Esforço que vale a pena: a subida ao topo do Templo IV nos recompensa com essa vista de Tikal |
Tikal, a “capital” da civilização maia, na Guatemala, frequentou minhas fantasias desde que eu era criança.
A majestosa cidade engolida pela selva, após ser abandonada no Século 10 da nossa era, vai muito além do que a minha imaginação sugeria.
A metrópole maia e seus espetaculares templos em forma de pirâmides são um senhor motivo para que você coloque a bela Guatemala em seu radar viajante.
Neste post eu reuni todas as dicas práticas pra ajudar a organizar a sua viagem a Tikal.
Também conto um pouquinho da história do sítio arqueológico de Tikal e falo das principais atrações da capital dos maias. Espero que a sua jornada seja tão inesquecível quanto foi a minha.
Vista a Tikal, Guatemala
O que ver em Tikal
O antigo núcleo urbano de Tikal está encravado na Reserva da Biosfera Maia, na região do Petén, a planície que ocupa o Norte da Guatemala.
A subida da Pirâmide Leste do chamado "Complexo Q" |
Os maias começaram a construir sua capital nove séculos antes de Cristo.
Em seu tempo, Tikal foi uma metrópole que concentrou o poder político, econômico e religioso de um império que se estendeu do Sul do atual México (Chiapas e Península de Yucatán) até o os territórios que hoje pertencem à Guatemala, Belize, El Salvador e Honduras.
Os arqueólogos acreditam que, em seu esplendor Tikal tenha chegado a reunir uma população entre 100 mil e 150 mil habitantes.
Se você lembra do Calendário Maia (aquele famoso, que não previa o fim do mundo em 2012 ... 😊). Ese calendário era muito preciso e era essencial para o planejamento de plantios no Império Maia.
A Pirâmide Leste, no Complexo Q. As estruturas circulares
diante das estelas são altares |
A capital maia ficou esquecida por cerca de 900 anos, embora permanecesse presente na tradição oral dos povos indígenas locais.
Foi só que no Século 19 que o governo da Guatemala pode organizar uma expedição, com auxílio europeu, para comprovar a lenda sobre a monumental cidade maia.
As escavações continuam em curso em Tikal. A investigação arqueológica tem que ser feita com muito cuidado, pois muitas das estruturas estão completamente cobertas de terra e vegetação.
Cada morrinho que a gente vê à beira das trilhas do parque pode ser uma construção maia engolida pela selva, com árvores imensas em seu topo.
Este morrinho coberto de vegetação é, na verdade, uma construção maia engolida pela mata |
Além das ruínas, que são arrebatadoras, um passeio por Tikal é sempre a oportunidade de avistar os atuais moradores do lugar: aves de diversas espécies, macacos e até (juram os guias) jaguares.
As principais estruturas já escavadas em Tikal e restauradas são seis imensas pirâmides que abrigavam templos dedicados às divindades maias. Há um incontável número de pirâmides menores ainda encobertas.
Também já está escavada boa parte do chamado "Complexo Q", da Acrópole Central, da Acrópole Norte a Praça Central .
Essa praça é talvez o ponto mais emocionante das ruínas de Tikal, dominada pela imponência do Templo do Grande Jaguar (Templo I) e o Templo das Máscaras (Templo II) e cercada por restos de construções residenciais e cerimoniais.
Vestígios do Edifício Sul, no Complexo Q |
São quatro construções, incluindo as "pirâmides gêmeas”, erguidas para celebrar um Katun (período de 20 anos no Calendário Maia).
Esse grupo de construções está entre as obras mais recentes de Tikal, quando um período de guerras já ameaçava a estabilidade política e social do Império Maia.
Estela gravada com a imagem de Chitam, o último governante de Tikal, no Edifício Norte |
A Pirâmide Leste do Complexo Q, já escavada e restaurada, está colocada no lado do sol nascente, para representar início do ciclo da vida, o dia, a luz.
Diante de sua escadaria estão sete estelas (placas de pedras com inscrições) narrando fatos históricos e espirituais relacionados com o Katun celebrado pelas construções.
Do lado oposto, onde o sol se põe, está a Pirâmide Oeste, ainda totalmente encoberta pela terra e vegetação. Associada ao crepúsculo, representa a morte, o fim.
O Complexo Q é composto ainda pelo Edifício Norte, relacionado ao ponto cardeal onde o sol atinge seu ponto mais alto e, portanto, está associado ao céu místico, onde habitam as divindades.
No interior do Edifício Norte está uma estela que exibe a figura de Chitam, o último governante de Tikal de que se tem registro.
