo alado.
Pra ver Nafplio e outras lindezas da Argólida, nos hospedamos bem em frente às muralhas de Tirinto |
Tirinto, o repouso de Hércules (e nosso)
Nossa permanência de 4 noites na região de Nafplio coincidiu
com o feriadão da Páscoa Ortodoxa Grega (saímos na quinta-feira, 2 de maio).
Lógico que as possibilidades de hospedagem no centrinho da cidade estavam ou lotadas ou com os preços
nas alturas.
A alternativa foi reservar um hotel a 3 km do Centro de Nafplio, em Archaia Tirinto (Antiga Tirinto). Olha aí uma grande vantagem de viajar de carro: poder ficar um pouquinho mais distante dos centros, sem perrengue. A localidade, que sequer chega a ser um bairro, menos ainda uma vila, de tão pequenininha, é famosa
pelo seu sítio arqueológico.
Nosso hotel em Tirinto era muito fofo. No café da manhã, tinha frutas tiradas do pé naquela horinha (deste quintal aí acima), geleias, bolos e sucos feitos em casa |
Na Antiguidade, Tirinto foi uma poderosa cidade da Civilização Micênica, possivelmente a mais populosa da Idade do Bronze. Foi destruída pelos exércitos da cidade de Argos no Século 5º a.C. Na mitologia, era o local onde Hércules descansava entre um e outro de seus 12 trabalhos.
E foi exatamente diante das muralhas dessa antiga cidade que nos hospedamos, em um hotelzinho muito fofo, o Ancient Tiryns, administrado por Maria e Dimitri, um casal muito gracinha, que fez a gente se sentir muito em casa.
Chegamos ao nosso pouso na Argólida a tempo de passar um deslumbrante final de tarde à beira-mar, em Nafplio.
Veja essas dicas:
O melhor de Nafplio
Nafplio, meu lar no Peloponeso
2º dia - Bate e volta a Epidauros (30 km)
No nosso segundo dia na Argólida, saímos cedo para visitar o Santuário de Asclépio (Esculápio, filho de Apolo e deus da cura), conjunto arqueológico mais conhecido por seu magnífico anfiteatro, ou Teatro de Epidauros. Essa atração fica a 30 km do nosso hotel e a distância similar do Centro de Nafplio.
É importante não confundir o Santuário de Asclépio (Asclepeion) e o Teatro de Epidauros com o Sítio Arqueológico de Epidauros, onde também há um teatro da Antiguidade. Este segundo fica um pouquinho mais adiante do Asclepeion, a 37 km de Nafplio, às margens do Golfo Sarônico — assim, você não erra ao programar seu GPS.Néa Epidavros é muito procurada por praticantes de mergulho |
Como era feriado de Sexta-Feira Santa Ortodoxa, o Asclepeion só ia abrir para visitas ao meio-dia. E aí, entra mais uma vantagem de estar fazendo esse roteiro de carro na Grécia: pra fazer hora, fomos passar o resto da manhã à beira-mar, na vila pesqueira de Néa Epidavros (Nova Epidauros), em vez de ficar mofando em frente à portaria do sítio arqueológico.
Com cerca de 1.000 habitantes, a Néa Epidavros é muito procurada por mergulhadores e tem um monte de pequenas agências oferecendo aluguel de equipamentos e expedições de mergulho.
Esse ponto de mergulho fica nas imediações do Vulcão Metana, uma ilha quase em frente a Nea Epidavros.
O Santuário de Asclépio era um centro de saúde procurado por pacientes de todo o mundo grego, na Antiguidade |
Por volta do meio-dia, já estávamos de volta ao Asclepeion, que eu já tinha visitado em 2012 — e tinha ficado embasbacada com o lugar. Pois esta segunda vez teve o mesmo encantamento,
O Santuário de Asclépio era um sofisticado centro de saúde na Antiguidade. Um complexo que reunia o espaço para internações, templos para sacrifícios e oferendas e outros rituais, um ginásio de esportes, um estádio para corridas e outras modalidades e o famoso Teatro de Epidauros, pois o esporte— a prática ou o entretenimento como espectador — e a catarse buscada pela dramaturgia grega eram tidos como importantes elementos de cura.
