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Posto 6: a praia da vizinhança, desde 1962 |
O Rio me encanta, me embasbaca e me hipnotiza, mesmo quando é apenas o cenário de uma tarefa prosaica, tipo ir à padaria ou correr para o metrô, atrasada para o trabalho.
Não me arrisco a fazer um manual sobre como "dominar os paranauês" da carioquice, mas vou compartilhar algumas estratégias que uso pra me sentir em casa no Rio de Janeiro — sem perder o encantamento, jamais.
Bora andar no Rio como os locais. Veja esses passeios bem cariocas:
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Jamais vou cansar deste desenho |
O roteiro despretensioso e as locações bem conhecidas no Rio de Janeiro contribuíram para construir um enredo muito caseiro para o meu fim de semana.
Fiquei hospedada na casa de uma amiga, em Copacabana, bairro onde morei pela primeira vez em 1962, na Rua Santa Clara.
Se estamos em Copa, o passeio começa pela praia, é claro. Copacabana foi testemunha do meu primeiro "caldo" no mar e forneceu o sol que produziu as minhas primeiras sardas.
Tive um adorável reencontro com aquele jeito low profile da praia, com o prazer de bater a sandália rasteirinha nas pedras portuguesas das calçadas meio sem destino, só desfrutando da alegria de ficar à beira mar. Exatamente como fazem os cariocas, a cada minuto de folga.
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Despretensioso e dos deuses: o arroz de mariscos do Caranguejo |
Almoço no Caranguejo
Por falar em despretensioso, experimente o arroz de mariscos do Caranguejo, um restaurante meio boteco tradicionalíssimo em Copacabana.
Passei lá pensando apenas em chope e pastel (a combinação soa paulistana, mas o recheio de caranguejo é carioquíssimo).
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O potencial almoço desembarcando na calçada |
De quebra, a mesa ao ar livre do Caranguejo ainda permite que a gente ainda dê de cara com os peixes chegando fresquinhos, de Angra dos Reis, e desembarcando na calçada, sem a menor cerimônia (eles também são cariocas, né?)
A praia é a alma do bairro de Copacabana, mas a vida prática a gente resolve na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, paralela à Avenida Atlântica onde estão bancos, lojas, supermercados, armarinhos, manicures, amoladores de tesoura e tudo mais que se precisa nos bastidores do do hedonismo à beira-mar.
Estar no Rio como uma local também é aproveitar a passadinha pelo eterno burburinho da Avenida Nossa Senhora de Copacabana para conferir a programação do Cine Roxi, no letreiro luminoso.
Acho cinema de rua um luxo, nesses tempos repletos de salinhas de shopping, com telinhas acanhadas e incompatíveis com o delicioso ritual de comprar o ingresso, esperar no foyer, subir escadas, atravessar corredores, já entrando no clima do filme.
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Cinema de rua é um luxo... |
Outro luxo bem local na Avenida Nossa Senhora de Copacabana é comprar pão para o café da manhã do dia seguinte na Boulangerie Guerin. No caso, uma bela duma baguette e um pain au chocolat que quase fazem a gente se sentir local em...Paris.
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Pequena e cheia de tentações |
A tartelette de amoras, por exemplo, estava de uivar para a lua. Minha amiga Monica também delirou com o mil folhas com creme. Já minha amiga Claudia jura que o melhor da casa é a bomba de chocolate...
Mas se a ideia é brincar de ser local, é claro que não pode faltar o binômio praia e boteco. Para isso, está lá o Posto 6, o trecho mais querido de Copacabana.
Meu xodó com esse pedaço de Copa é antigo, afinal, o Posto 6 já me viu desfilar de maiô duas peças de babadinhos, quadriculado em vichy azul claro, aos cinco anos de idade — toda uma Bardot.
De lá para cá, muita coisa mudou naquele pedaço, inclusive a largura da faixa de areia, ampliada por uma dragagem, no final dos Anos 60 — eu era pequenininha, mas lembro das máquinas trabalhando.
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A iguaria mais desencanada do planeta |
O que você não quiser carregar, a praia fornece: aluguel de guarda sol e cadeirinha, cerveja gelada nas barracas, biquíni (!), óculos de sol e protetor solar oferecidos pelos ambulantes, chuveiro pra quem não quer encarar o mar gelado...
Gastronomia das areias
E, claro, tem que provar as comidinhas de praia. Tem pastel de carne, sanduíche natural, queijo assado e essa verdadeira instituição carioca que são os Biscoitos Globo (pronuncia-se bishcoitossh), de polvilho, doces ou salgados, simples, diretos e inesquecíveis.
No Rio, sou capaz de ir à praia e não entrar no mar. Mas jamais volto para casa sem prestar minhas homenagens aos Biscoitos Globo, a iguaria mais desencanada do planeta.
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O Bunda de Fora, em Copa: longa vida aos botequins cariocas! |
No capítulo boteco, quanto mais obscuro e anônimo, melhor. Boteco carioca que vira moda pode até ficar mais alinhado e asseado, mas perde toda a graça.
O bom botequim é aquele que reúne os vizinhos (ai, que saudade do meu, na Praça São Salvador, em Laranjeiras, a dois passos de casa...), onde o garçom sabe seu nome e, se vacilar, te traz a conta anotada num pedacinho de papel de embrulho cor de rosa.
