Como qualquer metrópole do Século 21, a capital grega tem vizinhanças para todos os gostos. Se você se dispuser a esticar os olhos para além da Acrópole, vai encontrar diversas cidades nos bairros de Atenas. E mesmo nas áreas onde se concentra o turismo, há variações marcantes — no astral e aparência — entre enclaves muitas vezes separados por uma rua.
Subir a pé de Plaka a Anafiotika é um dos grandes passeios pra se fazer em Atenas |
Nos bairros de Atenas mais conhecidos, cabem o pacato clima de vilarejo nas partes altas do bairro de Pláka e em Anafiotika — justo em Pláka, que tem trechos tão fervidos pelo turismo — e o escancarado frenesi de uma Lapa ou Pelourinho em Monastiráki.
Psyri tem uma pegada meio Vila Madalena, um bairro de trabalhadores, na origem, que a gentrificação agora faz ferver de bares e restaurantes. Mas o eco dos tempos idos ainda está lá |
Tem o turistão-elegante de Thisio e o boêmio semi-alternativo de Psyri. O low profile classe média de Petralona e o discreto charme da burguesia em Kolonaki.
E isso porque estou citando bairros de Atenas que todo mundo
que pesquisou um bocadinho sobre a cidade já conhece de nome.
Nesta viagem de maio de 2024, ampliei um pouquinho mais meu
chamego com Atenas explorando vizinhanças que já era conhecidas ampliando o meu
mapa da cidade.
Thisio é dono do lado mais bucólico das encostas da Acrópole |
Lamentei muito não ter tido tempo de conferir o borogodó da Praça Exarchia e arredores (área de estudantes politizados, de boêmios e contestadores em geral, tipo my kind of town) nem pra estreitar os laços com Makrygianni (o bairro em torno do Museu da Acrópole) e seu vizinho Koukaki, que anda muito bem falado.
Anafiotika tem igrejinhas singelas e casinhas inspiradas na arquitetura das Ilhas Cíclades |
Até Monastiráki consegue aquietar o facho em áreas como a Ágora Romana (na foto) e na Ágora Antiga |
Este post é uma espécie de terceira parte das dicas de passeios pela capital grega. A série e começou com um o que fazer em Atenas dedicado aos monumentos e atrações históricas, tem uma postagem dedicada aos museus e agora chega a esse compilado de informações sobre os bairros de Atenas por onde você certamente irá passar.
Espero que ajude seu planejamento. Veja as dicas:
Bairros de Atenas
Quanto mais a gente sobe as ladeiras de Pláka, mais sossego encontra. No alto, um trecho do bairro visto da Acrópole |
Pláka é o bairro mais antigo de Atenas e me parece uma daquelas representações do deus Hermes com duas caras: o rosto jovem contempla o burburinho frenético dos bares, restaurantes e lojas de suvenir que fervilham de turistas na parte baixa do bairro, a Kato Pláka.
A face velha olha para ladeiras estreitas, escadarias tortuosas e as ruas muito quietas da parte alta, a Ano Pláka — onde, sei lá como, os moradores conseguem enfiar seus automóveis, provavelmente pra dar um choque de realidade em quem começa a devanear com viagens no tempo.
Eu adoro Pláka e, por mais muvucada que esteja, é uma área incontornável pra quem quer tomar o pulso de Atenas — a nova e a velha, como as duas caras de Hermes.
A Torre dos Ventos vista de Pláka |
Vestígios de uma madraça otomana do Século 18 em uma das
ladeiras de Pláka |
A história do bairro se perde na bruma do tempo, numa ocupação humana que começou no período Neolítico e floresceu na Antiguidade, entre as encostas da Acrópole e a Ágora Antiga. A partir da Idade Média até o Século 19, foi o reduto da comunidade albanesa em Atenas.