O Museu do Santuário de Asclépio guarda vestígios arqueológicos escavados no sitio, como elementos decorativos das construções e ex-votos oferecidos pelos pacientes curados no sanatório |
Além dos vestígios dessas diversas estruturas e do Teatro de Epidauros (construído no Século 4º a.C. e muito bem preservado, ainda em uso frequente para todo tipo de espetáculo), o Asclepeion tem um museu pequenininho, mas bem interessante.
Saiba mais: Epidauros espetacular!
Micenas está no topo das coisas mais espetaculares que eu vi na Grécia |
Terceiro dia na Argólida, hora de visitar a cidade-sede da poderosíssima civilização que colocou essas terras no mapa, nas lendas, na literatura e na imaginação do planeta: Micenas, o grande centro de poder do Mediterrâneo Oriental na Idade do Bronze, há pelo menos 4 mil anos.
A história do império micênico já é trepidante. A lenda é muito mais: a cidade fundada por Perseu — filho de Zeus, matador da Medusa, semideus e herói de tantas façanhas — teve suas muralhas construídas por ciclopes (olhando pra elas, a gente acredita piamente nisso). Foi governada por Agamenon, o grande fomentador e general da guerra de Troia. Também foi palco do sacrifício de Ifigênia, da vingança de Clitemnestra, da desforra de Orestes...
No alto, a Porta dos Leões. Acima, as "muralhas construídas por ciclopes" |
Esta foi minha segunda visita ao Sítio Arqueológico de Micenas, mas atravessei a Porta dos Leões, entrada triunfal da cidade fortificada, com o mesmo coração aos pulos da primeira vez.
O Sítio Arqueológico de Micenas é uma das coisas mais maravilhosas que vi na Grécia. A cidadela ainda é perfeitamente reconhecível nas ruínas. Lá do alto, a paisagem da Argólida, mar e montanhas, deixa a gente hipnotizada.
O Museu de Micenas é uma super aula sobre a história da poderosa cidade |
Não perca o Museu do Sítio Arqueológico de Micenas, que eu recomendo que você visite antes de explorar as ruínas, pra compreender melhor o que vai ver na cidade de Agamenon.
O Tesouro de Atreu foi local de sepultamento de poderosos de Micenas |
Depois disso, desça cerca de 1,5 km da estrada para visitar o Tesouro dos Atreus, uma tumba monumental onde foram sepultados alguns poderosos da civilização micênica.
Saiba mais: Micenas, terra de gigantes
Nafplio vista da Fortaleza de Palamidi. Pra mim, a cidade é uma síntese de tudo que a gente espera da Grécia: paisagens, praias e patrimônio histórico |
Castelo de Larissa em Argos
A apenas 12 km de Nafplio, a cidade de Argos foi a primeira potência marítima e comercial da Antiguidade helênica e tem pelo menos 6 mil anos de história — uma das povoações contínuas mais antigas do mundo.
Atualmente, Argos tem pouco interesse turístico. Na minha primeira viagem à Grécia, ela era “a cidade onde o ônibus de Nafplio fazia uma parada”, quando eu ia e voltava de meus passeios pela Argólida. Mas desde aquela época, sempre quis ver de perto o Castelo de Larissa, que localizado a quase 300 metros de altura sobre a cidade, no topo de uma montanha que na Antiguidade abrigava uma acrópole.
O Castelo de Larissa fica lááááááá no alto e vale a visitinha |
E de tanto ver o Castelo de Larissa da varanda do meu quarto, no hotel em Tirinto, é claro que eu tinha que dar um pulo lá, antes de seguir para o Centro de Nafplio.
As fortificações construídas por bizantinos e venezianos sobre a velha acrópole fica no final de uma estrada de 5 km, muito tortuosa e vertiginosamente íngreme. Mas a vista lá do alto compensa cada frio na barriga, nas curvas à beira do precipício.
