Uma viagem de carro deixa a gente mais pertinho das belezas da Grécia |
Fazia muito tempo que eu planejava viajar de carro na Grécia, o melhor jeito de ver em detalhes as maravilhosas paisagens e localidades desse país que embala os sonhos de tanta gente. A oportunidade chegou agora, na minha viagem à Europa de abril/maio de 2024, que também passou pela Espanha e Portugal.
Em pouco mais de duas semanas (17 dias, pra ser exata), rodei a Grécia de cima a baixo, revi lugares que amo e descobri muitos outros encantos gregos — spoil alert: ainda há milhares deles pra conhecer.
Partindo de Atenas, explorei mais a fundo o Peloponeso, da Argólida até a pontinha Sul, a Península de Mani, atravessei de ferry para a Ilha de Cefalônia e voltei ao continente para esticar até Delfos e Meteora.
Mesmo num cantinho escondido da Ilha de Cefalônia, encontrei sinalização em grego e inglês |
Chegada em Githio, na Península de Mani |
Ainda que na minha primeira viagem à Grécia eu tenha visto um montão de lugares espetaculares me deslocando com transporte público, não há dúvidas de que fica muito mais fácil, rápido e confortável desbravar o país com a autonomia de dirigir seu próprio carro e fazer seus horários.
As capelinhas na beira da estrada são uma tradição bizantina. Elas simbolizam bênção e proteção aos viajantes. Você vai encontrá-las também nas cidades, geralmente em um cruzamento de caminhos |
Moral da história: viajar de carro na Grécia é fácil, barato e confortável. Recomendo muito que você experimente.
Veja todos os detalhes da viagem maravilhosa e cheia de coisas lindas a Grécia me deu de presente:
Viajar de carro na Grécia
Como já chamei atenção aqui, a Grécia é pequena em território — ela caberia com folgas na área do estado do Ceará — mas é um vasto continente em atrações.
Veja este post também:
Como organizar uma viagem à Grécia
Área de estacionamento próxima ao Sítio Arqueológico de
Delfos. Em Olímpia (no alto), o estacionamento fica dentro da área museológica |
Estacionamento na Grécia
Pra sua viagem de carro na Grécia ficar mais conveniente, não esqueça de, sempre que possível, reservar hospedagem com estacionamento gratuito. Por todo o nosso roteiro, não tivemos dificuldade em encontrar hotéis legais e com bons preços oferecendo essa comodidade.
Em todas as paradas do roteiro, reservamos hospedagem com estacionamento. No alto, o Citroën guardadinho no hotel de Tirinto. Acima, o estacionamento da pousada em Olímpia |
Dirigir dentro de pequenas cidades ou em centros históricos é muito complicado. As ruas são estreitas e em muitas delas só moradores podem circular de automóvel. Deixe o carro em um estacionamento e faça seus passeios a pé.
Em todas as atrações que visitamos nesses 17 dias de viagem pela Grécia, sempre encontramos estacionamentos públicos e gratuitos. Nos locais mais concorridos, nem sempre era fácil achar uma vaga pertinho, mas dava tudo certo.
Um olho na paisagem, o outro no volante |
Aluguel de carro na Grécia
Procedimentos e documentação
Hoje em dia é bem fácil pesquisar pela internet e escolher o
carro para alugar e comparar preços. E isso vale pra o mundo quase todo.
Escolhemos um Citroën C3 na Locadora Exer, que tem uma loja nos arredores do Aeroporto Internacional Eleftherios Venizelos de Atenas.
Nosso possantinho fofucho ainda no estacionamento da locadora, esperando pra nos levar por muitas aventuras |
Apenas as duas locadoras maiores (uma delas, lembro bem é a Avis) têm permissão para operar diretamente no aeroporto.
Com todas as demais, o processo de retirada do carro alugado funciona assim: agenda-se um horário para encontrar a van da empresa numa área do estacionamento do aeroporto (bem sinalizada logo à direita da saída do desembarque, perto de onde saem os ônibus para Atenas) e de lá o cliente segue até a empresa para a retirada do veículo.
