20 de maio de 2022

Roteiro em Montevidéu – 9 dias

Rambla Mahatma Gandhi em Montevidéu, Uruguai
Um grande atrativo de Montevidéu é a liberdade de desfrutar dos espaços públicos com muita tranquilidade. Na imagem, a Rambla Mahatma Gandhi, em Punta Carretas


Música deste post: Montevideo, Jorge Drexler

Dez entre dez blogueiros de viagem vão lhe dizer que dois dias são suficientes para ver o básico de Montevidéu. E é verdade. Só que a capital uruguaia é uma cidade tão gostosa que merece muito que você vá além do básico.

Acabei de voltar de lá — minha quarta visita à cidade. Nas três viagens anteriores, o roteiro em Montevidéu nunca ultrapassou os quatro dias, com direito a bate e volta a Punta del Este ou a Colonia del Sacramento. E sempre ia embora levando o gostinho de quero mais.

Casarões históricos em Montevidéu
Casarões históricos em Montevidéu
Casarões históricos em Montevidéu
Programinha gostoso em Montevidéu é fazer um safári fotográfico clicando as construções da virada do Século 19 para o 20. A cidade cuida bem de sua arquitetura mais antiguinha

 
Há muito que eu vinha namorando a ideia de uma temporada mais longa na capital uruguaia. Onze anos depois da última visita, finalmente montei um roteiro em Montevidéu do jeito que eu queria, com tempo para conviver com a cidade do jeito que ela convida e merece.

Os dois anos de retiro forçado da pandemia me deixaram doida por uma viagem que me desse o prazer de explorar uma cidade. Não queria praia nem mato, queria a paisagem urbana, mas sem muitas turbulências. 

Livraria Linardi y Risso em Montevidéu
Livraria Más Puro Verso em Montevidéu
Quem curte livrarias, como eu, simplesmente pira em Montevidéu. Estas são a Linardi y Risso (no alto) e a Más Puro Verso, as duas na Ciudad Vieja

Montevidéu se provou perfeita pra isso: a cidade é bonita e bem cuidada, tem muitas atrações interessantes, excelente gastronomia, áreas verdes encantadoras, beira d’água deliciosa... E sem estresse.

Com 1,4 milhões de habitantes (um pouquinho menor do que Brasília), Montevidéu é uma cidade suave: o trânsito é tranquilo e os níveis de ruído urbano são incrivelmente baixos. Os índices de criminalidade — ainda que já comecem a preocupar os moradores — são os menores entre as capitais latino-americanas.

Museu Torres García em Montevidéu
Museu Figari em Montevidéu

Duas visitas que eu super recomendo em Montevidéu: o Museu Torres García (no alto) e o Museu Figari 


Eu poderia ter feito todo esse roteiro em Montevidéu em menos tempo. Mas o maior prazer que a capital uruguaia oferece não é sua lista de atrações e sim a convivência com a cidade, caminhar sem mapa, curtir seus espaços públicos seguros e sossegados, como as Ramblas, o Parque Rodó e as praças da Cidade Velha. Pra mim, esses nove dias podiam ter sido 90.

A imensa maioria dos deslocamentos deste roteiro foram feitos de ônibus. Achei fácil, confortável e seguro usar o transporte público de Montevidéu.

Aos poucos, estão saindo os posts bem detalhadinhos sobre passeios, transporte, hospedagem, preços, segurança e outras dicas práticas de Montevidéu. Aqui você encontra o resumão (que está enorme) e começa a inspirar.

Parque Rodó, Montevidéu, Uruguai
Parque Rodó, área verde muito frequentada pelos moradores de Montevidéu

Roteiro em Montevidéu


1º dia, sexta-feira - Punta Carretas

Minha viagem de Brasília a Montevidéu foi um pancadão de quase nove horas e três voos (de BSB a Campinas, de lá para Porto Alegre e, finalmente, POA-Montevidéu).

Acordei às 3:30h da manhã, embarquei antes do sol nascer e cheguei à capital uruguaia um pouco depois das 14 horas.