Por recomendação da minha amiga Monica, experimentei o Bunda de Fora, na Rua Souza Lima, e super aprovei.
No letreiro, sei lá por que, o Bunda de Fora usa o codinome de Café e Bar Aboim, mas no cardápio e até no guardanapo, assume o nome civil na maior desenvoltura.
O Bunda de Fora serve um pastel de carne de responsa e um lombinho de porco assado de primeiríssima. É só chegar, sentar num tamborete instalado na calçada e começar a farra.
O Panamá serve cerveja geladíssima, caipirinha muito bem feita e um pernil assado de uivar para a lua. Como quem vê cara não vê coração, o banheiro do Panamá é limpíssimo, tipo casa da gente. E os preços são pra lá de honestos.
Pernil de porco: no Rio é muito melhor
Por falar em pernil e lombinho de porco, os mineiros que me perdoem, mas ninguém assa esse bicho melhor que os cariocas.
Sem os requintes da cozinha mineira, com apresentação e preparo típicos de casa de avó, o porco que se come nos botecos do Rio mereceria um tratado gastronômico.
Saboroso e suculento, o pernil carioca é a prova do quão sublime consegue ser a despretensão — especialmente quando aparece cercada de pão francês e acompanhada por uma rodela de abacaxi.
Sim, acabo de descrever o sanduba de pernil mais famoso do Rio, servido no Cervantes, que já coroou muitas das minhas madrugadas boêmias. Mas pode acreditar que há similares na maioria dos bares da cidade.
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Cinzeiro portátil: não saia de casa sem ele
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Para andar pelo Rio com cara de local, é de bom tom munir-se do acessório da moda (entre os fumantes, naturalmente), que é o cinzeiro de bolso. Ele foi guindado ao posto de equipamento de primeira necessidade, com a entrada em vigor das pesadas multas para quem joga lixo na rua.
Palito de fósforo, papel de bala e bituca de cigarro jogados no chão, Rio de Janeiro, estão custando R$ 157. Se o detrito for uma latinha de cerveja, o infrator morre em R$ 392.
O resultado é que calçadas cariocas estão irreconhecíveis, de tão limpinhas. Até senti falta do cocô de cachorro, que, de tão local, devia estrelar cartões postais do Rio, que nem o Pão de Açúcar e o Corcovado.
Se você, como eu, tem o péssimo hábito de fumar, compre seu cinzeiro portátil nas lojinhas de quinquilharias da Rua Miguel Lemos e seja feliz: custam R$ 10 e dá para usar como chaveiro 😀.
Endereços e horários
⭐ O Caranguejo
Rua Barata Ribeiro n º 771, Copacabana, na esquina com a Rua Xavier da Silveira (Metrô Cantagalo)
O Caranguejo é famoso pelos pastéis de caranguejo, embora o cardápio de inspiração portuguesa tenha muitos atrativos. Simples, com ares de boteco, anda meio assanhadinho nos preços, mas ainda é uma ótima pedida.
⭐ Cinema Roxy
Avenida Nossa Senhora de Copacabana nº 945, entre as ruas Bolívar e Xavier da Silveira (Metrô Cantagalo)
Depois de uma reforma, o Cine Roxy d Copacabana passou a ser operado pela rede Kinoplex, mas conserva a cara de cinema de antigamente.
⭐ Boulangerie Guerin
Avenida Nossa Senhora de Copacabana nº 920 (Metrô Cantagalo)
Uma das atrações da Guerin é a parede de vidro que permite ao cliente contemplar a fabricação das guloseimas que logo chegarão ao balcão. A massa das tartelettes, levíssima, é pura covardia, pois deixa espaço no estômago para a gente comer meia dúzia.
⭐ Cervantes
Rua Prado Júnior nº 335 (Metrô Arcoverde)
Fundado na Década de 50, o Cervantes é uma instituição de Copacabana. Seu salão é bem arrumadinho, mas nada se compara ao prazer de traçar um sanduba de pernil com abacaxi, no meio da madrugada, debruçada no balcão que dá para a Rua Barata Ribeiro como fazem os locais. Minha amiga Maria faz altas recomendações à batata frita da casa.
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Revivi nossos passos de rasteirinhas nas pedrinhas portuguesas de Copa, amei!!!!
ResponderExcluirTemos que repetir a farra, Moniquinha. Tem coisa melhor que o Rio? Beijo
ExcluirQue bom ver a minha cidade através dos seus olhos.
ResponderExcluirÓtimo post!
Beijos
Sua cidade é um espetáculo, Jorge. Adoooooro, morro de saudade. Beijos
ExcluirNem sei o que dizer. Post lindo, maneiroooo, super carioca...Me fez voltar ao Rio e querer muito passear por suas ruas. Ainda bem que o Rio me espera em janeiro e vou "voltar para casa" com tu. Ai, saudade!
ResponderExcluirJaneiro no Rio, Rosa??? Ai, que saudade!!! Trocamos, né? Eu vou para a Espanha, passar frio. Bjs
ExcluirGostei desse post! Diferente de tudo o que é costume porque são dicas pessoais.
ResponderExcluirObrigada, Elsa. Sempre é bom descobrir pedacinhos das cidades que não estão nos guias. O melhor para isso é bater pernas e manter os olhos atentos. Abs
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