4 de maio de 2017

Palácio Nacional de Belas Artes do México, a magia da arte de um país


"O Homem controlador do universo" de Diego Rivera no Palácio Nacional de Belas Artes do México

O Homem Controlador do Universo, mural de Diego Rivera no Palácio Nacional de Belas Artes do México


Minha maior inspiração para visitar o México tem nome e sobrenome: Diego Rivera. Eu já tinha tido o prazer de contemplar alguns de seus quadros em museus e exposições mundo afora, mas nunca tinha estado cara a cara com seus famosos murais, trabalhos que o consagraram no mundo das artes.

E essa foi a grande emoção da minha visita ao Palácio Nacional de Belas Artes do México, na capital do país. 

Com esse item finalmente ticado na minha lista de desejos, posso afirmar sem medo de estar exagerando: os murais de Diego Rivera, sozinhos, já justificariam a viagem ao México.

Fachada do Palácio Nacional de Belas Artes do México
decoração art déco do interior do Palácio Nacional de Belas Artes do México

Palácio Nacional de Belas Artes do México: o exterior é Art Nouveau e as cúpulas de sugerem vulcões em erupção (no alto). O interior tem uma escandalosamente bela decoração em art déco 


Melhor ainda quando a gente pode ver algumas dessas maravilhas em um espaço cultural tão bonito quanto o Palácio Nacional de Belas Artes do México.

Concebido originalmente para ser uma casa de ópera, o Palácio Nacional de Belas Artes  foi inaugurado em 1934, abrigando também um museu  — uma feliz associação entre acervo, arquitetura e decoração que tornam o lugar uma atração imperdível na Cidade do México.

E eu ainda dei a tremenda sorte de visitar o Belas Artes quando estava em cartaz a fantástica exposição temporária Pinta La Revolución, dedicada à arte moderna mexicana produzida entre 1910 e 1950 e montada em parceria com o Philadelphia Museum of Art.

Autorretrato de Frida Kahlo
Obra de Frida Kahlo O Suicídio de Dorothy Hale

Obras de Frida Kahlo na mostra temporária Pinta la Revolución: no alto, Autorretrato. Acima O Suicídio de Dorothy Hale e abaixo Onde penduro o meu vestido 


Obra de Frida Kahlo "Onde penduro meu vestido"

Sim, porque o Palácio Nacional de Belas Artes está sempre oferecendo ótimas mostras temporárias, como as dedicadas a Toulouse-Latrec (2106),  Leonardo da Vinci e Michelangelo (2015) e Cartier-Bresson (2014), só para citar as mais recentes.

Mais um motivo pra você colocá-lo no topo da sua lista de programas quando passar pela Cidade do México. Veja as dicas:



Palácio Nacional de Belas Artes do México


Arquitetura e decoração art déco do Palácio Nacional de Belas Artes do México
Arquitetura e decoração art déco do Palácio Nacional de Belas Artes do México

O interior do Belas Artes é o céu para quem curte art déco


O que ver no Palácio Nacional de Belas Artes da Cidade do México

O acervo do Palácio Nacional de Belas Artes traça um painel que vai do Século 16 ao Modernismo do Século 20.

As maiores estrelas da coleção permanente são os murais que decoram o interior do edifício, obras de expoentes dessa arte.

Além de Diego Rivera, você verá os traços de José Clemente Orozco, Roberto Montenegro, David Alfaros Siqueiros e Rufino Tamayo, só a nata do Movimento Muralista.

Saguão do Palácio Nacional de Belas Artes do México

O acervo do Palácio Nacional de Belas Artes abarca do Século 16 ao Modernismo do Século 20


A Arquitetura do Palácio Nacional de Belas Artes do México

O Palácio Nacional de Belas Artes foi planejado como um teatro de ópera nos padrões das grandes casas do gênero do mundo e projetado em estilo Art-Nouveau, como mandava o gosto da época de sua construção.

A sala de concertos do Palácio Nacional de Belas Artes é considerada uma das mais bonitas das Américas e pode ser vista em visitas guiadas ou, melhor ainda, durante um dos muitos espetáculos que movimentam seu o palco. 

Os eventos mais concorridos são os espetáculos do Balé Folclórico do México, que se apresenta lá todas as quartas-feiras e domingos, sempre com casa cheia — eu bem que tentei, mas não consegui ingresso 😞.

