27 de outubro de 2017

Salvador: uma tarde no Rio Vermelho


Casa de Yemanjá no Rio Vermelho em Salvador
"Odoyá", escultura de Ray Vianna no Rio Vermelho em Salvador

No alto, barcos de pesca descansando da lida, na Praia do Rio Vermelho, com a Casa de Yemanjá e a sede da Colônia de Pesca ao fundo. Acima, Odoyá, escultura de Ray Vianna


Há décadas que o Rio Vermelho se consagrou como o bairro boêmio de Salvador. É lá que sempre estão os melhores bares, as baladas mais animadas e fauna urbana mais interessante.

Tudo isso rima com noite, mas acaba ofuscando outros encantos do Red River — como dizemos nós, os íntimos. Eu mesma já nem lembrava mais a última vez que tinha estado naquele pedaço com a luz do dia.

Pois saiba que isso é um desperdício. O Rio Vermelho também é ótimo antes do pôr do sol (que, aliás, em bem bonito por lá).

Largo da Dinha e Igreja de Santana no Rio Vermelho em Salvador
Igreja de Santana no Rio Vermelho em Salvador

O Largo de Santana (no alto) foi apelidado pelos turistas de "Largo da Dinha", em referência ao tabuleiro de uma das baianas mais famosas de Salvador. A antiga igrejinha de Santana escapou da demolição graças à mobilização dos moradores. Acima, a Igreja "nova" de Santana, inaugurada nos anos 60 e onde fiz a Primeira Comunhão


Especialmente num final de tarde ensolarada, quando o mar quebra mansinho na praia e a multidão de barquinhos, descansando da lida sobre as areias douradas, nos mostram a face tradicional da antiga aldeia de pescadores cantada por Dorival Caymmi, narrada por Jorge Amado e pintada por Caribé e Floriano Teixeira — todos moradores do bairro.

No último domingo eu fiz um passeio muito gostoso pelo Rio Vermelho, sugestão da minha amiga Marusia, e me reencontrei com a cara diurna desse pedacinho de Salvador onde sempre faço minhas farras noturnas.

Palco Raul Seixas no Rio Vermelho em Salvador
O Palco Raul Seixas anda deserto...


Aproveito e deixo as dicas pra você se inspirar e aproveitar um dos pedacinhos mais gostosos da minha terra, a querida Salvador.

Veja também  
                     


O que fazer no Rio Vermelho, Salvador


"Cetro da Ancestralidade", escultura de Mestre Didi na Praia do Rio Vermelho em Salvador
É na Praia do Rio Vermelho que Salvador celebra a Festa de Yemanjá, no dia 2 de Fevereiro. Acima, o Cetro da Ancestralidade, escultura de Mestre Didi

Praia do Rio Vermelho em Salvador

Os acarajés do Rio Vermelho

Comece comendo um acarajé (e um abará, que também é muito bom). O Rio Vermelho tem a honra de abrigar os tabuleiros de Cira, Dinha e Regina, as três baianas mais badaladas de Salvador.

Dinha (que já partiu para o Orum, mas deixou as herdeiras no comando) fez tanto sucesso naquele pedaço que praticamente rebatizou a praça onde mantinha seus tachos sempre em ação.

Largo de Santana, em torno da velha igrejinha, é muito mais conhecido como "Largo da Dinha". 

Acarajé, comida baiana
As três baianas de acarajé mais famosas da Bahia montaram ponto no Rio Vermelho

barraca de Regina fica em frente ao Largo de Santana, no pequeno estacionamento onde também está a Banca de revistas de Jesus (ou Banca Santana), a mais tradicional do bairro.

Na era pré-internet, era na Banca de Jesus que a gente tinha certeza de encontrar jornais e revistas importadas para suprir nossa sede de notícias.

Já o "tabuleiro" de Cira (na verdade uma estrutura com mesinhas na calçada e serviço de bebidas) está montado mais adiante, no Largo da Mariquita.

O abará de Regina é o melhor da Bahia. E o acarajé de Cira é uma perfeição.

Praia do Rio Vermelho em Salvador
O Rio Vermelho visto da Casa de Yemanjá


Casa de Yemanjá

Antes de cair na tentação de escolher uma mesinha ao ar livre de um dos muitos bares do Largo de Santana, também chamado de Largo da Dinha, deixe de preguiça e aproveite a brisa para um passeio à beira-mar.

Logo em frente ao Largo da Dinha está a Casa de Yemanjá, a deusa do mar segundo o Candomblé.

A Casa de Yemanjá é mantida pela Colônia de Pescadores do Rio Vermelho. É de lá que partem os balaios carregados de presentes para a orixá das águas salgadas, nas festas de 2 de Fevereiro.

Estátua de Yemanjá no Rio Vermelho em Salvador
Estátua de Yemanjá no Rio Vermelho em Salvador

Yemanjá recebe os visitantes na porta da casinha dedicada a ela pelos pescadores do Rio Vermelho

A festa é em 2 de fevereiro, mas as homenagens à Rainha das Águas são feitas o ano inteiro na Casa de Yemanjá


Calçadão do Rio Vermelho

Um polêmico projeto de "requalificação" realizado pela Prefeitura dotou o Rio Vermelho de um calçadão e uma ciclovia à beira-mar.