O Edifício Sul está associado ao “mundo subterrâneo”, que na maioria das culturas pré-colombianas representava o oculto, o pós-morte (embora sem a conotação de “inferno” que as grandes religiões atribuem a essa dimensão).
Templo do Grande Jaguar, tumba do Senhor do Cacau |
Isso dá uma ideia da importância que os maias conferiam ao cacau e ao seu derivado, o chocolate. A bebida extraída das sementes da planta era usada nas cerimônias sagradas para ajudar sacerdotes e reis a chegarem perto dos deuses.
É proibido subir o Templo do Grande Jaguar, pois sua escadaria, muito íngreme, já provocou acidentes graves, inclusive com vítimas fatais.
O Templo da Lua e a Acrópole Norte (à direita) |
Essa pirâmide também é uma construção datada do Século 8 e era dedicada à esposa de Ah Cacao.
É permitido subir o Templo da Lua, onde foi construído um
parapeito para a segurança dos turistas. Mas a subida é quase tão íngreme
quanto a proibida escadaria do Templo do Jaguar |
As pirâmides vistas da plataforma superior do Templo IV.
Abaixo, a escadaria que me levou até lá - cheguei mortinha, mas valeu a pena |
A Pirâmide IV está apenas parcialmente escavada, tem 70 metros e altura e, lá do alto, a paisagem é de fazer o coração dar uma paradinha.
Por cima do oceano verde formado pelas copas das árvores, é possível avistar o cume dos outros grandes templos de Tikal, com as montanhas ao fundo.
Quase lá: uma paradinha para recobrar o fôlego na escalada
do Templo IV. Abaixo, "as costas" da construção, ainda cobertas pela
vegetação |
A Acrópole Norte foi uma área residencial nobre que também teve a função de acolher as sepulturas reais de Tikal. Lá foram escavados os túmulos de diversos soberanos da capital maia.
Da grande plataforma da Acrópole Norte o visitante tem uma
vista privilegiada para a Praça Central de Tikal. Essa estrutura acomodava oito
templos, construídos no Século 3 a.C. |
Vizinha da Praça Central e dos templos do Grande Jaguar e da Lua, a área começou a ganhar suas primeiras construções no ano 350 a.C. Um século depois, foi erguida a grande plataforma onde se assentavam pelo menos oito templos.
Posteriormente, já no Século 5 de nossa área, a Acrópole Norte ganhou um conjunto de pirâmides e um terraço—onde se assentavam mais sete templos.
A Acrópole Norte teve grande importância cerimonial na cidade de Tikal, como atestam a profusão de elementos escavados na área, como estelas, altares e imagens de reis.
Arqueólogos apontam que a estrutura à direita pode ter sido
o palácio real de Tikal. A Acrópole tinha função residencial e de necrópole dos
reis e da nobreza da cidade maia |
Como chegar a Tikal
Embora a Guatemala tenha o turismo como uma importante fonte de renda, as informações e venda de serviços pela internet ainda são escassos por lá.
O jeito mais cômodo de chegar a Tikal é voando da Cidade da Guatemala a Flores |
Como chegar a Flores
➡️A Avianca voa para Flores e dá para comprar a passagem pela internet aqui no Brasil. O bilhete de ida e volta custa em torno de US$ 240.
Aeroporto Internacional Mundo Maya, a porta de entrada para a região do Petén |
Flores (a antiga cidade maia de Tayasal) tem cerca de 15 mil habitantes, é bonitinha e bem cuidada.
Fica em uma ilha do Lago Petén Itzá e tem infraestrutura para o turismo, com pousadas e restaurantes, mas não espere nada luxuoso.
O Lago Petén Itza fotografado da van que me levou a Tikal |
Nesta modalidade, prepare-se para passar um dia viajando até o Petén, região onde está Tikal, para realizar a visita no dia seguinte.
A volta é no final da tarde do segundo dia, viajando a noite toda, para chegar à capital na manhã do terceiro dia. Esses roteiros custam a partir de US$ 220.
Maquete de Tikal no restaurante onde paramos para um cafe, no trajeto entre o Aeroporto de Flores e o sítio arqueológico |
Tratei tudo por email e fiz o pagamento antecipado, com o cartão de crédito (eles mandaram uma autorização para cobrança, que assinei, escaneei e devolvi).
O processo é todo meio artesanal, a agência sequer tem um site. Isso pode deixar o cliente meio inseguro, mas deu tudo certo e a empresa cumpriu direitinho o combinado.
