Pra mim, o Peloponeso é a síntese da Grécia, reunião de paisagens deslumbrantes, história riquíssima e praias deliciosas. Na imagem, a cidade de Nafplio, meu grande xodó grego |
Atenas é imperdível, as ilhas gregas são um espetáculo, mas,
se eu fosse você, dedicaria um bom pedaço de seu roteiro pela Grécia ao
maravilhoso Peloponeso.
Fiz isso na minha primeira viagem, em 2012, e repeti agora, no retorno ao país, em abril/maio de 2024. E ainda pretendo voltar muito ao Peloponeso.
Monemvasia é outra paixão arrebatadora no Peloponeso |
A grande península em formato de mão que a gente vê no mapa da Grécia é a síntese perfeita do que a gente espera do país: o Peloponeso tem uma história riquíssima, bem representada em sítios como Olímpia, Micenas e Epidauros. Também é cenário de uma infinidade de narrativas da mitologia, tem paisagens deslumbrantes e praias maravilhosas.
Se você está procurando um destino lindo, barato e cheio de atrações imperdíveis na Grécia, se jogue no Peloponeso. Veja alguns motivos pra se apaixonar por ele:
Mar Egeu de um lado, Mar jônico do outro e quatro dedinhos-penínsulas na mão do Peloponeso |
O jeito mais frequente de se chegar ao Peloponeso é pela estrada. A região tem dois aeroportos de pequeno porte, em Kalamata e em Patras, que recebem apenas voos sazonais, na época do verão. A oferta de transporte público de Atenas à diversas localidades da península é bem sortida e viajar de carro por lá é uma grande ideia.
De carro, um trajeto de pouco mais de uma hora liga Atenas ao Canal de Corinto (no alto), porta de entrada para o Peloponeso |
Não se avexe pela falta de avião. Em pouco mais de uma hora de viagem rodoviária, partindo de Atenas (cerca de 80 km), você já estará chegando a porta de entrada mais movimentada da península (quando se trata de turismo): o Istmo de Corinto, a tripinha de terra que ligava o Peloponeso à Ática.
Digo ligava porque no Século 19 esse istmo foi rasgado pelo fotogênico Canal de Corinto — obra que começou a ser projetada no Século 6º a.C., chegou a ser iniciada no reinado do imperador romano Nero e só seria inaugurado em 1881. Desde então o Peloponeso está totalmente cercado pelas águas.
Se você vem do Norte, a ligação mais movimentada com o Peloponeso é a Ponte Rio-Antirio, sobre o Golfo de Corinto, na altura de Patras — maior cidade, 220 mil habitantes, e capital da região e dona do porto comercial mais importante da Grécia.
A ponte entre as localidades de Rio e Antirio, sobre o Estreito de Corinto, liga o Peloponeso à Grécia Central |
O Philippieion de Olímpia foi construído por Felipe II da
Macedônia em homenagem a Zeus no santuário onde nasceram os Jogos Olímpicos, em
agradecimento por uma vitória militar no ano de 338 a.C. |
7 razões visitar o Peloponeso
Qualquer lugar que tenha como molduras o Mar Jônico (no alto) e o Mar Egeu (acima) já dá a largada no concurso de beleza com muita vantagem |
Com um relevo dramático e um litoral recortado e banhado pelas águas muito azuis do Mar Egeu (a Leste) e do Mar Jônico (a Oeste), o Peloponeso não teria muito como dar errado, na categoria cenário.
Mas bora combinar que o relevo também dá uma forcinha à formosura do Peloponeso, como a gente pode ver olhando a paisagem do alto da cidadela de Micenas |
Viajar pelo Peloponeso é ter o prazer de olhar o mar do alto de montanhas de dar vertigem, de encontrar enseadinhas minúsculas no fim de uma estradinha íngreme e pedregosa e chegar a vales onde pastam ovelhinhas (não esqueçamos que a Arcádia, que inspirou toda uma escola artística encantada com o bucolismo rural, fica exatamente aqui no Peloponeso).
Se a natureza caprichou, os humanos também deram uma forcinha, preenchendo os 21,5 km² do Peloponeso com templos, cidades fortificadas, vilas bizantinas e povoações costeiras adornadas com barquinhos coloridos e casinhas fofas.
Os humanos também souberam aproveitar a tela fornecida pela natureza pra pintar lindezas no Peloponeso. No alto, o Teatro de Epidauros. Acima, Nafplio, primeira capital da Grécia moderna |
2 – O Peloponeso na mitologia
Máscara mortuária e escudo peitoral encontrados em Micenas.
A crença popular é que esta seria "a máscara de Agamenon". As peças,
confeccionadas em ouro, são um dos grandes destaques do acervo do Museu Nacional de Arqueologia de Atenas |
Pois o Peloponeso é o cenário desses e de muitos outros mitos, que se materializam bem diante do viajante. Lá estão a Corinto de Belerofonte, a Micenas de Perseu (e de Agamenon, comandante da Guerra de Troia), a Argos de Proteu (divindade da mudança das marés), a Tirinto onde Héracles repousava entre seus trabalhos.