O espelho na beira da estrada não é pra a gente retocar o batom. É pra ver se vem carro em sentido contrário nas absurdas curvas em cotovelo que às vezes cruzam nosso caminho |
Na hora da devolução, o cliente vai até a sede da locadora, entrega o carro e volta na van até o aeroporto.
Para alugar um carro na Grécia, você precisa ser maior de 21
anos, ter uma CNH válida e um cartão de crédito internacional. A locadora
também vai conferir o seu passaporte e cobrar uma caução para cobrir eventuais
danos ao veículo.
O valor dessa caução fica bloqueado no cartão de crédito (se
você preferir, pode fazer um seguro).
Nas rodovias principais há estações de serviço grandes e bem equipadas, com posto de combustível, restaurantes, mercadinho e grande estacionamento |
Permissão Internacional para Dirigir (PID)
As locadoras não costumam pedir pra ver sua Permissão
Internacional para Dirigir (PID), mas é uma má ideia viajar sem esse documento.
A PID funciona como uma tradução juramentada da CNH — vai que o policial que
pare você na estrada não acredite na sua palavra de que aquele papel que você
está mostrando é mesmo a sua carteira de motorista, né?
Independente da data de expedição da PID, a validade do documento expira junto com a da sua CNH |
Nos 17 dias de nosso roteiro de carro na Grécia, jamais fomos paradas em barreiras ou blitze, mas eu gosto de viajar com toda a documentação nos conformes — também nunca pediram pra ver meu seguro saúde na imigração de lugar nenhum, mas não deixo de fazer.
Se eu não deixaria de fazer uma PID pra dirigir, digamos, na
Espanha, imagina na Grécia, que adota um alfabeto diferente...
A PID é emitida pelo Detran da unidade da Federação que expediu
sua Carteira de Habilitação.
Esta plaquinha com ponto de exclamação serve para enfatizar o que estava dito na placa anterior. Se foi um aviso de curvas, você já sabe que o ziguezague adiante vai ser punk |
Agora, imagine a emoção de encontrar uma placa com "alerta de javali" e mais um ponto de exclamação 😱 |
O processo de emissão da PID é muito simples e pode ser feito online. Basta fazer a solicitação e pagar a guia de recolhimento. O documento pode ser retirado em um posto do Detran ou ser enviado para seu endereço (o que consta do seu cadastro. Preste atenção, portanto: se você mudou de endereço, pode alterá-lo no próprio site do Detran antes de solicitar a PID).
O preço da PID varia de estado para estado, podendo passar dos
R$ 500, para quem tem CNH de São Paulo, como é o caso da minha amiga Rose, que
viajou comigo e dividiu a direção do carro. Como a minha CNH ainda é de
Brasília, dei sorte, porque o DF é uma das unidades da Federação que cobra
menos pelo documento.
E lá vamos nós, margeando o Golfo de Corinto |
Custo do aluguel de carro na Grécia
Pagamos diárias de € 28 pelo aluguel de um Citroën C3 com
câmbio manual (porque a jurássica aqui ainda não dirige carros automáticos).
Esse valor já incluía o seguro.
Nosso gasto com pedágios deu uma média de € 4,20 por dia.
O gasto com combustível deu uma média de € 14,50 diários.
Dividido por mim e Rose, nosso gasto com o automóvel foi de €
23,35 por cabeça por dia.
Como é dirigir na Grécia
As estradas da Grécia são bem conservadas e a paisagem é sempre atraente |
Tirando o enrosco do trânsito de Atenas — encontramos um pouquinho disso, voltando de Meteora pra devolver o carro no aeroporto — dirigir na Grécia é muito tranquilo.
Nas estradas principais e nas mais movimentadas sempre há
sinalização em inglês. Se você se deparar com uma placa apenas em grego, não se
desespere: daí a uns 100 ou 200 metros vai aparecer a plaquinha na língua de
Shakespeare.
Pra driblar as montanhas, há os túneis. Acenda os faróis e respeite o limite de velocidade ao atravessá-los |
Como já contei aqui (não sem uma certa pontinha de orgulho) que aprendi a ler o alfabeto grego desde minha primeira viagem ao país em 2012. Isso quebrava um galhão quando trafegávamos por estradas secundárias. Não falo grego, mas pelo menos consigo reconhecer o nome do lugar aonde quero ir, né?