O Templo IV pairando sobre as árvores é uma visão inesquecível |
Às 4:45h da manhã eu já estava prontinha, depois de fazer check-out no hotel na Cidade da Guatemala, esperando o transfer para o aeroporto.
Na chegada ao Aeroporto Mundo Maia, em Flores, embarquei em uma van com outros passageiros e um guia para a visita ao sítio arqueológico.
O passeio guiado pelo sítio arqueológico de Tikal exige quatro horas de caminhada pela mata, com subidas e descidas. Use roupas frescas e
confortáveis |
O passeio guiado pelas ruínas de Tikal leva cerca de 4 horas e, ao final, paramos para um almoço em um dos restaurantes do sítio arqueológico (preço incluído no pacote).
À tardinha retornei ao aeroporto, para pegar um voo às 21 horas (vi que tinha voos mais cedo).
Considerando a praticidade, o ganho de tempo (uma viagem independente teria consumido pelo menos dois dias) e a diferença de preço para os pacotes rodoviários, que sairiam US$ 100 mais baratos, mas exigiriam que eu pagasse hospedagem em Flores, acho que valeu muito a pena.
O Templo III, construído no início do Século 9, foi a primeira grande estrutura que avistei em Tikal - o coração deu alguns pulinhos |
Visita ao Parque Nacional de Tikal
As visitas especiais (para ver o sol nascer do alto de uma das pirâmides maias) fora do horário normal de abertura do parque custam 250 quetzales (US$ 34 ou R$ 113).
Essa pulseirinha é o ticket de acesso a Tical - e já entrou para a lista das minhas lembranças de viagem favoritas |
O que levar na bagagem para Tikal
Não conte com sinal de celular durante a visita, afinal, você estará no meio da selva.
Ter uma bateria externa para o celular é uma boa ideia, porque você só verá tomadas para carregar o aparelho no aeroporto.
A mata densa que tomou conta de Tikal oferece muita sombra ao visitante, mas mesmo assim é preciso caprichar muito no protetor solar - e no repelente, contra os mosquitos |
É essencial contar com um bom suprimento de água durante o passeio, pois faz muito calor (eu disse muuuuuuuito) no sítio arqueológico, apesar da vegetação. Prepare-se para o desconforto do calor úmido típico da selva tropical.
Um bom chapéu de palha ou de tecido também será um excelente companheiro de passeio, assim como calçados confortáveis e que não fiquem soltando do pé.
Ao longo das trilhas você vai encontrar algumas lanchonetes e restaurantes, como este da foto |
Eu, que tenho a pele muito clara e sensível, dei uma torradinha básica durante o passeio, mesmo lambuzada de protetor fator 40.
Repelente contra insetos é item básico de sobrevivência em Tikal. E lembre-se de reaplicar o produto, que tenderá a ser “lavado” pelo suor.
Eu dei uma vacilada na reaplicação e acabei premiada com umas ferroadas desagradáveis — vocês já sabem que os mosquitos de todos os quadrantes do planeta são loucos por mim, a alérgica 😊.
Há posadas na área do parque, mas é proibido pernoitar na mata |
Os cartões de débito e crédito não têm muita serventia por lá.
Depois do calorão e da suadeira da visita a Tikal, é bom ter uma camiseta limpa e fresquinha na mochila. Lencinhos refrescantes e outros produtos que ajudam a gente a recobrar a forma humana depois de derreter no forno são bem-vindos.
Meu almoço em Tikal: uma saborosa sopa de legumes (acima) e
o bifinho com molho picante e delicioso |
Onde comer em Tikal
Não paguei a refeição, pois estava incluída no meu pacote, mas espere gastar menos de US$ 20, com bebidas incluídas.
O grande luxo é ser recebida na entrada do restaurante por uma bandeja com toalhinhas geladas, para refrescar. Eu amei!
A mesa posta para receber o meu grupo. Abaixo, os tacos
sendo assados |
Hospedagem em Tikal
Jungle Lodge Tikal Hostal (com nota 8,4 no Booking e diárias na casa dos US$ 50)
Hotel Jungle Lodge Tikal (nota 8,7 e diárias na casa dos US$ 190)
Tikal Inn (nota 7,5 e diárias na casa dos US$ 60).
A diária de um quarto duplo decente em Flores custa a partir de US$ 40, pelo que apurei quando pesquisava para essa viagem.
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Oi, Cyntia!
ResponderExcluirVou fazer minha primeira viagem internacional (e será à Guatemala, para conhecer Tikal e alguns outros sítios arqueológicos do Petén), e de muita coisa que li aqui na internet, no seu blog foi onde consegui informações mais úteis e atualizadas. Quero trocar umas ideias contigo, para ganhar mais confiança sobre hotéis e reservas de passeios.