Hércules e o Centauro Nesso (Século 16), escultura de Giambologna exibida na Piazza della Signoria em Florença. A mitologia grega atravessa o tempo fazendo parte de nosso imaginário |
E já que falamos em Héracles, o Peloponeso está cheio de lembranças desse filho de Zeus. Foi lá que ele realizou os seis primeiros de seus 12 trabalhos e os cenários desses mitos desfilam pra o viajante como placas à beira da estrada — e nada nos proíbe o desvio para vê-los cara a cara.
Na península ficam Nemeia, a 40 km de Corinto, onde Héracles deu cabo do leão endiabrado e que hoje é região produtora de vinhos bem reputados (experimentei e gostei muito),
Se o Peloponeso foi tão movimentado na mitologia é porque na vida real a península trepidava desde tempos imemoriais — e aqui estou usando o sentido figurado, ainda que a Terra dos Pelópidas seja fértil em terremotos.
Sem muita forçação de barra (e pedindo uma tonelada de licenças a Atenas) dá quase pra dizer que foi o Peloponeso que inventou a Grécia.
Gracias a la vida, que me permitiu atravessar a Porta dos Leões na cidade de Micenas não apenas uma, mas duas vezes |
No topo da Cidadela de Micenas, ainda hoje alcançado por rampas, ficava o Mégaron, conjunto de templos e palácio real |
O Templo de Apolo é a construção mais conhecida da antiga cidade de Corinto |
No alto da montanha estão as ruínas da Acrocoríntia, a Acrópole de Corinto |
Uma estradinha malvadíssima liga o centrinho de Argos ao Castelo de Larissa. São só 5 km de subida íngreme, cheios de curvas à beira do precipício. Mas eu gostei de ter ido lá |
Monumento a Leônidas nas Termópilas: a batalha foi travada na Ática, mas está profundamente ligada à memória do Peloponeso pela heroica resistência dos guerreiros de Esparta frente aos persas |
Depois disso, a tocha olímpica acessa nessa fonte será
carregada por atletas até a cidade que sedia os Jogos Olímpicos de Verão ou de
Inverno.
O Museu Arqueológico de Olímpia é uma absurdo de lindo |
Olímpia fica a 300 km de Atenas, na Élida, mais próxima da Costa do Mar Jônico. Como fica a apenas 70 km do Porto de Kyllini, que conecta o Peloponeso às Ilhas Jônicas, faz todo o sentido combinar uma escapada a Cefalônia, Zaquintos ou Ítaca depois de ver o magnífico conjunto arqueológico olímpico.
A cidade moderna é minúscula, com cerca de 1.000 moradores (pra
confundir o juízo da gente, é chamada de Archaia Olympia, ou "Antiga Olímpia") e
é o centro de um município com população de apenas 11 mil habitantes. Mas não
se assuste: a estrutura turística dá conta dos muitos visitantes que passam por
lá, ainda que eu não tenha visto hotéis ou restaurantes na categoria luxo na
vila.
Você prefere praia ou montanha? No Peloponeso tem muito dos dois |
Senta, que o tópico aí de cima acabou, mas a história da Grécia ainda vai longe — não é incomum a gente esquecer que o país não ficou dormindo mais de 2 mil anos, do Período Clássico até o Século 21, feito uma Bela Adormecida.
Não acabou a história nem acabaram os encantos. Não bastasse aquela outra mistura de paisagens que já citei mais acima, uma viagem pelo Peloponeso é transitar entre tempos históricos e culturas o tempo todo. A história da Grécia dotou o Peloponeso de uma diversidade fascinante.
Protegida por um gigantesco rochedo que emerge do mar e alcançável por terra apenas por um estreito istmo, Monemvasia foi uma vila bizantina fortificada pelos venezianos |
Vestígios gregos, romanos e bizantinos convivem no Sítio Arqueológico de Corinto |
Com a decadência da civilização helênica, muitos povos andaram pela península. Romanos, bizantinos, eslavos, árabes, francos, venezianos, albaneses e otomanos deixaram suas marcas em todo o Peloponeso, que a lá pela Idade Média passou a ser conhecido como “Península de Moreia”.
Cúpulas de mesquitas, ruínas romanas, fortalezas venezianas
e cidades bizantinas (como Mistras, centro administrativo de Moreia a partir do
Século 11) convivem pacificamente com as colunas elegantes dos templos gregos no
Peloponeso.
Desde o alto: vestígios romanos, igreja bizantina, fonte otomana e mesquita. Essas quatro fotos foram feitas em Nafplio, a poucos passos de distância umas das outras |
Na diversidade da península, Bastam 20 km pra separar uma vila montanhesa toda construída em pedra, como Areópolis, de uma vila pesqueira cheia de luz e cores como Githio.
Por falar em Areópolis, a vila de 900 habitantes — uma das
maiores povoações da Península de Mani — ganhou este nome (“Cidade de Ares”, o
deus da guerra, Marte, para os romanos) por ter parido a fagulha que acendeu a
Guerra de Independência da Grécia contra os otomanos.
