Melhor do que ir a Segóvia é voltar a Segóvia |
Melhor do que ir a Segóvia, só mesmo voltar a essa cidade deslumbrante, a apenas meia hora de trem de Madri. Em 2017, tinha feito um bate e volta até lá e achei pouco — tem tanto o que fazer em Segóvia que fui embora dividida entre a alegria de ter estado lá e a vontade de voltar logo.
(Veja como foi a primeira visita > Bate e volta a Segóvia)
Igreja românica de San Martín, do Século 11 |
Pois Segóvia foi o encerramento do roteirinho lindo por Castela e Leão que fiz agora, em abril, e que também inclui as maravilhosas Ávila e Salamanca. Que roteiro redondo, viu? (Olha ele aqui > Roteiro por Ávila, Salamanca e Segóvia).
Já tinha tido o prazer de ver o Aqueduto Romano e de visitar
o Alcázar, mas com dois dias na cidade encontrei muito mais o que fazer em
Segóvia. É por isso que eu recomendo que, quando você for, planeje pelo menos
um pernoite na cidade — e quando você der de cara com o Aqueduto iluminado à
noite, vai ver que vale muito a pena.
O Alcázar, um castelo de conto de fadas |
Neste post, listei algumas atrações que vão preencher com folga um passeio de dois dias a Segóvia. Veja as dicas:
O que fazer em Segóvia
Construído no Século 12 sobre vestígios de uma fortificação
romana (provavelmente contemporânea do Aqueduto de Ségovia), o Alcázar é frequentemente
comparado à proa de um navio pelo jeito que se debruça — quase paira — sobre o Vale do Rio Eresma, uma imagem
impressionante.
Fosso, torres pontudas, ameias... está tudo lá. O fosso tem 26 metros de profundidade e a passagem de pedra que substitui a ponte levadiça data do reinado de Felipe II (Século 16) |
O Alcázar de Segóvia tem todos os elementos que nossa imaginação aprendeu a associar a um castelo — fosso, ponte levadiça, torres cilíndricas com chapéus pontudos, muralhas com ameias, pátios ornados com fontes e salões magnificamente decorados onde reis, rainhas, generais e cortesãos decidiram, conspiraram e até namoraram.
Não é à toa que o Alcázar de Segóvia acabou virando uma
espécie de manual descritivo da ideia de castelo medieval, na vida real ou nos
contos de fadas. Ele serviu de modelo para o castelo do desenho animado Branca
de Neve, lançado por Walt Disney, em 1937, e para o castelo da Bela Adormecida
na Disneylândia (Califórnia), além de servir de cenário para vários filmes e
séries de TV.
A Torre de Juan II, do Século 15, é um orgulho da
arquitetura espanhola. Tem 80 metros de altura e seu terraço pode ser alcançado
por uma escadinha de caracol de 152 degraus |
O Alcázar é apontado como o primeiro edifício de Segóvia a
ganhar uma decoração em esgrafiado, no Século 14. Hoje, a técnica está
espalhada pelas fachadas da cidade |
Profundamente ligado à história da Reconquista Cristã da Península Ibérica, ele foi a primeira residência dos reis de Castela e funcionou como principal palácio real por 200 anos.
É A visita que todo mundo quer fazer em Segóvia e ninguém
sairá decepcionado. Quando você for, não esqueça de olhar pelas janelas do
Alcázar: a paisagem lá fora é tão linda quanto o monumento que você estrará percorrendo.
Não esqueça de olhar pelas janelas do Alcázar, porque a vista é maravilhosa |
Os aposentos reais e salas cerimoniais do Alcázar têm uma decoração mudéjar preciosa |
A bilheteria do Alcázar fica na Casa de la Química, outro edifício da praça/jardim que leva o nome da rainha consorte da Espanha Victoria Eugenia. Essa construção — que hoje abriga também um centro de informações e uma lanchonete — foi sede de um laboratório, fundado no Século 18, que chegou a ser considerado o melhor de Europa nessa época, onde trabalhou o cientista Louis Proust.
O
projeto da Casa de la Química é atribuído ao arquiteto italiano Sabatini, o
mesmo que idealizou os Jardins de Sabatini, em Madri.