Minha escolha pela Guatemala é bem particular. Sou estudiosa da Civilização Maia (fiz TCC e dissertação de mestrado tendo esse povo como objeto de estudo), e sonho há muitos anos poder pisar em Tikal, Palenque, Bonampak, Copán... Mas nessa viagem inicial, vou me deter ao Petén, mesmo.
Segui você no Twitter para facilitar.
Oi, Milena, excelente escolha. A Guatemala é maravilhosa. Não é muito fácil conseguir informações, mas vale a pena o trabalhinho que dá :)
ResponderExcluirFique à vontade pra perguntar. No que eu puder ajudar, estou à disposição.
Abs
Muito obrigada por sua gentileza e disponibilidade, Cyntia!
ResponderExcluirMinha primeira dúvida diz respeito à casa de câmbio/banco para trocar dólares por quetzals. Qual a que você me sugere na Cidade da Guatemala/Flores? E é verdade que eles só trocam 200 dólares por dia?
A segunda diz respeito à água. Já me fizeram muito medo sobre a água da Guatemala, e sei que é bom evitar a água aromatizada, mas até para escovar os dentes a gente precisa comprar água mineral?
E sobre o Travel Center Guatemala, eles cobraram adiantado 100% do valor ou uma parte? Você agendou a viagem a Tikal com muita antecedência? Porque estou me programando para ir em abril desse ano, pegando a Semana Santa.
[ ]s,
Milena
Milena, não vou ter como indicar uma casa de câmbio na capital. Cheguei à Cidade da Guatemala à noite e no dia seguinte, às 6h da manhã, já embarquei para Flores. Fiz câmbio no aeroporto, na chegada, pois seria minha única oportunidade.
ExcluirO que posso dizer é que a cotação do dólar no aeroporto não era muito diferente da que encontrei na cidade de Antigua, meu destino seguinte.
Não vi esse limite de US$ 200 por dia. Pode ser que exista, mas não me foi falado nada sobre isso. Eu trocava dólares de 100 em 100, era o suficiente para as despesas de dois ou três dias.
Sobre a água, eu bebia apenas água mineral, mas escovei os dentes tranquilamente com a água da pia, mesmo.
Paguei à Travel Center Guatemala 100% do passeio a Tikal adiantados, no cartão de crédito.
Agendei com cerca de 45 dias de antecedência. O ponto fundamental aí é a viagem aérea para Flores. São vários voos diários, mas não são tantos que a gente possa arriscar comprar de última hora.
Abs
Oi, Cyntia!
ResponderExcluirAgradeço novamente a sua gentileza em tirar minhas dúvidas.
Agora, por favor, me fala se na alfândega da Guatemala a gente demora muito, pois estou pensando seriamente em já comprar meu voo Guate - Flores para o mesmo dia que chegar (vou chegar por volta das 11 da manhã e acredito que dê para ir tranquilo e eu parar de vez em Flores).
[ ]s,
Milena
Milena, a passagem pela imigração e aduana foi bem rápida no Aeroporto da Cidade da Guatemala.
ExcluirSe for por isso, acho que daria para embarcar para Flores na sequência.
Mas não aconselho muito marcar um voo para o mesmo dia se forem bilhetes separados. Se o seu voo para a Cidade da Guatemala atrasar muito, você perde o voo para Flores e a companhia aérea que atrasou não se responsabiliza.
Caso você consiga comprar o voo até Flores no mesmo bilhete, aí pode valer a pena.
Veja com a Avianca, que voa para Guate e de Guate para Flores. Talvez vc consiga comprar todos os trechos em um bilhete só - só não sei se o preço vai compensar.
Abs
Hum... Estou vendo a possibilidade de comprar todas as passagens numa agência de viagem daqui, calculando os horários e possíveis atrasos. Será que dá certo?
ResponderExcluirO importante é a emissão de todos os trechos aéreos no mesmo bilhete (a passagem tem que ser Brasil-Flores, com conexões). Não basta comprar passagens separadas no mesmo revendedor.
ExcluirAgora eu entendi o que você está dizendo. Mas essa passagem SP-Flores é uma facada fenomenal.
ResponderExcluirEntão, é melhor chegar a Guate num dia e ir pra Flores no outro, com bilhetes separados. Eu não arriscaria viajar no mesmo dia. Se seu voo pra Guate atrasar e vc perder o embarque pra Flores, o preju tb é enorme :)
Excluir