Ramblas de Montevidéu, Uruguai

Uma tarde nas Ramblas: Montevidéu me recebeu tão bem...


Apesar da maratona, nem quis saber de descansar. Deixei as malas no hotel e saí para aproveitar o gostoso bairro de Punta Carretas, onde fiquei hospedada. Nada como caminhar pelas Ramblas, à beira do Rio da Prata, pra esticar as pernas e exorcizar o aperreio de aviões e aeroportos.

À noite, já caí na parrilla na adorável La Pulpería, restaurante simples que é uma verdadeira instituição montevideana.

restaurante La Pulpería, Montevidéu, Uruguai
Logo na chegada, um jantar de responsa em La Pulpería, de cara para o braseiro

Minha hospedagem em Montevidéu foi no Punta Trouville Hotel, a uma quadra da Rambla República de Peru. O post detalhado sobre já saiu e o link está no final desta postagem.

2º dia, sábado - Ramblas e MNAV

Talvez tenha sido o longo tempo de confinamento da pandemia, mas raras foram as vezes que cheguei a um destino de viagem com tanta sede de andar e explorar um lugar.

Café da manhã em Montevidéu: medialunas
Medialunas doces e salgadas e um bom café. Eita jeito com de começar o dia

Comecei meu sábado em Montevidéu com café e medialunas (os croissants platenses, um hit dos cafés da manhã em Buenos Aires e na capital uruguaia). O estoque de calorias animou nada menos do que 14 km de caminhadas.

Do hotel até o Letreiro Montevidéu, o percurso de 1,7 km cobre toda a curva da Praia de Pocitos, delícia de passeio à beira d’água — eu me recuso a dizer à beira-mar, quando falo da Orla do Rio da Prata — pela Rambla República de Peru, onde os moradores pedalam, se exercitam ou simplesmente contemplam as águas do rio, que ficam muito azuis em um dia de sol.

Praia de Pocitos, Montevidéu, Uruguai

A curvatura da praia e os prédios altos deram a Pocitos o apelido de "Copacabana de Montevidéu"

Letreiro "Montevidéu", Uruguai
Tem que ter uma certa paciência pra esperar a chance de clicar o Letreiro Montevidéu sem gente pendurada nele

Apresentação de tango em uma rua de Montevidéu

Tango na rua em uma manhã de sábado. Cenas de Montevidéu


Do Letreiro Montevidéu — que rende uma foto para ilustrar o post, mas não merece figurar como “atração turística” — foram mais 2,9 km até o Museu Nacional de Artes Visuais (MNAV), no Parque Rodó. Um passeio pra curtir o clima de vida real da cidade.

Como eu falei no Instagram, vou azucrinar o juízo de todo mundo que for a Montevidéu e não colocar o MNAV em seu roteiro. Que museu legal!! E com entrada gratuita, ainda por cima.

O edifício moderno do MNAV, com janelas abertas para o verde do Parque Rodó, abriga um acervo que é uma gostosíssima aula sobre as artes plásticas no Uruguai — país pequeninho que pariu meu xodó, Joaquín Torres García, e mais uma galera muito boa, como Pedro Figari, José GurvichJuan Manuel Blanes e Bertha Luisi.

 
Museu Nacional de Artes Visuais, Montevidéu, Uruguai
O MNAV é uma deliciosa aula sobre as artes plásticas uruguaias

Museu Nacional de Artes Visuais, Montevidéu, Uruguai
Petrona Viera (1895-1960) foi a primeira mulher a se profissionalizar como pintora no Uruguai. Sua Composição - Retratos em um Jardim (1927) é um dos destaques do acervo do MNAV


Com a alma reabastecida pela visita ao MNAV, era hora de recalibrar as calorias para mais uma caminhada de 1,6 km, de volta a Punta Carretas. Hora de olhar vitrines e exercitar o people watching pela Rua 21 de Setiembre, uma das principais do bairro.