A Casa de la Química (à direita) abrigou um laboratório desde o Século 18. Ao fundo, a Catedral de Segóvia |
O Alcázar de Segóvia abrigou uma Escola de Artilharia. Os heróis do Levante do Dois de Maio em Madri, Velarde e Daoíz, foram alunos da instituição e são homenageados com um monumento em frente ao castelo |
Horários: o Alcázar de Segóvia pode ser visitado diariamente, das 10h às 18h, no inverno (1º de novembro a 27 de março. No verão (28 de março a 31 de outubro, das 10h às 20h.
Calle Marqués del Arco nº 1
A Catedral de Segóvia cumpre direitinho a tarefa de fazer a gente se sentir pequenininha |
O coro da catedral (acima) e o trascoro (no alto) são impressionantes |
O altar-mor da Catedral fica protegido por uma grade barroca do começo do Século 18 |
Capela de São Jeroteo, um santo de casa — ele teria sido o primeiro bispo de Segóvia, martirizado no Século 1º d.C. |
Capela da Imaculada Conceição |
Capela da Imaculada Conceição |
A visita à Catedral inclui o acesso ao Claustro, cujas colunas e demais elementos foram trazidos, um a um, da antiga catedral gótica. Em torno dele, algumas salas exibem parte do acervo da catedral, como a pinacoteca, a coleção de objetos litúrgicos e tapeçarias.
A torre da Catedral, que alcança os 90 metros de altura, é uma das grandes atrações da visita (para os bons de fôlego, pelo menos). Dizem que a vista lá do alto é espetacular, mas eu já me aposentei de escadarias muito penosas.
O claustro foi transportado pedra por pedra da antiga catedral medieval, destruída em uma revolta no início do Século 16 |
Horários: de segunda a sábado, das 9h às 21:30h. Domingos, das 12:30 às 21:30h. Visitas guiadas de segunda a sexta, às 11h, 12:30h e17h. Nos sábados, apenas às 11h e 12:30h. Não há visitas guiadas aos domingos. Para os horários de subida à torre, consulte o site da Catedral
Ingressos: € 4. Maiores de 65 anos e estudantes até 25 anos pagam
€ 3. Menores de 8 anos não pagam. Visita guiada, € 6, visita com acesso à
torre, € 7.
A Plaza Mayor ainda é parte importante da vida cultural, social e política de Segóvia. Ao fundo, o Teatro Juan Bravo |
Segóvia, ao seu modo, subverteu o conceito e construiu sua praça maior para reunir as sedes do poder secular (o Ayuntamiento, ou Câmara Municipal), do poder religioso (a Igreja de San Miguel) e do poder dionisíaco, aí representado pelo Teatro Juan Bravo (de 1917) e pelo Café Castilla, onde os boêmios se reuniam para falar mal dos políticos, dos padres e até dos artistas.
O Ayuntamiento de Segóvia, responsável pelo governo da cidade |
Olha a Catedral, ali juntinho |
E se você está estranhando a ausência da Catedral, ela está logo ao lado, onde a praça deságua na Calle del Marques del Arco.
Ainda hoje a Plaza Mayor de Segóvia é o centro das manifestações políticas, das celebrações religiosas e populares (como a festa de São João) e de uma feira com origens na idade média e continua a ser realizada uma vez por semana.
Calle José Canalejas nº 4
A galeria porticada é o traço mais marcante da Igreja de San Martín. Repare na delicadeza dos entalhes nos capitéis das colunas |
Historiadores datam a construção da Igreja de San Martín “pelo
menos no Século 12”, mas é possível que ela seja ainda mais antiga, pois servia
de espaço de culto para a comunidade moçárabe (cristãos que viviam sob o
governo muçulmano na Península Ibérica, adotando o idioma árabe e traços dessa
cultura).
O portal da Igreja de San Martín é apontado como um marco do estilo Românico em terras castelhanas |
O contraste da rusticidade românica com os dourados e volteios barrocos tem um efeito visual muito bonito |
Fiquei boba com a beleza dessa Pietá |
O fato é que a igreja é um primor românico e a simplicidade desse estilo faz um contraste belíssimo com as peças barrocas incorporadas, ao longo dos séculos, à sua decoração interior.