Nafplio, αγάπη μου (meu amor)Um dos grandes prazeres de toda a nossa estadia na Argólida
era curtir Nafplio. Pra mim, ela é uma espécie de síntese
da Grécia, com paisagens escandalosas, praias gostosíssimas e patrimônio
histórico de diversas épocas.
Em Nafplio você encontra heranças da Antiguidade Grega (como
a antiga Acrópole, ou Acronafplia), igrejas e edifícios bizantinos, fortificações
venezianas (como a Fortaleza de Palamidi) e turcas (antigas mesquitas, diversas fontes e o Forte
Bourtzi), por exemplo e um conjunto arquitetônico neoclássico lindíssimo nos
edifícios do Centro Histórico.
Nafplio é puro charme, viu? |
A Acronafplia foi uma Acrópole dórica na Antiguidade, convertida em fortaleza pelos venezianos, que dominaram Nafplio por 400 anos |
Além disso, Nafplio tem ótima infraestrutura turística, com bons restaurantes, bares, cafés, lojinhas charmosas e hospedagem para vários tipos de orçamento.
Escolher uma mesa à beira-mar na Promenade (calçadão) para bebericar
no final de tarde é sempre uma grande pedida. Mas quem se embrenhar pelas
ruelas e escadarias que sobem montanha acima também vai encontrar cantinhos
super agradáveis para jantar ou tomar um drinque.
Uma antiga mesquita e sua fonte são herança otomana em Nafplio |
O banho de mar na Praia de Arvanitia é um programão para um dia de sol |
A arquitetura neoclássica do Século 19 é mais um encanto de Nafplio |
Todos os dias, depois dos passeis pela Argólida, era pra Nafplio que a gente corria. Mas, neste quarto dia na região, tinha chegado a hora de dedicar um dia (quase) inteirinho a essa cidade tão especial. Saímos cedinho pra ver o Castelo de Larissa e depois corremos pra lá.
Um dia perfeito em Nafplio começa com banho de mar na Praia de Arvanitia, dentro da cidade. Depois, experimente visitar o Museu Arqueológico, na Praça Syntagma, a fortaleza do Bourtzi (no meio do mar, alcançado por barquinhos regulares) e perca-se no labirinto de ruas que sobem a montanha rumo à Acronafplia, para vistas estonteantes da cidade. No fim da tarde, escolha um restaurante à beira-mar e seja feliz.
5º dia - despedida da Argólida, rumo à Península de Mani (150 km)
Depois de quatro noites em Nafplio/Tirinto, chegou a hora de dar tchau à Argólida e seguir para a Península de Mani, no extremo Sul do Peloponeso. Programamos duas noites na região, uma em Githio (na Praia de Mavravouni) e a segunda na vila de Areópolis.Visita à Fortaleza de Palamidi
Antes de seguir para o Sul, porém, tínhamos um encontro marcado em Nafplio, a visita à espetacular Fortaleza de Palamidi, encarapitada em uma montanha 200 metros acima da cidade.
Nem a pau a gente iria embora de Nafplio sem visitar a Fortaleza de Palamidi |
A Fortaleza de Palamidi é uma visão quase onipresente para quem passeia por Nafplio. Foi construída no Século 17 pelos venezianos, durante seu domínio da cidade, e era considerada inexpugnável — até os otomanos a tomarem em 1715. Em 1822, durante a Guerra de Independência, foi a vez dos gregos repetirem a façanha.
Além da importância estratégica no controle de Nafplio e de uma vasta biografia de aventuras, a Fortaleza de Palamidi oferece uma vista para a cidade e para o Golfo da Argólida que é simplesmente de rasgar a roupa. Essa visita — que a gente não fez nos dias anteriores por conta dos horários mais restritos dos feriados de Páscoa — atrasou nossa programação do dia, mas valeu muito.
Nafplio vista das muralhas da Fortaleza de Palamidi |
Eu já tinha visitado as fortificações na viagem de 2012 e continuo recomendando demais essa atividade. Veja aqui: A Fortaleza de Palamidi em Nafplio
O plano original era sair bem cedinho do hotel e pegar a
estrada para Githio, com tempo de parar na antiga vila bizantina de Mistras, a
150 km de Nafplio e do ladinho de Esparta.