Ele começa na Praia da Paciência (a preferida pelos moradores do bairro), que ganhou um novo mirante, e segue até o antigo Mercado do Peixe, no Largo da Mariquita.

Calçadão do Rio Vermelho em Salvador

Considerando a barbaridade que foi feita na Barra, até que o calçadão do Rio Vermelho não ficou tão ruim.

Nos dias de verão (que em Salvador vai de setembro a março), esse calçadão está sempre bem movimentado, especialmente quando o sol começa a ficar mais manso, lá pelas 16:30h, 17 horas.

Pôr do sol no Rio Vermelho em Salvador
Um passeio pelo calçadão do Rio Vermelho no final da tarde terá cenas assim


Moradores do Rio Vermelho e de bairros vizinhos aproveitam a área para fazer exercícios, pedalar, andar de skate ou simplesmente curtir a brisa que sopra do mar, ao cair da tarde. 

Esse movimento é garantia de segurança e você pode relaxar e aproveitar o clima de férias que toma conta do Rio Vermelho no final da tarde.

Pôr do sol no Rio Vermelho em Salvador
Pôr do sol no Rio Vermelho em Salvador
Ou assim


Happy hour no Rio Vermelho

Se a ideia for engatar a happy hour, você está no lugar certo.

Não tenho dados estatísticos, mas o empirismo me autorizar a dizer que o Red River é o pedaço de Salvador com a maior concentração de bares, botecos e restaurantes da cidade — com opções para todos os gostos e bolsos.

Mercado do Peixe de Rio Vermelho em Salvador
Mercado do Peixe de Rio Vermelho em Salvador
Mercado do Peixe de Rio Vermelho em Salvador
O antigo Mercado do Peixe foi gourmetizado e gentrificado, sob muitos protestos. Mas até que o lugar está agradável


Do churrasco ao sushi, do sujinho com mesas de plástico ao piano-bar, tem de tudo no Rio Vermelho.

Nesta última passagem pelo bairro, fui conhecer o Novo Mercado do Peixe (Praça Caramuru, 2), que me pareceu bem agradável, com mesas ao ar livre (sob toldos que lembram as velas dos barcos dos pescadores).

Praia de Caramuru no Rio Vermelho em Salvador
Praia de Caramuru no Rio Vermelho em Salvador
Antes da fundação de Salvador, o náufrago português Diogo Álvares Correia foi trazido pela maré a esta praia. Adotado pelos tupinambás, entrou para a história como Caramuru, seu nome indígena


O Mercado do Peixe original, instalado na praia onde Carumuru chegou, após seu naufrágio (no Século 16), era um clássico de fim de noite, onde a boemia fazia o último pit stop para forrar o estômago com um caldinho de sururu ou um prato de mocotó ou simplesmente tomar a saideira na madrugada.

O mercado foi fechado, passou por uma reforma gentrificadora que gerou muitos protestos, ganhou restaurantes e bares bem arrumados (alguns são filiais de casas famosas na cidade, como a Cantina da Lua e o Caminho de Casa) e agora está mais mauricinho, mais limpo e mais seguro. 

Sorveteria Mondo no Rio Vermelho, Salvador
O sorvete de mangaba da Mondo estava uma maravilha


Uma boa sorveteria

De volta ao Largo de Santana, os apaixonados por sorvete (eu!!) vão gostar da Mondo Gelato Artesanal (Largo de Santana, 7, Vila Persa).

Com produção "feita em casa", a sorveteria tem sabores frutais e cremosos. Eu amei o de chocolate amargo, sem leite (à base de água) e o de mangaba.

A casquinha de biscoito é um show à parte. Os copinhos ou casquinhas custam a partir de R$ 12.

Depois da happy hour, a noite ferve no Rio Vermelho. Mas esse é assunto para outro post. Por enquanto, aproveite a tarde em um dos bairros mais gostosos de Salvador 😊.

Todas as dicas de Salvador - post índice 

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4 comentários:

  1. Estupendo post. Estpy en Salvador sólo dos días e iré sin falta a Río Vermelho gracias a lo aquí leído. Muito obrigado! Rafael

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  2. Que bien, Rafael. Disfrute de mi ciudad :)

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  3. Cyntia, mais duas dicas rápidas do Rio Vermelho (um tanto óbvias,é verdade): a praia do Buracão e a Casa do Rio Vermelho (museu-casa de Jorge Amado).
    Parabéns pelo blog!
    Daniel

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    Respostas
    1. Oi, Daniel, boas lembranças. A Casa do Rio Vermelho é muito legal (pra quem está lendo esse comentário: é a antiga residência de Jorge Amado e Zélia Gattai, transformada em museu).

      A Praia do Buracão é ótima pelo astral descolado e as pessoas interessantes que frequentam. Mas eu não arrisco recomendar o banho de mar lá, especialmente pra quem desconhece os humores daquela maré. Eu mesma já tomei um caldo daqueles de liquidificador (sabe quando você fica girando no redemoinho da onda?) :)

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