No caminho, a escala para reabastecer as calorias foi no Mercado Williman, centro gastronômico no estilo que está super na moda em Montevidéu: uma praça de alimentação moderninha e com uma boa variedade de opções, a preços moderados.

Mercado Williman, Montevidéu, Uruguai
Pôr do sol em Playa Ramirez, Montevidéu, Uruguai
No alto, almoço tardio no Mercado Williman. Depois teve pôr do sol em Playa Ramirez 


Pra encerrar o dia, mais uma caminhada de 3,7 km (!!) de Punta Trouville até a Playa Ramírez, pelas Ramblas, para ver o pôr do sol.

Pensa que acabou? Voltei a pé para o hotel (mais 3,7 km). No caminho, uma parada estratégica no ótimo Bar Tabaré, para drinks e petiscos, que ninguém é de ferro 😉.

3º dia, domingo - Feira de Tristán Narvaja

Será que eu acordei moída da maratona de voos da sexta e do surto caminhante do sábado? Mas domingo em Montevidéu é dia da Feira de Tristán Narvaja, a mistura de mercado de pulgas e feira livre mais divertida que já vi.

Feira de Tristán Narvaja, Montevidéu, Uruguai
Eu adoro o tumulto cordial da Feira de Tristán Narvaja

Bastou isso pra pular cedo da cama, na maior animação, e pegar o ônibus para o Bairro de Cordón, onde é realizada a feira.

Entre bancas de livros usados, trailers de comidinhas diversas, barracas de hortaliças, brechós de roupas e tabuleiros de quinquilharias e antiguidades, a multidão circula pela Feira de Tristán Narvaja na maior cordialidade. Taí outro programa imperdível em Montevidéu.

Almocei tarde no Mercado Ferrando, que fica bem pertinho da Feira de Tristán Narvaja e encerrei o dia com drinques e petiscos em Punta Carretas.

Montevidéu: Porta da Cidadela e Palácio Salvo
A Porta da Cidadela, na Praça Independência, marca a fronteira entre a Cidade Velha e a "nova" Montevidéu. Abaixo, a estátua equestre de José Artigas

Monumento a José Artigas, Montevidéu, Uruguai

4º dia, segunda-feira - Centro e Cidade Velha

Primeiro dia útil em Montevidéu e é claro que fui passear na Ciudad Vieja (Cidade Velha). O núcleo da povoação colonial da capital uruguaia tem um monte de atrações bacanas, mas deve ser evitado nos fins de semana, pois fica deserto e sem graça, com lojas e museus fechados.

É bem fácil ir de Punta Carretas à Cidade Velha (o ônibus 116 deixa a gente de cara pra o gol. A passagem custa 48 pesos uruguaios, algo como R$ 6,20). 

Edifícios neoclássicos na Avenida 18 de Julio, Montevidéu, Uruguai
No movimento da Avenida 18 de Julio, vale caminhar devagar, garimpando belas fachadas e muitos cliques

Plaza Cagancha, Montevidéu, Uruguai
A Plaza Cagancha é um dos respiros verdes da Avenida 18 de Julio

Desci do ônibus ainda no Centro, na Avenida 18 de Julio, na altura da Intendencia de Montevidéu (Prefeitura), e caminhei até a Praça da Independência, onde está a Puerta de la Ciudadela, “fronteira” oficial da cidade “nova” com o antigo núcleo colonial.

No caminho, fui curtindo os belos edifícios neoclássicos, ecléticos, Art Nouveau e art déco que margeiam a principal avenida do Centro de Montevidéu. Uma parada imperdível é na Livraria Puro Verso, uma das mais tradicionais da cidade, onde precisei de muita disciplina pra comprar apenas um livrinho.

Teatro Solís, Montevidéu, Uruguai
Imaginem a vontade que me deu de esticar a estada
em Montevidéu pra aproveitar a temporada de ópera do Teatro Solís

Na Plaza Independencia estão estão alguns dos cartões postais mais conhecidos de Montevidéu, como o Palácio Salvo (gêmeo do Palácio Barolo de Buenos Aires), a estátua e o mausoléu de José Artigas, herói da Independência Uruguaia e, meio recuado da praça, o belíssimo Teatro Solís. Na praça também fica a sede da Presidência da República do Uruguai.