O altar-mor é um esplendor dourado e a Pietá em um canto da
nave é maravilhosa — infelizmente, não consegui encontrar muitas informações
sobre essa obra.
Repare, ainda, no campanário românico da Igreja de San
Martin e da fonte que adorna a Praça de Juan Bravo, onde ela se encontra.
Ingresso: entrada gratuita
Judería de Segóvia
A Judería de Segóvia rende um passeio muito agradável |
Em anos recentes, a cidade tem se esforçado para resgatar
essa memória, escavando, identificando e restaurando antigas sinagogas e outros
marcos.
A Judería de Segóvia tem uma carinha medieval muito bem preservada |
Hoje, o que a gente vê na Judería de Segóvia são as ruas estreitas e tortuosas típicas do período medieval e alguns dos arcos que davam acesso ao bairro. É um passeio muito agradável.
A proximidade com a muralha também dota a Judería de
belíssimos mirantes. O maior deles é o Paseo Salón de Isabel II.
Eu almocei em um excelente restaurante de inspiração
judaica, o Fogón Sefardi, mas ele vai aparecer em outro post sobre onde comer
em Ávila, Salamanca e Segóvia.
Sete arcos davam acesso à Judería de Segóvia |
Para saber mais sobre a presença da comunidade judaica em Segóvia vale a visita ao Centro Didático da Judería.
Calle de la Judería Vieja nº 12
Horários: segundas e terças, das 10h às 14h e das 16h às 18h. De quarta a sábado, das 10h às 13h e das 16h às 18h Domingos, das 10h às 13h.
Ingresso: € 3. Estudantes (menores de 26 anos e maiores de 65 pagam € 2. Menores de 12 anos não pagam. Entrada gratuita para todo o público às quartas-feiras, exceto feriados.
Igreja de Corpus Christi (Antiga Sinagoga Mayor)
Plaza del Corpus nº 7
O edifício da sinagoga é do Século 13 |
Apesar de todas as reformas que sofreu ao longo dos séculos
e de um incêndio devastador, em 1899, a antiga Sinagoga Mayor de Segóvia foi restaurada no Século 20, com base em documentação e iconografia antigas, e recuperou parte de suas feições originais.
Uma restauração feita no Século 20 devolveu ao edifício muitos de seus elementos originais. Os capiteis lembram a decoração da famosa Sinagoga de Santa Maria la Blanca |
O aspecto mais notável são os capiteis das colunas no interior do templo, decorados com motivos vegetais, que muito lembram a preciosa ornamentação da impressionante Sinagoga de Santa Maria la Blanca, emToledo.
Caminhando do Aqueduto até o Alcázar, você muito
provavelmente passará em frente à Igreja de Corpus Christi. Vale a pena ficar de olho na sinalização e encontrar o edifício, com discreta decoração em esgrafiado na fachada, para fazer uma visita.
O Altar da Concessão do Jubileu da Porciúncula, datado no comecinho do Século 17, mostra uma cena da vida de Francisco de Assis e é a peça cristã mais famosa no acervo da igreja/sinagoga |
É bem fácil passar discreta pela fachada discreta do Convento de Corpus Christi |
A antiga sinagoga fica ao fundo do pátio do convento |
Horários: no verão (1º de abril a 31 de outubro), visitas às segundas, quartas e quintas, das 10:45h às 13:45h. Sábados, das 10:45h às 13:45h e das 16h às 19h. Domingos, das 10:45h às 14:15h. No inverno (1º de novembro a 31 de março), funciona apenas no horário da manhã nas segundas quartas e quintas e no mesmo horário do verão aos sábados e domingos. Fechada às terças e sextas-feiras o ano inteiro.
Ingresso: € 1.Aqueduto de Segóvia
Só pra ver o Aqueduto Romano, já vale a visita à maravilhosa Segóvia |
A escadaria que leva ao Centro Medieval de Segóvia é um grande mirante para o Aqueduto |
O Aqueduto Romano de Segóvia é a construção mais impressionante que eu vi na Espanha (com o perdão da Alhambra, da Mesquita de Córdoba e outras obras arrebatadoras). Com mais de 2 mil anos de idade imagine que ele permaneceu em uso, abastecendo a cidade de água até o final do Século 19.