E olha que nós nem sempre nos limitamos às estradas principais
e secundárias. Vez por outra, caíamos em algumas estradinhas daquelas feitas
apenas para o tráfego de cabritos (e em fila indiana, pra não embolar). Mas nem
nessas horas tinha perrengue.
Não se assuste se aparecer uma placa escrita só em grego. Daí a pouco pinta a "sinalização com legendas" |
No dia em que estivemos mais perdidas (a estrada, no topo de uma montanha, na Península de Mani, começou a acabar), apareceu um casal super solícito que nos deu orientações totalmente inteligíveis, apesar de eles falarem apenas grego — uma coisa que você vai descobrir na Grécia é que as pessoas, em geral, são tão bacanas e cuidadosas com os outros que elas se fazem entender sem muito esforço.
Essa cordialidade e respeito ao outro também aparece no
comportamento dos motoristas nas estradas. Sabe o que é circular por 17 dias
sem ver sequer um afobadinho, um imprudente ou um frustradão-predador?
O nível de civilidade dos motoristas nas estradas gregas é muito alto |
No geral, encontramos estradas muito bem conservadas e pistas bem livres, sem engarrafamentos ou mesmo tráfego pesado. A única exceção foi da saída do Aeroporto de Atenas até o Istmo de Corinto, entrada do Peloponeso. Mas isso se explica: era a quinta-feira da Semana Santa Grega e tinha muuuuuuita gente saindo da capital por causa do feriadão.
Nas estradas gregas, o normal é a curva |
O que encontramos às pencas foram as curvas. Essa é a parte do dirigir na Grécia que exige nervos mais calibrados. E é cada curva (na beira do precipício, no meio de uma descida despenhante ou numa subida resfolegante) que vou te contar, viu?
Por orientação da locadora do nosso carrinho, começamos
usando o Google Maps, que funciona bem.
O problema é que o bichinho não gosta de retrocessos: cada
vez que a gente perdia uma entrada ou um retorno, ele calculava uma nova rota,
sempre em frente.
Programe o Google Maps e se jogue — mas vê se não perde o retorno, tá? |
Essa atitude positiva de "retroceder, jamais" (parece coisa de coach) pode redundar num acréscimo significativo e desnecessário no trajeto ou, pior, levar o motorista pra uma daquelas estradas de cabritos que eu citei (não deixa de ser divertido ver a Grécia profunda, mas tem horas que você quer pegar o aplicativo pelas orelhas e mandar um escuta aqui, meu filho).
Daí que acabamos mudando pra o Waze — que, sei lá porque, só
queria conversar em inglês com a gente. Mas, ok.
O que salva, mesmo, a pátria são duas providências que
dependem mais de quem está dirigindo do que dos humores dos aplicativos.
Vez por outra a gente caía em umas estradinhas feitas para cabritos |
Primeiro: estude o mapa do trajeto com alguma atenção, antes de pegar a estrada. É bem reconfortante reconhecer o nome de uma localidade que você já sabe que está na sua rota passando pela janelinha do carro — tipo não sei bem onde estou, mas sei que estou no caminho certo.
Segundo: se não conseguir aprender o alfabeto grego, tente
se familiarizar pelo menos com o desenho, naquelas letras, do nome do lugar
aonde está indo. Quando você enxergar uma placa dizendo “Αρεόπολη 36 km”, vai
saber que está a 36 km de Areópolis e não está perdida.
Ah, e todos os frentistas de posto de gasolina que encontrei pelo caminho falavam algum inglês.
A sinalização avisa com antecedência a aproximação de uma praça de pedágio |
Como são as estradas da Grécia
Sinalização, pedágios, limite de velocidade e policiamento
Como já falei, as estradas da Grécia estão, em geral, muito bem conservadas e bem sinalizadas. Tirando as estradinhas de cabritos (onde você dificilmente vai trafegar), o asfalto é um tapete e a sinalização é vasta e perfeitamente inteligível — tem placas em inglês e ícones muito fáceis de reconhecer.
Esse estado geral vale também para estradas secundárias,
não-pedagiadas.