Mistras foi fundada no Século 13 e, durante a Idade Média, foi
um importante centro religioso e cultural bizantino. O sítio arqueológico está
muito bem preservado e seus mosteiros, igrejas e palácios atraem gente do mundo
inteiro.
Nossa visita a Mistras, porém, foi frustrada pela chuva inclemente que caía quando, finalmente, chegamos ao sítio arqueológico, nas primeiras horas da tarde. Pela hora, nem valia a pena esperar a chuva dar trégua. Mistras não é um lugar que se visita facinho e rápido.
Situada numa encosta muito íngreme de um pico da cordilheira
Taígeto (a mais alta do Peloponeso), a antiga vila bizantina exige fôlego e
panturrilhas calibradas para o sobe e desce.
Foi assim que, com o carro estacionado em frente à
bilheteria de Mistras, resolvemos seguir viagem para Githio, 50 km ao Sul.
Na estrada para Esparta e Mistras |
Um erro de planejamento e o que eu faria diferente
Sabendo o que sei agora, eu não teria planejado sair de
Nafplio (mesmo que cedinho, sem a visita a Palamidi) para ver o Sítio
Arqueológico de Mistras.
Teria sido mais razoável programar um pernoite em Esparta (a
5 km) para ver a vila bizantina logo de manhã cedo, com bastante tempo pra
respirar e recobrar o fôlego nas subidas. O lugar é bem grande (mais de 500 mil
m²), dividido em “cidade alta” e “cidade baixa”, daí você calcula que não é
visita para um par de horas.
Esparta, assim como Argos, é hoje uma cidade bem sem
gracinha, mas tem alguma estrutura turística, como hotéis e,
principalmente, apartamentos para aluguel por temporada. Outra opção é dormir
na moderna vila de Mistras, aos pés do sítio arqueológico — mas aí as acomodações
têm preços bem mais sagrados do que na cidade de Leônidas.
Praia de Mavravouni, na Península de Mani |
Mavravouni
O erro de planejamento também custou a tarde de praia que eu
tinha planejado em Mavravouni. Cheguei à beira-mar depois das 16 horas, com um
ventinho que não recomendava o mergulho nas belas águas azuis, ainda geladinhas
pelo mês de maio. Só molhei os pezinhos.
Nossa pousada em Mavravouni era lindinha, confortável e pertinho da praia. Esta é a vista da varanda do meu quarto |
O melhor da passagem pela Praia de Mavravouni acabou sendo a hospedagem em um hotelzinho boutique muito gostoso, o Dimani Suites, que merece uma estadia mais longa para curtir o mar (a cerca de 500 metros) e a piscina. A suíte com varanda, vista para o mar e dois quartos (um deles no mezanino) custou € 84 para ocupação dupla. O hotel fica a 3 km do centrinho de Githio.
6º dia - Githio e Areópolis
Estava curiosíssima pra visitar Githio, apontada como uma das vilas à beira-mar mais interessantes da Península de Mani. E ela é mesmo muito fofa, com aquele climinha de “ilha grega”, arquitetura colorida e muitos barquinhos de pesca ancorados na sua enseada.Githio é muito lindinha |
Chegamos lá depois do café da manhã e já esticamos o olhão para os polvos pescados ali mesmo, que são deixados em “varais” para secar ao sol, antes de seguirem para as panelas dos restaurantes.
Githio (ou Ghyteio, ou Gíteo) tem 7 mil habitantes, mas, ainda assim, é a principal povoação da Península de Mani, área que começou a entrar no mapa de viajantes estrangeiros na última década.
Na Antiguidade, Githio foi um importante porto dominado por Esparta. Em frente à vila fica a Ilha de Kranai, que a lenda aponta como tendo sido o local onde Paris e Helena passaram a primeira noite juntos, após a fuga de Esparta.
Essa ilha, hoje ligada à terra firme por uma calçada, é dominada por um farol danadinho de fotogênico, mas inacessível ao público. O calçadão à beira-mar de Githio, cheio de restaurantes, rende um belo passeio, mas é bom você saber que não há uma praia na altura da vila — se quiser dar um mergulho, recomendo Mavravouni.