A Puerta de la Ciudadela era um dos portões da muralha colonial de Montevidéu e hoje é praticamente a única memória em pedra e cal que ainda resta dessa fortificação. 

Do outro lado da porta, a Calle Sarandi (“Peatonal Sarandi”, como dizem os montevideanos: “rua de pedestres Sarandi”) é a passarela que leva ao coração da Cidade Velha.

Catedral de Montevidéu, Uruguai
A Catedral de Montevidéu, do começo do Século 18, merece uma visitinha

Na Sarandi estão atrações imperdíveis, como a Livraria Más Puro Verso, o Museu Torres Garcia, o Museu Figari e o Museu Gurvich. Tem também bons restaurantes, como o Estrecho, onde almocei espetacularmente bem.

A Peatonal Sarandi atravessa a agradável Plaza Constitución, ou Plaza Matriz, onde está a Catedral de Montevidéu (vale a visita, que é gratuita) e o edifício onde funcionou o Cabildo (uma espécie de parlamento colonial das cidades espanholas nas Américas).

Depois de almoçar e visitar a Catedral, rumei para o grande programa do dia, a visita ao querido Museu Torres García, dedicado a um dos meus pintores favoritos. A entrada custa 100 pesos uruguaios (R$ 13).

Museu Torres García, Montevidéu, Uruguai
Museu Torres García: haja disciplina pra não passar meus nove dias em Montevidéu enfurnada lá

Museu Torres García, Montevidéu, Uruguai

Terraço Panorâmico da Prefeitura de Montevidéu, Uruguai
Meu primeiro dia de passeios pelo Centro e pela Cidade Velha de Montevidéu terminou no terraço da Prefeitura, de cara para o pôr do sol

Terminei meu primeiro dia de passeios pelo Centro e Cidade Velha no terraço/mirante da Prefeitura de Montevidéu, que oferece 360 graus de vista para a cidade. O acesso ao mirante é gratuito, mas precisa ser agendado no site da prefeitura.

Tem um post da minha visita anterior a Montevidéu sobre as atrações dessa área:
Passeio pela Cidade Velha de Montevidéu

De volta a Punta Carretas, jantei no Mercado del Inmigrante, outra das praças de alimentação que estão bombando na cidade.

5º dia, terça-feira – Cidade Velha

Esse dia começou com um café da manhã em dois tempos, contemplando dois ícones da Cidade Velha de Montevidéu. 

Confeitaria e Padaria 25 de Mayo, Montevidéu, Uruguai
Cês tomem cuidado quando forem à Confitería 25 de Mayo, porque vicia, tá?

Café Brasileiro, Montevidéu, Uruguai
Café Brasileiro: histórico, bonito e gostoso

Primeiro, eu dei um baque no estoque de guloseimas da mitológica Confitería 25 de Mayo, uma espécie de palácio das delícias disfarçado de padaria. Depois, fui experimentar as medialunas (deliciosas) do legendário Café Brasilero, fundado em 1877.

Minha desculpa para a glutoneria é que acordei muito cedo e a Livraria Linardi y Risso — outra veneranda instituição da Cidade Velha — só abre às 10h. Então, a comilança foi só pra fazer hora 😁.

Depois de quase estourar o cartão de crédito na Linardi y Risso, fui inspecionar as prateleiras de outra bela livraria, a Más Puro Verso, que tem um café bem simpático no mezanino (mas não, não comi nada lá😊).

Cafés da Cidade Velha de Montevidéu: Farmácia e Bacacay
Mais dois cafés charmosíssimos da Cidade Velha de Montevidéu: o Café Farmácia, onde almocei (esq) e o tradicional Café Bacacay, frequentado por Eduardo Galeano, onde parei para uma taça de vinho Tannat antes da visita ao Teatro Solís (e já de cara para o gol)

E lá fui eu, depois, passear sem rumo pela Cidade Velha de Montevidéu. O programa é delicioso, mas abre o apetite. Quando bateu a vontade de almoçar, fui experimentar outra lindeza, que é o Café la Farmácia. Instalado em uma farmácia do Século 19, o lugar preserva toda a decoração, potes e até o letreiro. Fotogênico e saboroso.