Monumento a Staikos Staikopolous em Nafplio. Na guerra de Independência, ele comandou a tomada da Fortaleza de Palamidi, que tinha fama de inexpugnável |
Foi na fofa Areópolis que a bandeira da Grécia Independente
foi hasteada pela primeira vez, senha para o início da revolução contra o
domínio otomanos |
Em 17 de março de 1821, foi na minúscula praça Taxiarches de Areópolis que Petros Mavromichalis, um líder local, hasteou pela primeira vez a bandeira da Grécia Independente, dando início a uma longa e sangrenta revolução contra o domínio turco.
O Peloponeso foi um campo de batalha fundamental e o povo da
península foi decisivo nessa luta. A primeira capital da Grécia Independente
foi estabelecida lá, em Nafplio, a partir de 1822.
Cabem todos os tempos históricos no Peloponeso — inclusive meu
celular, que fez esta foto |
5 – As praias do Peloponeso
Um pedaço de terra banhado pelo Mar Egeu, a Leste, e pelo Mar Jônico, a Oeste, já promete, né? O Peloponeso tem uma miríade de praias deliciosas, aconchegadas em enseadas muito azuis.
Não é ilha. É Nafplio |
Já experimentei algumas ilhas gregas (Ítaca, Hidra, Spétses, Symi, Rodes e Cefalônia) e acho que as praias do Peloponeso (especialmente em Nafplio e Monemvasia), não ficam devendo nadinha.
As praias do Peloponeso ganharam um post exclusivo. Siga o link pra ver.
6 – O Peloponeso é mais barato
Se a Grécia (tirando as ilhas da moda) já é muito mais barata que os países mais badalados da Europa Ocidental, o Peloponeso consegue ser ainda mais camarada com o bolso dos viajantes.
Na primeira visita, em 2012, fiquei mal acostumada a pagar diárias de € 50 em pousadas fofas e muito confortáveis, em Nafplio e Monemvasia, e a gastar € 10 em pequenos banquetes de delicadezas das delícias locais.
Nesta viagem de abril/maio de 2024, deu pra ver que os
preços da Grécia, em geral, deram uma inflacionadinha, mas continuam muito
gentis, especialmente no Peloponeso.
Eu e minha amiga Rose ficamos hospedadas em quatro
localidades do Peloponeso: 4 noites em Tirinto (Nafplio), uma noite na Praia de
Mavravouni (Githio), uma noite em Areópolis e duas noites em Olímpia. Sempre em
hotéis/pousadas bem localizados, em quartos com varandas e banheiro privativo e
com estacionamento gratuito.
Nossa média de gastos com hospedagem no Peloponeso foi de € 65 a diária (€ 32,50 por cabeça). Foi perto da metade do que gastamos em Madri e Lisboa e o equivalente a 60% das despesas médias com alojamento em Atenas.
Nossas refeições no Peloponeso também ficaram muito em
conta. Fizemos refeições deliciosas em lugares simples e simpáticos gastando o
máximo de € 15 pra cada. E mesmo quando experimentamos restaurantes mais
chiques, na elegante Promenade (calçadão à beira-mar de Nafplio) a conta não
passou de € 25 por pessoa, com direito ao bom vinho da Argólida.
Calma, que vai ter post com hotéis e restaurantes do Pleoponeso, viu?
7 – É fácil viajar pelo PeloponesoComo falei lá no começo, esse pedaço de mundo tão especial
que é o Peloponeso tem apenas 21,5 km². Isso significa que dá pra ver muitas
maravilhas sem levar muito tempo na estrada, entre uma e outra.
A proximidade com Atenas e a facilidade de chegar e circular
pelo Peloponeso faz da região uma grande opção para quem quer diversificar seu
roteiro na Grécia.
Em 2012 eu cheguei à península de transporte público, fiz
base em Nafplio por 5 noites e usei o busão pra visitar Micenas, Epidauros e
Argos na maior facilidade.
Também não foi nada complicado seguir viagem para Monemvasia
e, de lá, retornar a Atenas, com baldeação em Esparta.
As estradas do Peloponeso conduzem o viajante a muitas maravilhas |
De Atenas, os ônibus para o Peloponeso partem da Estação Kifissos (a estação de metrô mais próxima é Eleonas, da Linha 3, a cerca de 2 km). Duas horas de viagem a partir daí deixam você em Nafplio.
´Muita gente que visita Atenas vai ao Peloponeso em pequenas
escapadas bate e volta, por conta própria ou excursão, pra visitar Micenas,
Epidauros e Olímpia (a essa última, acho uma maluquice ir nesse esquema, porque
fica a 300 km).
Viajando de carro pelo Peloponeso você consegue chegar a vilarejos como Areópolis |
Olímpia é linda demais pra você ir até lá num bate e volta esbaforido |
Mesmo o site da empresa grega de ônibus KTEL sendo um inferno, posso assegurar por experiência própria que as rotas existem. Procure um posto de informações turísticas, que costuma ter um folheto com horários.
Se a sua viagem é de carro, melhorou. O Peloponeso, apesar
do relevo acidentadíssimo, tem estradas muito bem cuidadas (as principais são
tapetes), sinalizadas e seguras. As estradinhas de cabrito já não são tão
suaves, mas fazem parte da experiência.
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