De lá pra cá, Pláka mudou um bocado, chegou ao Século 21 e
vai longe — e continua sendo uma importante área de trabalho para arqueólogos,
que cotidianamente escarafuncham o terreno do bairro alheios à metrópole que o invade
com barulho, poluição, tráfego e multidões.
Fora da muvuca, Pláka é pura poesia |
Além da boemia dos bares de Pláka, sempre animados, você vai encontrar boas tavernas tradicionais (no meio de infinitas fileiras de pega-turistas), ruas adoráveis e sossegadas, na parte alta do bairro, e o imperdível Cine Paris, uma sala de projeção com mais de 100 anos de idade, instalada no terraço de um casarão (sem paredes e sem telhado), onde a gente nunca sabe se olha pra o filme na tela ou para a Acrópole.
Decoração de telhado de um casarão em Pláka |
É um barato constatar que até os bares da parte alta de Pláka são quietinhos |
Como chegar a Pláka: o bairro não tem metrô (aliás, nem imagino que pesadelo seria furar aquele terreno pra passar um trem), mas é facinho chegar lá com esse meio de transporte.
A Leste, há a Estação Syntagma (linhas 2 e 3). De lá, basta
descer a Rua Mitropoleous até a Praça da Catedral, e dobrar para o Sul.
Ao Norte tem a Estação Monastiráki (linhas 1 e 3). Daí, siga para o Sul pela Rua Adrianou por poucos quarteirões e pronto.
Ao Sul está a Estação Acropoli. (Linha 2). Siga dois quarteirões pela
Rua Makrigianni na direção Norte e você estará dentro das fronteiras de Pláka.
Plaka fica aos pés da Acrópole e é habitado desde o Neolítico |
Se você estiver indo pra Anafiotika, fique de olho na bandeira da Grécia no Bastião da Acrópole. O bairro fica abaixo dessa fortificação |
⭐Anafiotika
Igreja de São Simão dos Anafeus em Anafiotika |
A origem desse enclave em Pláka foi a chegada a Atenas de operários e artesãos da Ilha de Anafi (também transliterada como Anaphe, no Arquipélago das Cíclades), que construíram suas moradias morro acima, repetindo a estética e arquitetura de sua terra natal.
O Metochion do Santo Sepulcro em Anafiotika guarda uma chama trazida de Jerusalém e usada nas celebrações da Páscoa Ortodoxa |
Essa porção encantada de Atenas não tem um marco turístico a destacar. O prazer aqui é caminhar por Anafiotika (seria mais preciso dizer escalar Anafiotika como uma cabrita) envolta em um silêncio que quase não é deste mundo, namorando as casinhas minúsculas, adornadas por trepadeiras floridas e desembocando em pátios meio secretos e pequenos mirantes de sonho.
Um detalhe bem poético: na mitologia, a Ilha de Anafi teria
sido revelada por Apolo a Jasão e seus Argonautas como refúgio de uma
tempestade. Se a gente pensa no vai e vem, no trânsito e no barulho da metrópole
aos pés de Anafiotika entende que Apolo ainda guarda um porto seguro para os
viajantes do Século 21 nesse cantinho adorável de Atenas.
Anafiotika é paixão à primeira vista |
Como chegar a Anafiotika: partindo de Pláka e Monastiráki, há vários caminhos para chegar a Anafiotika. O que eu costumava fazer, hospedada na Rua Mitropoleous, era dobrar à esquerda (para quem vem da Praça Syntagma) na Praça da Catedral de Atenas, que está a 600 metros do coração bairro.
Da Catedral, seguia a Rua Palaiologou Benizelou na direção Sul — no caminho está a Casa Benizelou (Venizelos), do Século 18, que pertenceu a uma rica
família grega na época do domínio otomano. Daí, ia me embrenhando por ruelas e ladeiras de Plaka até chegar.