À tarde, fui matar uma vontade que já me acompanhava há muito tempo: conhecer a obra do pintor Pedro Figari, um dos grandes nomes das artes uruguaias. Desde que vi uma tela dele no Malba de Buenos Aires (Candombe), eu vinha namorando essa ideia.

Museu Figari, Montevidéu, Uruguai
Museu Figari, tributo a um artista sensacional
 
O pintor tinha entre seus temas prediletos o cotidiano e as celebrações dos descendentes de africanos e o acervo de obras exposto no Museu Figari (com entrada gratuita) é uma festa para os olhos. Um dos grandes programas da Cidade Velha de Montevidéu.

Veja este post detalhadinho: 9 Centros culturais e museus de Montevidéu
 
E, pra terminar um grande dia, fiz a visita guiada ao Teatro Solís. Sou louca por teatros da Belle Époque e o exemplar montevideano é simplesmente encantador. A visita custa 90 pesos uruguaios (R$ 12), mais barato que a maioria dos cafés expressos vendidos na cidade. 

Teatro Solís, Montevidéu, Uruguai
Galerias da sala principal do Teatro Solís

Atualmente, a visita ao Teatro Solis está sendo realizada em um único horário, às 16 horas, com acompanhamento de guias falando inglês, português ou espanhol. É prudente agendar no site do teatro.

6º dia, quarta-feira - Cordón e El Prado

Comecei o dia no simpaticíssimo Bairro de Cordón (onde é realizada a Feira de Tristán Narvaja), uma área de Montevidéu que merece muito sua atenção.

Bairro de Cordón, Montevidéu, Uruguai
Tente resistir ao charme do Bairro de Cordón - e falhe, miseravelmente 😁

Bairro de Cordón, Montevidéu, Uruguai
 
Colado ao Centro, Cordón tem tradição de engajamento e boemia, preserva muito de sua pegada residencial, combinada com uma cena moderna e descolada.

Passear por Cordón é encontrar cafés charmosos, bares animados, boas opções gastronômicas, belas livrarias, como a Escaramuza Libros, espaços culturais, como a Fundação Mario Benedetti, e uma arquitetura antiguinha e bem preservada, à sombra dos adoráveis plátanos, árvores que são meio que logomarca de Montevidéu.

Livraria Escaramuza Libros, Montevidéu, Uruguai
Visita imperdível em Cordón, a Escaramuza Libros tem um baita acervo e um café muito charmoso no pátio

Depois, peguei o ônibus para El Prado, bairro a cerca de 7 km ao Norte do Centro de Montevidéu. A área, cheia de construções elegantes do início do Século 20, é conhecida também por seu parque público de 106 hectares — o maior de Montevidéu —, Jardim Botânico e Rosedal.

Meu principal interesse em El Prado, porém, era ver o Museu Juan Manuel Blanes, dedicado ao pintor do Século 19, instalado em um belo casarão no meio de um belíssimo jardim.

Museu Blanes, Montevidéu, Uruguai
Atração em El Prado: o Museu Blanes está cercado por um belo jardim e tem entrada gratuita
 
Museu Blanes, Montevidéu, Uruguai

Meu passeio ao ar livre por El Prado foi meio frustrado por um aguaceiro — a única chuva que vi cair em Montevidéu nos 10 dias em que estive por lá —, mas o museu compensou a viagem.

Na volta a Punta Carretas e já com o sol brilhando de novo, levei um livrinho para o aconchegante Parque Zorrilla de San Martín, do ladíssimo do meu hotel. (Sim, em Montevidéu você pode deitar na grama e ler, sem ninguém te aporrinhar).