Depois do Almoço em Githio, seguimos para Areópolis, nosso
terceiro pouso neste roteiro de carro na Grécia.
Com cerca de 1 mil habitantes, a pitoresca Areópolis (ou “cidade de Ares”, deus da guerra) é muito orgulhosa de ter gerado a fagulha que deu início à Guerra de Independência da Grécia contra o domínio Otomano, em 1821. Foi aqui que começou uma rebelião que deu origem a todo o processo.
Localizada nas montanhas, a apenas 26 km de Githio, ela é
completamente diferente de sua vizinha à beira-mar. Suas características
construções em pedra nua dão a Areópolis uma feição sóbria e monocromática,
quebrada apenas pelos salpicos de cores das buganvílias, das toalhinhas xadrez
das mesas ao ar livre de seus restaurantes e nas portas e janelas pintadas, geralmente naquele tom que eu chamo de azul Egeu.
As fachadas sóbrias de Areópolis ganham uma vivacidade aconchegante com os detalhes coloridos |
Apesar de pequena em população, Areópolis fervilhava de visitantes na tarde/noite que passamos batendo pernas por suas ruazinhas ou bebericando preguiçosamente em uma “mesa de pista”, olhando o movimento.
Acho que aqui neste ponto também houve um errinho de planejamento:
talvez tivesse sido mais interessante dormir duas noites em Mavravouni e ver
Areópolis sem pernoite. A cidade é muito fofinha, mas perto demais de Githio
pra justificar a troca de hospedagem (a principal vantagem de pernoitar lá é que eu e Rose pudemos beber sem preocupações com quem ia dirigir).
7º dia - de Areópolis a Olímpia (210 km)
Acordamos em Areópolis na sétima manhã do nosso roteiro de
carro na Grécia sem muita pressa. Aprendemos a lição com nossa tentativa
frustrada de visitar Mistras e decidimos cortar algumas ideias de paradas no
caminho até Olímpia, nosso próximo destino.
Na saída de Areópolis pra Olímpia, nos embrenhamos em um olival (não foi a primeira vez, nem a última) |
Uma das grandes vantagens de viajar de carro é poder improvisar e parar onde a gente quiser, fazer desvios e explorar aquela vilazinha fofa que apareceu na janelinha do carro. Mas sem exagero. Não vale a pena ficar quicando pela estrada só pra bater o carimbo em localidades que não se vai conseguir ver com calma, nem com prazer.
Ainda que este fosse o nosso sétimo dia de roteiro rodoviário, era o 25º dia de uma viagem que tinha começado lá em Madri. Já aprendi que quando a gente monta um roteiro, tem que ir maneirando na intensidade, à medida que passa o tempo, pra não cansar.
Olímpia, here we go |
E foi assim que decidimos seguir direto pelos 210 km que nos separavam de Olímpia sem desviar pra ver a vila praiana de Limeni nem o Templo de Apolo Epicuro, no alto de uma montanha, a 150 km de Areópolis.
Li um bocado sobre esse templo de Apolo e estava doida para visitá-lo. Mas ir até lá, no ziguezague de uma estrada de montanha, ia tomar muito tempo. Seria um desvio de mais de 100 km na nossa rota, que o Google Maps calculava como um acréscimo de 3 horas (contando a ida e a volta) na viagem.
Mesmo sem qualquer desvio, percorremos os 210 km entre Areópolis e Olímpia em quase quatro horas. A estrada tem trechos com muitas curvas, atravessa vilarejos (quando o limite de velocidade é bem baixinho) e ainda pegamos chuva.
A Estação Ferroviária de Olímpia ainda é parada de trens regionais |
8º dia - Olímpia
Olímpia até hoje vive em função do importantíssimo santuário
dedicado a Zeus, deus supremo dos antigos helenos, celebrado num festival que
conhecemos como os Jogos Olímpicos originais.
