5 de junho de 2013

Balu, o meu guru (ou coisas que aprendi viajando e mudaram minha vida)


De carro, eu nunca veria a Paulista assim
(São Paulo, setembro de 2012)
Hoje faz quatro anos que vendi meu último automóvel. Já escrevi um post inteirinho, aqui na Fragata, sobre a alegria de interagir com as minhas cidades, desde que tomei a sábia decisão de virar pedestre e usuária de transporte público.

São quatro anos de economia: economizo estresse — estou livre da aporrinhação de dirigir em engarrafamentos e tumultos — e economizo grana: não ter carro paga uma viagem grande por ano, pelo menos.

Viajar me ensinou a viver sem carro

Ser pedestre foi uma coisa que aprendi viajando. O prazer de ver as cidades cara a cara era coisa que eu só tinha nas férias, longe do lugar onde morasse.

Em viagem, a gente acha natural andar a pé e de transporte público, né?

Aos poucos, percebi que eu acabava mais íntima das cercanias de um hotel onde me hospedasse por alguns dias — aquela lojinha fofa, a padaria simpática ou o buraco na calçada — do que da minha própria vizinhança, que eu só via da janelinha do carro.

Andar a pé e de transporte público me permite ver as pessoas, a expressão que trazem nos olhos, ouvir seus sotaques, bisbilhotar suas leituras no metrô.

Não é estranho que eu passasse a querer isso na vida toda e não apenas durante as férias.

Meu caminho para o trabalho
(Brasília, 410 Norte)
Viajar me ensinou a viver leve

De tanto carregar mochila e arrastar mala por aí, era inevitável constatar como a vida melhora quando a gente simplifica.

Virei suma sacerdotisa do culto a Balu, o urso que usa “o necessário, somente o necessário” e se diverte muito mais do que a maioria das pessoas que eu conheço.

Viver leve é um perigo. Como diz aquela vizinha coroca, começa com uma droguinha inofensiva, tipo malinha de mão. Quando a gente vê, o vício já tomou conta dos armários, detonou os baús e passou um super filtro nas relações sociais  — essa regra só não vale para os livros, tá?

Balu: "Eu uso o necessário"
Viajar me ensinou a dialogar com o tempo

Outra dádiva das viagens é aprender a dialogar com o tempo. É tão bom rabiscar roteiros, pesquisar lugares e contextos que desejar e planejar viram partes essenciais da festa.

E aí, nada mais precisa ser pra ontem, porque descobri que a vida também acontece nas muitas horas transcorridas entre dois dias memoráveis.

Viajar me ensinou a deixar coisas para amanhã

Já que nada é pra ontem, viajar também me ensinou a deixar coisas para amanhã. Descobri como é bom descumprir as tarefas da gincana e fazer o que contenta meu coração, mesmo que eu não suba a Torre Eiffel, passe longe de um museu "obrigatório" e belisque bobagem em vez de ir a um restaurante "para o currículo".

Se nenhuma dessas coisas vai sair correndo, muito menos eu vou me despencar atrás delas. Que fiquem como uma razão para eu voltar.

Antigamente, acreditava-se que “pessoas viajadas” eram mais “cultas”. Tenho a maior birra desta palavra, que associo àquele conhecimento ornamental e enciclopédico destinado a preencher conversa pedante. As coisas que aprendi viajando não me qualificaram para entreter ninguém, mas algumas delas mudaram minha vida — e têm me feito um bem danado.

Atualização (em 30/09/2013): se você curtiu essa postagem, acompanhe o registro fotográfico das minhas andanças cotidianas no Facebook e no Instagram, pela hashtag #vidadepedestre

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8 comentários:

  1. Ótimo texto, parabéns! Também sou adepto dos sem carro e adoro!!!

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    1. Obrigada, Rafael.
      Fico surpresa com a quantidade de gente que está fazendo a mesma opção que a gente. Quem sabe nossas cidades ainda podem ter salvação. #torcendo :)

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  2. Cyntia, você tem um dos melhores textos da internet brasileira, falando de viagem, então, é insuperável! Parabéns!

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  3. Pô, Vitor, não exagera que eu fico sem graça xD

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  4. Olá Cyntia
    Acabo de conhecer teu blog por conta do nosso grupo no Facebook. Voltarei para ver suas outras viagens. Me identifiquei totalmente com o penúltimo parágafo deste post, penso da mesma forma. Chego a ficar cansado quando escuto relatos de algumas pessoas que num único dia estiveram em 50 lugares, como se fosse uma gincana "quem conhece mais".
    Grande abraço e prazer ter conhecer.

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    1. Pior que fazer gincana em viagem Jorge, é fazer gincana na vida. Fruir é tão melhor que acumular, né?
      Obrigada por navegar na Fragata Surprise :)

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  5. Cyntia, tb tenho descoberto essas coisas. Fui agora pro Peru com Ciro. Vish, foi tão bom ....

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    1. O Peru é um barato, né, Mary? Já fui três vezes e quero voltar muitas outras. Tem tanto pra ver...

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