Parque Zorrilla de San Matín, Montevidéu, Uruguai
Parque Zorilla: sossego no meio do vai e vem de Punta Carretas

Depois de todo esse relax, bora pra farra, né? O Bar El Mingus, no Bairro de Palermo, caiu como uma luva na minha alma boêmia.

7º dia, quinta-feira – Cidade Velha e Mercado do Porto

Tenho que confessar que meu roteiro em Montevidéu nesse dia obedeceu à inspiração da gula: eu estava doida pra arrumar uma desculpa para voltar à Confitería 25 de Mayo e devorar alguns quilos do delicioso polvorón (biscoito amanteigado) feito na casa.

Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu
O MAPI é interessante e o Museu Gurvich (abaixo) é sensacional 
 
"Cosntrutivo com Espiral", obra de José Gurvich, Museu Gurvich, Montevidéu, Uruguai
Construtivo com Espiral (1960), de José Gurvich

Ainda bem que eu tinha dois bons pretextos: o Museu Arte Pré-Colombiana e Indígena (MAPI) e o Museu Gurvich, dedicado ao discípulo de Torres García. (Pena que o Museu do Carnaval está fechado).

E ninguém me decepcionou. Os polvorones estavam perfeitos, o MAPI (ingresso a 150 pesos, ou R$ 20) tem acervo pequeno, mas interessante, e o Museu Gurvich (220 pesos, R$ 29) é demais de bacana — ainda mais que estava exibindo uma ótima mostra temporária de outra discípula de Torres Garcia, Bertha Luisi.

Entre um museu e outro, fui bater o ponto e almoçar no Mercado del Puerto (Mercado do Porto), esse “templo da parrilla” em Montevidéu. Acho que os restaurantes do mercado estão cobrando pela fama — afinal, são a meca de dez entre dez turistas que passam por Montevidéu. Mas meu almoço no Palenque foi bem legal.

Mercado do Porto, Montevidéu, Uruguai
Os restaurantes do Mercado do Porto já não são a pechincha de outras épocas, mas almocei muito bem lá

À noite, fui finalmente conferir o badaladíssimo Baar Fun Fun, outra meca turística que promete apresentações de Candombe e Tango. O lugar até que é agradável, mas o show, meio “mãozinha pra cima, tchá, tchá”, é um saco — e sem Candombe nem Tango.

8º dia, sexta-feira - Livrarias do Centro e três exposições muito bacanas

Pra mim, um grande motivo para ir a Montevidéu são as livrarias da cidade — vou fazer um post todinho sobre elas. Assim como as livrarias de Buenos Aires, as da capital uruguaia têm um apelo irresistível pra quem gosta do garimpo e de descobrir novos autores.

Saí na sexta-feira, penúltimo dia de passeios em Montevidéu, com essa excelente missão: revirar as livrarias do Centro e da Cidade Velha.

Centro Cultural El Entrevero (Subte), Montevidéu, Uruguai
O Subte realmente parece uma estação de metrô, mas é um centro cultural bem interessante

Centro de Fotografia de Montevidéu, Uruguai
Eu adorei explorar os destaques do acervo fotográfico de Montevidéu

E foi um passeio delicioso, interrompido, aqui e ali, pela contemplação da arquitetura dos século 19 e 20, por recantos sossegados como as praças Cagancha, Constituição e Zabala, as duas últimas na Cidade Velha.

Uma escala que eu recomendo é no Centro Cultural El Entrevero, ou Subte, na agradável Praça Juan Pedro Fabini, que realmente parece uma estação de metrô (Subte), que tem entrada gratuita.

Vi duas exposições que estavam em cartaz lá. Uma delas cortou meu coração: Infância na Ditadura lembra o impacto da repressão política durante os 12 anos (1973-1985) da ditadura no Uruguai. Os relatos e, principalmente, os brinquedos e livros de história feitos na cadeia pelos presos e presas políticas para seus filhos são uma memória dilacerante.