Na Antiguidade, ela fervilhava em torno do antigo complexo de templos, espaços de competições esportivas e outras estruturas. A cidade contemporânea, com apenas 7 mil habitantes, vive do turismo que orbita as memórias preservadas nas ruínas no sensacional museu que integra o conjunto arqueológico de Olímpia.
O Museu Arqueológico de Olímpia é sensacional |
A infraestrutura turística da cidade (bares, hotéis, restaurantes e comércio) atende bem aos turistas, sem luxos.
Mas, à exceção da visita ao museu e ao sítio arqueológico de Olímpia (baita espetáculo imperdível), vai ser difícil encontrar entretenimento na cidade. Por isso, tem gente que faz bate e volta de Atenas até lá (acho uma maluquice: são 300 km de distância).
Em um roteiro diferente do nosso, nem pense em reservar duas
noites pra Olímpia, que vai ser muito: nossa visita ao museu e ao sítio
arqueológico durou cerca de quatro horas.
Os Jogos Olímpicos nasceram aqui |
O Sítio Arqueológico de Olímpia está imerso em uma área verde muito agradável |
Pra nós, porém, os dois pernoites foram o melhor arranjo possível, considerando o tempo de deslocamento de Areópolis a Olímpia, a viagem daí ao Porto de Kyllini e os horários dos ferries para Cefalônia.
9º dia - de Olímpia à Ilha de Cefalônia (70 km + travessia de ferry)
Nono dia de roteiro, hora de voltar pra a beira do mar. Fizemos
a viagem de 70 km de Olímpia ao Porto de Kyllini em cerca de 1 hora. O
trajeto é bem tranquilo, sem muitos volteios por montanhas.
Nosso ferry entre Kyllini e o Porto de Poros, na Ilha de Cefalônia, saiu ao meio-dia. A travessia dura cerca de 1h20. Compramos passagem para o ferry das 12:15h pra acordar com calma e pegar a estrada até Kyllini sem sobressaltos.
A empresa Levante Ferries opera as travessias para Cefalônia, Zaquintos e Ítaca |
A empresa que opera as travessias para Cefalônia (e também para Zaquintos e Ítaca) é a Levante Ferries. Ela vende passagens pela internet, todos os bilhetes são com hora marcada (na Grécia é assim, não é esse inferno do Ferryboat Salvador-Itaparica). As embarcações são muito confortáveis.
Pagamos € 13,50 por passageira (maior de 60 anos) e mais € 45 pelo carro na ida e € 40 na volta. O total ficou em € 139 (€ 69,50 por cabeça). Se a sua ideia é ir direto de Atenas a Cefalônia, saiba que a passagem de avião fica na casa dos € 120 (cada perna) com a Aegean Airlines e os voos diretos da capital até a ilha duram 1h15.
Porto de Poros na Ilha de Cefalônia |
Ao desembarcar em Cefalônia, atravessamos a ilha de Leste a
Oeste para Argostoli (a capital), onde ficamos hospedadas. Levamos cerca de 1
hora para vencer os 40 km que separam Poros de Argostoli — e você já adivinhou
que o motivo da lentidão foram as muitas curvas pelas montanhas.
10º, 11º e 12º dias - Cefalônia (e passeio de barco a Ítaca)
Gente, como Cefalônia é bonita! Naquele triângulo de 935 km²,
o litoral cheíssimo de recortes tramou com as montanhas um cenário de sonho,
com o auxílio luxuoso do azulíssimo Mar Jônico ao redor. Pra onde você olha, tem uma
paisagem de rasgar a roupa.
Nem o terremo(tinh)o de 4,4 na Escala de Richter que pegamos, logo que entramos na pousada (que eu achei que era o efeito de um caminhão descendo a ladeira feito maluco), empanou minha paixão pela ilha.
Isso é uma prainha básica em Cefalônia |
Ficamos hospedadas quatro noites em uma pousada muito gostosa, localizada em uma encosta diante da cidade de Argostoli (adivinha se a vista era linda).
Como estávamos de carro, a localização era perfeita: fácil
de pegar a estrada para as praias, fácil de chegar ao centrinho de Argostoli
pra curtir os bons restaurantes e o agradável calçadão à beira-mar.