Palácio Nacional de Belas Artes do México
Palácio Nacional de Belas Artes do México
Elementos pré-hispânicos traduzidos em art déco

Palácio Nacional de Belas Artes do México
Palácio Nacional de Belas Artes do México

O Palácio Nacional de Belas Artes é simplesmente um dos edifícios mais lindos que vi na vida 


A construção do Palácio Nacional de Belas Artes foi iniciada em 1902, mas acabou interrompida pela eclosão da Revolução Mexicana (1910).

Quando a obra foi retomada, na década de 30, o país era outro, com uma nova mentalidade e novas demandas e necessidades.

O projeto, portanto, foi profundamente alterado para que surgisse não apenas uma casa de ópera para as elites, mas um centro cultural que abrigasse as diversas manifestações artísticas — o primeiro museu de artes do México.

Obra do pintor mexicano Alfredo Ramos Martínez "Compaixão"
Obra do pintor mexicano Alfredo Ramos Martínez: "Zapatistas""

Obras do mexicano Alfredo Ramos Martínez na mostra temporária: no alto, Compaixão. Acima, Zapatistas


No que dizia respeito ao estilo decorativo, os gostos também haviam mudado.

É por isso que o Palácio Nacional de Belas Artes resultou nesse delicioso encontro entre o lindo exterior Art-Nouveau, ditado pela Belle Époque, e um magnífico interior art déco, como exigia a moda dos Anos 30 — eu, que amo os dois estilos, me senti no céu visitando o lugar.

Palácio Nacional de Belas Artes do México
Qualquer ângulo de contemplação que se escolha deixa o expectador de cara para uma beleza arrebatadora

Se ao contemplar os detalhes decorativos do Palácio Nacional de Belas Artes você tiver a sensação de estar de volta aos templos de Teotihuacán, não é maluquice, não. 

É que a genialidade de Federico Mariscal, que desenhou o interior do edifício, reproduziu os traços das pirâmides e templos pré-hispânicos em traços art déco. O resultado é lindo.

Pintura da Mexicana Maria Izquierdo "Altar de Dores"
Frida não está sozinha entre as mulheres-gênias das artes mexicanas. Fiquei apaixonada pela obra de Maria Izquierdo. A tela na foto é Altar de Dores, de 1943

obra do pintor mexicano Adolfo Best Maugard, "La Polvoreda"

Em La Polveada (1922), Adolfo Best Maugard coloca a a estética mexicana com um pé na art nouveau


O acervo do Palácio Nacional de Belas Artes

O México é muito generoso. Além de me presentear com a contemplação da obra de Diego Rivera, um dos grandes artistas do Século 20 — no mundo, viu? —, ainda me apresentou um elenco de responsa.

Artistas que, com suas pinceladas, seja nas telas, seja nas dimensões monumentais dos muralistas, falam apaixonadamente sobre as transformações e os anseios de sua época e de seu país.

Retrato de Martín Luis Guzmán, de Diego Rivera
Obra do mexicano Rufino Tamayo "Homenagem a Juárez"

No alto, o Retrato de Martín Luis Guzmán, de Diego Rivera. Acima, Homenagem a Juárez, de Rufino Tamayo


Artistas como Maria Izquierdo, Alfredo Ramos Martínez, Adolfo Best Maugard e José Chavez Morado falam de um México que tentava sacudir a poeira do atraso, da opressão e da exclusão e que é mostrado com em tons inflamados, sem perder a ternura.

Esse talento e essa gana da pintura mexicana já conquistam nas dimensões restritas das telas. Mas se derramam, ainda mais arrebatadores, nos murais.

Tela do pintor mexicano José Chavez Morado, Carnaval em Huejotzingo

José Chavez Morado, Carnaval em Huejotzingo 


Alegoria do Vento, obra do mexicano Roberto Montenegro
A famosa Alegoria do Vento, de Roberto Montenegro, faz parte do acervo permanente do Palácio Nacional de Belas Artes do México

Muralismo Mexicano


O Muralismo Mexicano é um exemplo de arte comprometida com seu tempo e lugar, a receita infalível para ser atemporal e universal.

O muralismo é a arte movida pela necessidade de falar para as grandes massas que começavam a ter acesso à cidadania a partir da Revolução Mexicana.