Restaurante Jacinto, Cidade Velha de Montevidéu, Uruguai
Restaurante Jacinto: descolado e muito gostoso

A outra exposição muito bacana em cartaz em El Entrevero é Rara Avis, dedicada ao artista plástico uruguaio Ulises Beisso.

Saindo do Subte, 300 metros de caminhada deixam a gente na porta do Centro de Fotografia de Montevidéu, mantido pela Prefeitura, que recentemente abriu ao público os arquivos fotográficos da cidade. A exposição Archivo Liberado, com entrada gratuita, apresenta destaques desse rico acervo e também resgata as diversas técnicas e equipamentos fotográficos usados desde a segunda metade do Século 19. Eu amei!

Outro programaço dessa sexta-feira foi o almoço no Restaurante Jacinto, casa moderninha e muito competente, na Cidade Velha. O jantar também foi ótimo em La Criolla, casa de parrillas de Punta Carretas.

Parque Rodó, Montevidéu, Uruguai
O perigo do Parque Rodó é não querer ir mais embora

Parque Rodó, Montevidéu, Uruguai

9º dia, sábado – Parque Rodó e tango no Mercado de la Abundancia

Pra me despedir de Montevidéu, quis aproveitar ao máximo o sossego, o silêncio e a placidez que a cidade — uma metrópole em tudo, menos no caos — oferece. Em se tratando de um sábado, nada melhor do que fazer como muitos montevideanos e rumar para o Parque Rodó, a mais querida das áreas verdes da capital uruguaia

Era pra ser só uma passada rápida, fazendo hora pra ir almoçar no Mercado de la Abundancia  — que além dos boxes de comidinhas caprichadas, funciona como um centro cultural e espaço de preservação das tradições do tango. Mas foi só chegar ao Parque Rodó pra não querer ir mais embora.

O Parque Rodó realmente fica adorável nos fins de semana, com gente passeando, se exercitando, brincando com seus cachorros — tem áreas especialmente dedicadas aos totós — cruzando o lago em pedalinhos ou, simplesmente, como foi o meu caso, mergulhando naquele sossego irresistível. 

Lua cheia nas Ramblas de Montevidéu, Uruguai
Essa lua cheia me deixou com a sensação que Montevidéu estava me pedindo pra ficar

E ainda por cima tinha uma feirinha de artesanato e comidinhas bem legal, em um canto do Parque Rodó.

Cheguei bem tarde para o almoço e para as apresentações musicais de tango no Mercado de la Abundancia, mas ainda deu pra curtir bastante.

O final do dia foi nas Ramblas, onde uma lua cheia deslumbrante parecia estar pedindo que eu ficasse mais um pouquinho em Montevidéu.

Aeroporto Internacional de Carrasco, Montevidéu
Hasta pronto, Montevideo, sua linda (e só só eu que acho esse aeroporto bonito demais?)

Domingo – a volta pra casa

Eu até podia ter acordado mais cedo pra aproveitar uma última manhã em Montevidéu, mas a cidade —  que parece estar sempre dizendo não tenha pressa, porque eu sempre vou estar aqui — me ninou num soninho delicioso até a hora de fazer o check-out do hotel e rumar para o aeroporto. 

Meu voo saiu às 15h e à meia noite eu estava pousando em Brasília. Cheia de planos de voltar logo a Montevidéu.


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6 comentários:

  1. Que delícia de viagem! Vou copiar todas as dicas kkkk tô louca pra andar horrores por alguma cidade interessante e no caso de Montevideo, principalmente pelas livrarias!

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    1. Foi mesmo uma viagem deliciosa, Fê. Acho que não poderia ter escolhido um destino melhor do que Montevidéu pra voltar ao prazer de viajar

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  2. Que maravilha ! Já na lista de destinos desejados ! Parabéns e obrigada! 🥰

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    1. Você não vai se arrepender. Montevidéu é uma cidade adorável

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  3. Que lindeza ler seu relato, Cyntia! Montevideo é encantadora e seu olhar também! <3

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  4. Obrigada, Mile. Seu Guia de Montevidéu foi fundamental para que essa viagem fosse tão gostosa. Bjo

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