Nesses quatro dias, aproveitamos bem as praias de Cefalônia
e fizemos um passeio de barco de dia inteiro à vizinha Ilha de Ítaca, a casa de
meu herói Odisseu.
Só mesmo contando com um carro pra poder ficar fora da cidade, com esta vista, numa pousadinha gostosa |
Um alerta importante: Cefalônia sem carro não existe. Com cerca de 50 km, na direção Norte-Sul e cerca de 40 km de Leste a Oeste, o automóvel é fundamental para explorar as belezas da ilha e chegar às melhores praias.
Ainda que você chegue a Cefalônia de avião (e tem bastante
oferta de voos pra lá), trate de alugar um carro pra aproveitar o que a ilha
tem de melhor.
13º dia - de Cefalônia a Aráchova (travessia de ferry mais 210 km)
Devo confessar que fui embora de Cefalônia a contragosto.
Teria ficado lá umas duas semanas, facinho, curtindo as praias, a comida e o
sossego.
A Ponte Rio-Antirio, sobre o Canal de Corinto, é uma importante ligação entre o Peloponeso e a Grécia Central. É a segunda ponte estaiada mais longa do mundo |
Mas, como estava na Grécia, sair de um lugar maravilhoso sempre significa ir pra outra localidade deliciosa.
Então, lá fomos nós fazer a travessia do Porto de Poros até
Kylllini e encarar 210 km de estrada até Aráchova, nosso próximo pouso.
De volta à terra firme (sem trocadilho com o terremotinho), dá pra dividir esse trajeto em duas partes bem distintas. De
Kyllini a Patras (pouco menos de 80 km), a estrada é plana, com poucas curvas e
trechos duplicados e com limites de velocidade elevados.
Ao chegar à Grécia Central, a paisagem muda |
Mas lembre-se que Patras é o porto comercial mais importante da Grécia. O caminho até lá foi o trecho do roteiro no qual mais encontramos caminhões na estrada.
Patras é a capital do Peloponeso. Logo após a cidade (13 km)
está a ponte Rio-Atirio, sobre o Golfo de Corinto, ligando o Peloponeso à
Grécia Central.
Feita a travessia da ponte (€ 14 de pedágio), a paisagem e a
estrada mudam bastante. Nos próximos 125 km até Aráchova você vai dirigir entre
as montanhas e o Golfo de Corinto, passando por muitas cidadezinhas de veraneio
e depois vai começar a percorrer um tremendo ziguezague de curvas, subidas e
descidas bem vertiginosas.
Chegamos a Aráchova no meio da tarde. A cidade, que eu já chamei aqui de "Campos do Jordão da Grécia" (é lá que os atenienses vão, quando querem passar frio), fica a quase 1.000 metros de altitude e é um concorrido centro de esqui. Vive basicamente desse turismo de inverno e tem ótima infraestrutura.
Ainda que pequenininha, com pouco mais do que 3 mil
habitantes, Aráchova tem muitas opções de hospedagem, para todos os orçamentos,
bares, restaurantes e lojinhas fofas. Ficamos em um hotel bem “serrano”, fora
da cidade (a 8 km, vantagem pra quem tá de carro, né?), porque o nosso principal interesse
por lá era mesmo visitar o Sítio Arqueológico de Delfos, que fica do ladinho.
Os atenienses vão pra Aráchova quando querem sentir frio |
14º dia - Visita a Delfos e viagem a Meteora (230 km)
Nesse 14º dia do roteiro de carro na Grécia já saímos do hotel
de Aráchova com as bagagens e seguimos para a visita ao Sítio Arqueológico de
Delfos, a cerca de 18 km da nossa hospedagem.
O antigo Santuário de Apolo em Delfos foi o centro
espiritual do mundo grego, na Antiguidade, e era lá que as pitonisas
(sacerdotisas que viam o futuro) faziam suas profecias.
Rever Delfos foi emocionante |
O santuário de Delfos fica aos pés o Monte Parnaso (montanha onde moravam as musas, na mitologia) e é uma visita simplesmente imperdível.