Nova Democracia (1944), mural de David Alfaros Siqueiros

Nova Democracia (1944), mural de David Alfaros Siqueiros


Um modo de contar uma história, expressar opiniões e despertar consciências, em um país que tinha mais de 90% de analfabetos.

No Palácio Nacional de Belas Artes, você verá exemplares do Muralismo Mexicano simplesmente de arrepiar.

O mural mais famoso no Palácio Nacional de Belas Artes é O homem, controlador do universo, pintado por Diego Rivera em 1943.

Mural de Diego Rivera "O homem, controlador do universo"
O Homem, Controlador do Universo é um desbunde de mural, Pintado por Diego Rivera. E os traços art déco do Palácio Nacional de Belas Artes fazem uma moldura à altura da obra

Lenin no mural de Diego Rivera "O Homem, Controlador do Universo"
Karl Marx no mural de Diego Rivera "O Homem, Controlador do Universo"

Diego Rivera tascou as imagens do Camarada Lenin (no alto) e do velho Karl (Marx) em seu mural. É claro que os magnatas Rockefeller não curtiram nem um pouquinho


Rivera concebeu O Homem, controlador do Universo a partir de uma encomenda do Rockfeller Center de Nova York.

Abusado, Diego tascou uma imagem de Lenin no meio do desenho, o que resultou na sua sumária demissão — imaginem os magnatas Rockfeller bancando uma obra que retrata o líder de uma revolução socialista... 😀

Mural de Diego Rivera, "Carnaval da vida mexicana", no Palácio Nacional de Belas Artes

Carnaval da vida mexicana, de Diego Rivera


Diego não perdeu a viagem e aproveitou grande parte dos esboços que fez em Nova York para concluir o mural que vemos hoje no Palácio Nacional de Belas Artes.

Depois de babar com essa ousadia de Rivera, pude conhecer outros trabalhos notáveis, como O Carnaval da vida mexicana (também de Diego), A Catarse (José Clemente Orozco), Nova DemocraciaVítimas do Fascismo e O Tormento de Cuauhtemoc (David Alfaros Siqueiros).

"Vítimas do Fascismo", mural de David Alfaros Siqueiros
Vítimas do Fascismo, de David Alfaros Siqueiros

"O Tormento de Cuauhtemóc", mural de David Alfaros Siqueiros

Novamente Siqueiros: O tormento de Cuauhtemoc, de 1950, retrata a tortura do governante de Tenochtitlán (hoje cidade do México) e do também líder mexica (asteca) Tetlepanquetzal pelos conquistadores espanhóis


➡️ Para ver um magnífico exemplo do muralismo mexicano, visite também o Museu Mural Diego Rivera (dedicado a apenas uma obra do artista, o magistral Sonho de uma tarde dominical na Alameda Central).

➡️ O Castelo de Chapultepec também tem belíssimos murais, como o fabuloso Do Porfiriato à Revolução, de David Alfaros Siqueiros, que ocupa todo o perímetro de um enorme salão.

➡️ O Palácio Nacional do México, sede do Governo Federal, também é famoso pelos murais pintados por Diego Rivera em suas dependências.

Palácio Nacional de Belas Artes do México
Palácio Nacional de Belas Artes do México
Palácio Nacional de Belas Artes do México

⭐Palácio Nacional de Belas Artes do México 
Avenida Juárez, esquina com Eje Central Lázaro Cádenas. Metrô Belas Artes (Linhas 2 e 8).

Museu Nacional de Belas Artes - de terça a domingo, das 10h às 18 horas. Ingresso: 60 pesos (R$ 10). 
Museu Nacional de Arquitetura - funciona nos mesmos horários, no terceiro andar do edifício. Ingresso: 30 pesos (R$ 5).

Pra não dizer que o Palácio Nacional de Belas Artes não tem nenhum defeitinho, achei o Museu Nacional de Arquitetura, no terceiro andar do edifício, bem basiquinho.

Vale pagar o ingresso pela possibilidade do contemplar o interior do palácio do alto ou se você for muito, mas muito fã do assunto.

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2 comentários:

  1. Então tá, você me convenceu. Vou entrar e curtir com calma as maravilhas que você descreveu. Na ultima vez eu nem sabia que iria parar nessa cidade e não tinha me informado. Valeu!

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    1. Vale muito a pena. Mas, se tiver tempo, não perca o Museu Nacional de Antropologia :)

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