Dá vontade de tocar a campainha e ficar amiga da dona da casa, né? |
Pra facilitar sua vida, use as sugestões do Google Maps. Tome como referência a Casa Benizelou, que fica na esquina da Rua Palaiologou Benizelou com a famosa Rua Adrianou (que pode traçar sua biografia até a Antiguidade), fervendo de turistas, restaurantes e lojas de souvenir.
Esta rota pra Anafiotika deixa você de cara para o gol |
Vire à direita na Rua Adrianou, na direção Oeste. Daí a duas quadras está a Rua Mnisikleous, que você vai seguir por poucas quadras até encontrar a Rua Prytaneiou, que é a fronteira oficial entre Pláka e Anafiotika.
⭐Kolonaki
Aos pés do Monte Licabeto (que se pode subir com um
funicular), Kolonaki é um bairro chique, com edifícios modernos, casarões
elegantes, avenidas arborizadas, restaurantes badalados e lojas caras.
O Museu Benaki é a grande atração do bairro de Kolonaki |
O topo do Monte Licabeto (aqui visto do Templo de Hefesto, na Ágora) pode ser alcançado por uma trilha e por um funicular |
Kolonaki faz divisa com o Jardim Nacional |
Quem chega pela Estação Evangelismos (Linha 3) vai estar de cara para o Jardim Nacional e para a Galeria Nacional (museu dedicado à arte grega e europeia) e a poucos passos do Museu da Guerra. O funicular do Monte Licabeto está a 600 metros do metrô.
Me senti jantando em um quintal de casa de amigos em Petralona |
O que me atraiu a Petralona foi a promessa de encontrar uma Atenas de atenienses — tá, uns atenienses mais alterantivinhos e desencanados do que a média.
O que eu encontrei foi um bairro muito simpático, com uma pegada que flutua entre o residencial e o boêmio e uma das grandes refeições que fiz nesta passagem pela cidade — e, sim, uma quantidade razoável de atenienses, mas nada parecido com uma multidão.
Ê o mais incrível é que essa vizinhança nada turística e
muito agradável fica a apenas uma estação de metrô do fervo em Thisio (e a duas
do triple-fervo de Monastiráki).
É difícil acreditar que Petralona esteja a apenas uma estação de metrô de Thisio |
Para quem olha de Thisio, Petralona (pronuncie Petrálona) fica atrás do Monte Philoppapos (ou Monte das Musas).
Ao desembarcar na estação de metrô do bairro, no começo de
uma noite de abril, dei de cara com uma concentração enorme de bares bem movimentados.
Por recomendações que li aqui e ali, caminhei os 400 metros que
separam a estação da Plateia (praça) Mercouri, onde há bares e tavernas bem de
bairro, frequentados por moradores geralmente jovens — mas não tão jovens que
fizessem as senhorinhas se sentirem fora do lugar.
Desculpaê, que a foto não tá muito instagramável, mas é que esse giouvetsi chegou à mesa tão perfumado que eu comecei a comer antes de fotografar 😉 |
No olhômetro, eu e Rose escolhemos uma mesinha ao ar livre no singelo η αυλη (pronuncia-se i avli e significa o quintal), que sequer tem placa em alfabeto latino. É um lugarzinho super relax, realmente com cara de quintal de casa de amigos.
A ideia era só bebericar, mas vi que a casa tinha giouvetsi
no cardápio — a única vez que encontrei esse prato sensacional nesta passagem
por Atenas e acabamos jantando.
E como jantamos bem! O giouvetsi estava maravilhoso, as
bebidas — vinho pra Rose, Metaxa pra mim — eram honestíssimas e, como diz Homero
na Ilíada e na Odisseia, bebemos e comemos "até que nossos corações estivessem
satisfeitos". Pagamos € 12 cada uma e voltamos pra casa felizes da vida.
O Zephyros é um dos cinemas ao ar livre mais queridos de Atenas |
Ah, antes que eu esqueça, Petralona é a casa de um dos mais queridos cinemas ao ar livre em Atenas, o Cine Zephyros, com programação focada em filmes clássicos, independentes e documentários. As projeções são sempre no idioma original, com legendas em grego.