Foi minha segunda visita a Delfos e eu amei na mesma
intensidade — e mais ainda porque desta vez eu pude visitar o fabuloso museu
que funciona no complexo arqueológico.
Veja como foi minha primeira visita ao Santuário de Apolo > Delfos, o centro do mundo
Almoçamos no centrinho da cidade de Delfos e voltamos a cair
na estrada, a caminho de Meteora, um esticão de 220 km (na Grécia, qualquer trajeto
de mais de 100 km é um esticão, por causa das subidas, descidas e curvas).
E ainda tive a chance de conhecer o excelente Museu Arqueológico de Delfos, que não deu pra ver na primeira visita |
Chegamos a Meteora no final da tarde. Nossa hospedagem foi na Vila de Kastraki, praticamente aos pés de São Nicolau, um dos famosos mosteiros suspensos da área (a 300 metros da pousada). Da varanda do meu quarto, a vista para as formações rochosas era de rasgar a roupa.
15º e 16º dias - Meteora
Que bom que reservamos três noites em Meteora. Muita gente vai até lá em passeios bate e volta, saindo de Atenas (700 km, contando ida e volta, uma pedreira). Que dá, no limite, até dá. Mas não recomendo.
Meteora é uma miragem |
No nosso primeiro dia em Meteora, o tempo estava muito feio, encoberto. Já pensou a frustração de chegar lá, ver quase nada de paisagem e tocar de volta pra Atenas?
O melhor de Meteora é zanzar um monte por aquelas estradinhas, parando pra ver paisagens estonteantes e escolher alguns mosteiros para visitar — ainda há seis deles em funcionamento e abertos ao público.
E foi o que a gente fez, sem maiores agonias.
Nossa pousada super gracinha em Kastraki fica de cara para as formações rochosas de Meteora |
E ainda deu pra aproveitar bons restaurantes na Vila de Kastraki (1.000 habitantes) e na vizinha Kalambaka (população de 10 mil pessoas) — as duas são grudadinhas, quase não dá pra perceber que você saiu de uma e chegou na outra.
Quem vai a Meteora tem que estar ciente das escadarias épicas que terá que subir para visitar o interior dos monastérios — eles não são chamados de mosteiros suspensos por boniteza. Em alguns casos, será preciso encarar mais de 300 degraus.
Visitamos dois mosteiros, Agios Nikolaos (São Nicolau) e Agios Stephanous (Santo Estevão, o único sem escadarias) e nos esbaldamos nas dezenas de mirantes à beira das estradinhas que sobem e descem aquelas formações rochosas.
Eu já tinha estado em Meteora em 2012 e contei sobre a experiência aqui > Não é sonho, é Meteora
Seis mosteiros de Meteora estão em funcionamento e recebendo visitantes. Mas prepare-se para as escadarias |
17º dia - de Meteora a Atenas (350 km)
Pensa que acabou? Encerramos nosso roteiro de carro na
Grécia com mais um esticão — o mais longo dessa jornada— percorrendo 350 km até
Atenas.
A maior parte desse caminho é pela principal rodovia grega,
a Atenas-Tessalônica, autoestrada moderníssima, duplicada, com quatro pistas em
cada sentido, pouquíssimas curvas.
É um trajeto seguro e até rápido — o limite de velocidade
chega aos 140 km/h. Mas ô, coisinha monótona. Cadê as estradinhas retorcidas
nas montanhas? Cadê o engarrafamento de ovelhinhas? Cadê as paisagens?
Enfim, a parte boa é que estávamos indo pra a bela e querida
Atenas, para dois dias de despedida. Devolvemos o carro na sede da locadora, ao
lado do Aeroporto, embarcamos no metrô e lá estávamos nós de novo, de cara para
a Acrópole (literalmente). Mas esse é assunto para os próximos posts.
Algumas coisinhas que aprendi sobre a Grécia
Roteiro na Europa - Espanha, Portugal e Grécia
Dicas para organizar uma viagem à Grécia
A Grécia na Fragata Surprise
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