A sinalização em grego e inglês avisa a aproximação de uma área de serviços e posto de combustíveis, a 500 metros. Se passar esta, a próxima, só daqui a 47 km |
Pedágios na Grécia
Alguns quilômetros antes de chegar a um posto de pedágio, você já começa a sinalização avisando da presença deles, e a que distância. É a hora de pedir a seu copiloto/copilota pra ir catando as moedas na bolsa. O preço do pedágio costuma estar anunciado em uma placa, uns 500 metros antes da praça de pedágio.
Os postos de pedágio têm cancelas automáticas, pra quem usa dispositivos do tipo Sem Parar. Para nós, turistas, é preciso passar pelas cancelas operadas presencialmente, ou usar as maquininhas de cobrança.
Os pedágios podem ser pagos em dinheiro ou cartão, tanto em máquinas quanto direto aos operadores (as máquinas dão troco). É legal ter dinheiro trocado quando for pagar diretamente ao funcionário, mas não é obrigatório.
O preço dos pedágios varia muito, desde € 0,90 até € 3/€ 4,
dependendo do trecho ou do tipo da estrada.
A tarifa mais cara que pagamos foi de € 14, que é o preço do
pedágio da Ponte Rio-Antirio, sobre o Golfo de Corinto, que liga o Peloponeso à
Grécia Central (entre Patras e Antirrio), mas este é um caso excepcional. Com
quase 3 km e super moderna, ela é a segunda ponte estaiada mais longa do mundo.
O limite de velocidade muda constantemente nas estradas da Grécia. Fique ligada (ao fundo, a Ponte Rio-Antirio, perto do Porto de Patras) |
Limite de velocidade nas estradas da Grécia
O limite de velocidade nas estradas gregas é beeeeeeem
elástico. Trafegamos em rodovias com limites de 140 km/h e em estradas onde não
se pode acelerar acima dos 20 km/h. A lógica diria que isso depende das
condições da estrada, da presença de muitas curvas ou da proximidade com
cidades.
OK, mas nem sempre é bem assim. Em alguns trechos de sobe e
desce cheios de curvas as placas apontavam limites de velocidade quase
homicidas (tipo 90 km/h ou mesmo 100 km/h). Em outros trechos que pareciam
super mansinhos, o limite era 60 km/h. Vai saber por que, né? O jeito é
respeitar. Até porque tem mais radar do que vestígios arqueológicos naquele
país.
Economize o pé no acelerador, mesmo que uma longa reta convide a baixar um Lewis Hamilton |
Mas a parte mais doida do limite de velocidade na Grécia é passar por uma placa de 120 km/h e daí a 200 metros topar com uma determinando 50 km/h e daí mais 200 metros já voltar a poder acelerar a 100 km/h.
O melhor é manter o pezinho do acelerador mais calminho,
ainda que alguns trechos com longas retas deixem a gente com vontade de botar
409, dos Beach Boys pra tocar (na minha idade, pode ser The Little Old Lady from Pasadena) e sair feito Lewis Hamilton pela estrada.
Policiamento nas estradas da Grécia
Como eu já falei, as estradas da Grécia têm pencas de
radares. Mas polícia, polícia mesmo, só vi uma vez.
E foi uma situação bem engraçada. No caminho entre Patras e
Aráchova, às margens do Golfo de Corinto, vimos um carro de polícia e dois
automóveis de passeio parados no acostamento, no que, claramente, era uma
blitz. Paramos o carro também, à espera da abordagem.
E aí o policial não entendeu nada: “Por que vocês pararam?”. “Ué,
seu guarda, não é uma blitz?”. “É, mas no Brasil vocês param na blitz sem
ninguém mandar?”. E nem quis ver documentos nem nada.
O policial era simpaticíssimo, falava inglês perfeito e
ainda deu uma dica de restaurante na estrada pra nós.
E essa foi a única vez que encontramos controle de documentos numa estrada grega — mas não pra nós.
A Grécia na Fragata Surprise
Acho que nunca terei coragem de dirigir na Grécia, mas adorei as histórias e dicas. Quem sabe um dia eu me animo!
ResponderExcluir