Ele é o grande responsável por deixar qualquer um acachapado
logo na chegada a Segóvia, olhando para o visitante lá de seus 30 metros de
altura e desafiando a gente a virar a cidade do avesso, procurando os variados
ângulos pra admirar e fotografar sua majestade.
É meio inevitável achar que Segóvia gira em torno de seu Aqueduto |
O Aqueduto se espicha por cerca de 15 km. Tem gente que vai a Segóvia só pra tentar percorrer toda a sua extensão — as diversas modalidades de tour guiado pelo trajeto do Aqueduto (a partir de € 8) são muito populares entre os visitantes. Outros simplesmente olham, embasbacados, o trecho mais alto da construção, plantado bem na Plaza del Azoguejo, uma espécie de sala de recepção de Segóvia.
Uma coisa que amei neste retorno a Segóvia foi a chance de ver o aqueduto iluminado à noite. Vantagem pra quem pernoita na cidade |
Esta Virgem do Carmo que se vê na face Nordeste do Aqueduto
é uma réplica da imagem colocada ali no Século 15 |
Construído a partir do encaixe perfeito das pedras, sem qualquer argamassa, o Aqueduto de Segóvia teve como função original transportar água de um manancial próximo para abastecer a importante base militar que os romanos estabeleceram na confluência dos Rios Eresma e Clamores, no Século 1º de nossa era. E até hoje é reconhecido como uma mais importantes obras de engenharia hidráulica existentes na Espanha.
Só a visão do Aqueduto já vale a visita a Segóvia — e olha que
a cidade não economiza em maravilhas.
Mirantes de Segóvia
A paisagem aos redor de Segóvia vista da Plaza Reina Victoria Eugénia, em frente ao Alcázar |
Dividida em “cidade baixa” e “cidade alta” — esta última, sua porção mais antiga —, Segóvia naturalmente é muito generosa em mirantes, de onde se pode perder o fôlego diante da paisagem ao redor e das belezas construídas pelos humanos.
As muralhas de Segóvia, por exemplo, são um balcão privilegiado.
Mas qualquer caminhada pela parte alta de Segóvia é a chance de achar um
cantinho pra contemplar a Serra da Guadarrama, o Vale do Eresma e as igrejinhas
que se espalham pela pradaria que cerca a cidade.
Atravessando o Arco del Sol, um dos acessos à Judería, você chega ao Paseo Salón de Isabel II |
O mais famoso mirante de Segóvia é o da Pradera de San Miguel, de onde se tem a melhor vista para o Alcázar, pois fica de frente para a “proa do navio” — a ponta de rocha onde se assenta o castelo e se projeta sobre o abismo. Esse mirante fica fora da cidade, a 2 km da Plaza del Azoguejo, ponto mais central da parte baixa de Segóvia.
Mas no caminho que você fará normalmente, se deslocando
entre as atrações da cidade, vai encontrar outros mirantes maravilhosos, como Paseo
Salón Isabel II, logo abaixo da Judería, o Mirador de la Muralla e o Mirador
del Alcázar, esses dois bem pertinho do Castelo. Sem contar a Plaza Reina
Victoria Eugenia, onde está o castelo.
A Muralha de Segóvia é um longo mirante |
Plaza Jardín de Maurício Fromkes |
Descendo a Calle Velarde, entre a Catedal e o Alcázar, fique de olho à sua direita, onde estará a Plaza Jardín de Maurício Fromkes, com uma vista linda para o vale. Pela manhã, com o sol no melhor ângulo, recomendo a
descida da Calle de San Juan para ver o Aqueduto.
A Casa Museu de Antonio Machado fica a menos de 200 metros da Catedral de Segóvia |
Por 9 anos, Machado viveu em uma casa de pensão em Segóvia, onde estão preservados objetos pessoais e memórias do poeta |
Se você gosta de poesia, vai adorar saber mais sobre Antonio Machado, um dos grandes das letras espanholas no Século 20.
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