η αυλη | Dorieon nº 37, na Praça Mercouri. Funciona de segunda a sexta das 17h à 1h da manhã. Aos sábados e domingos, das 13h à 1h.
Cine Zephyros | Troon nº 36, a 500 metros da Estação Petralona do metrô. Acompanhe a programação pelo Instagram @zefyroscinema.
Como chegar a Petralona: como já tá explicado acima, use o metrô. A Estação Petralona é servida pela Linha 1.Praça de Monasdtiráki: a Mesquita Tzistarakis, do Século 17, abriga uma sessão do Museu de Arte Popular da Grécia. À direita, a estação do metrô. E repare a Acrópole olhando a muvuca, lá no alto |
Se me permitem comparar, acho Monastiráki a versão ateniense do Pelourinho, em Salvador, sem as ladeiras — coisa rara em Atenas.
O lugar é lindo, lotado de preciosidades históricas, mas as
marcas mais fortes do bairro, pra mim, são o vai e vem de gente e as calçadas
abarrotadas pelas mesas ao ar livre dos restaurantes pega-turistas (sempre
disputadas) e pelos balaios e mostruários das lojas de suvenires cafonas.
A cena descreve, principalmente, as ruas Adrianou e
Pandrossou, estreitas e exclusivas para pedestre nesse trecho.
Não se assuste com o burburinho. Monastiráki também é capaz de ter ruas fofinhas como esta |
A Biblioteca de Adriano marca uma das entradas da Ágora
Romana |
Portão de Athena Archegetis era o acesso Oeste da
Ágora Romana |
A Ágora Romana está a 100 metros do burburinho da Praça de Monastiráki |
Mas que um raio de Zeus me fulmine agora, agorinha, se eu não disser que Monastiráki é imperdível — no mínimo, incontornável.
Não só porque é lá que ficam a Ágora Romana e uma das
entradas da Ágora Antiga. E não só porque o bairro tem uma vista pra a Acrópole
de rasgar a roupa.
Vá a Monastiráki pra ver igrejinhas bizantinas meio perdidas na muvuca, fachadas gastas pelo tempo e cara de sábias, pra lembrar que o belo não é asséptico (não deveria ser, pelo menos).
Igreja de Panagia Kapnikarea, do Século 11 |
A Igreja de Pantanassa, no centro da Praça de Monastiráki, é
a responsável pelo nome do bairro |
E aí você vai dar de cara com a meio escondida Igreja de Panagia Kapnikarea, do Século 11, sitiada pelos edifícios e lojas da Rua Ermou.
Outras, como a Igreja de Pantanassa, do Século 10, está plantada no meio da Praça de Monastiráki e a gente descobre a biografia bisbilhotando a narração dos guias de excursão. (O bairro tem esse nome por causa dela, que era parte de um mosteiro que havia ali, muito antes da muvuca chegar. Monastiráki significa “pequeno mosteiro”).
Vá, enfim, porque Monastiráki é uma bagunça, mas tem alma.
Que nem o Pelô.
Como chegar a Monastiráki: a estação de metrô que leva o nome do bairro, servida pelas linhas 1 e 3, deixa você de cara para o gol, na Praça de Monastiráki.
Planeta dos Macacos, o Reinado estava prestes a estrear neste cineminha de rua em Psyri |
A vista pra a Acrópole é um dos encantos de Thisio |
⭐Thisio e Psyri
Dicas de transporte em Atenas e arredores
Acrópole, o coração de Atenas
Museu da Acrópole de Atenas
A Ágora Antiga de Atenas
Museu de Arqueologia de Atenas
Templo de Zeus Olímpico
Meus motivos para amar Atenas
Algumas coisinhas que aprendi sobre a Grécia
Roteiro na Europa - Espanha, Portugal e Grécia
Dicas para organizar uma viagem à Grécia
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