16 de novembro de 2007

Não conhecer Nápoles é desperdiçar a vida

Vista para o vulcão Vesúvio e a Baía de Nápoles
Debaixo de chuva no Cabo Posillipo, apaixonada pela visão do Vesúvio. Nápoles é paixão à primeira vista

Música deste post: I' te vurria vasà, Roberto Murolo

Nenhuma bobagem que você faça e nenhuma oportunidade que você perca se comparam, em termos de desperdício de vida, a não ter conhecido Nápoles.

Eu levei mais de 40 anos para chegar a Nápoles e fiquei absolutamente arrebatada pela beleza da cidade desde a primeira hora. Que lugar, gente!!

Nápoles vista de um mirante no morro do Vomero
Nápoles vista do Vomero: não existe dia feio numa cidade dessas
Fazia um frio de doer nos ossos, não tinha agasalho que desse conta. Chovia sem parar. E eu estava com sorte: mais ao sul, na Calábria, estva nevando — em novembro!!! —, segundo todas as estupefatas manchetes de jornal.

Mas não teve a menor importância. Lá no alto do Cabo Posillipo, um dos morros que envolvem Nápoles, eu tiritava de frio em um final de tarde carrancudo me achando a pessoa mais feliz do mundo diante da paisagem.

Diante de mim estavam a Baía de Nápoles, o Vesúvio, o relevo dramático em torno da cidade. Teria sido a pneumonia mais bem paga da história, mas nem um resfriado eu tive, apesar de ter dado mole 😉.

Centro Histórico de Nápoles: a Piazza del Plebiscito e a Igreja de San Francesco di Paola
Centro Histórico de Nápoles: a Piazza del Plebiscito e a Igreja de San Francesco di Paola
Poucas hora depois de desembarcar em Nápoles (e olha que eu estava vindo de Roma, outra beleza avassaladora) eu já queria aprender a língua napolitana e ficar na cidade pra sempre.

É que nada prepara a gente para uma cidade dessas. A fama de Nápoles, entre os viajantes, nunca foi das melhores. Reclamam da sujeira, do trânsito caótico, da insegurança.

Com esse olhar pasteurizante, deixam de ver o que importa: o recorte do litoral, dominado pela impressionante silhueta do Vesúvio, o Castel Sant’Elmo pairando sobre a cidade e a escarpa do Vomero, que termina por esparramar-se pelos Quartieri Spagnoli.

Castelo de Sant'Elmo, Nápoles, Itália
O Castel Sant’Elmo (ao fundo) pairando sobre Nápoles

Nada é plácido em Nápoles. O trânsito, os gestos, o vento, tudo parece carregado de uma palpitação apaixonada.

Não é a pressa das metrópoles, talvez seja a urgência de uma cidade que conheceu muitos cercos e conquistas ao longo de sua história. O que eu sei é que nunca uma cidade me acertou tão em cheio quanto Nápoles.

Alguns dos muitos conquistadores de Nápoles — gregos, romanos, normandos franceses, espanhóis — estão representados nas estátuas que adornam a fachada do Palazzo Reale que dá para a Piazza Plebiscito.

Palácio Real de Nápoles e os Giardini del Molosiglio
Olhando para esses conquistadores, fiquei imaginando se terá sido a expectativa do sítio, marcada na alma da cidade, que ditou a cadência quase brusca e tão apaixonante de Nápoles.

A sucessão de invasores — e quem, em sã consciência, não cobiçaria Nápoles, depois de vê-la uma única vez? —, exploradores, marinheiros, aventureiros e mercadores ajudaram a moldar a língua napolitana.

Os idiomas chegados de terras distantes temperaram aquela sonoridade encantadora do falar de Nápoles, com suas vogais meio espremidas e um certo chiado lisboeta.

Borgo Santa Lucia, Nápoles, Itália
O Borgo Santa Lucia é uma área tranquila no Centro Histórico de Nápoles
Fiquei hospedada no Borgo Santa Lucia, uma área bem simpática do Centro Histórico de Nápoles, na mesma rua da venerada Igreja de Santa Lucia a Mare, local de culto religioso desde o Século 8.

A igreja de santa Lucia é de uma simplicidade desconcertante e é local de peregrinação frequente — depois de San Gennaro, padroeiro de Nápoles, Santa Lucia é a maior devoção da cidade.

Debruçada na sacada centenária do meu quarto na pousada, dava pra ver as pedras da muralha do Castel D’Uovo, o mais antigo de Nápoles. A fortificação sobre uma ilhota quase encostada na praia tem origem na colônia grega que começou a florescer no Século 7 a.C.

Castel d'Uovo, em Partenope, Nápoles, itália
Castel d'Uovo, em Partenope, onde Ulisses teria fundado a cidade
Segundo a lenda, teria sido Ulisses em pessoa, voltando de Troia, quem teria fundado Nápoles, na área conhecida como Partenope, ao lado do castelo.

Foram os Normandos, porém, que esboçaram as formas atuais da fortaleza, a partir do Século 10 d. C.

Nápoles: Palácio Real e Quartieri Spagnolli
Contrastes de Nápoles: a estátua de um guerreiro na fachada do Palácio Real e uma loja de cacarecos no sopé dos Quartieri Spagnoli

Consegui voltar do Cabo Posillipo antes que a hipotermia me fulminasse. Tratei de me refugiar na Cantina degli Antichi Sapori, que funciona conjugada a uma salumeria (mercearia especializada em frios), na mesma Via Santa Lucia onde estou hospedada.

Uma surpreendente zuppa de ceci (sopa de grão-de-bico) me aquece.

Não que eu precise mesmo jantar: já repus as calorias levadas pelo frio com DOIS enormes exemplares de babá (pão de ló afogado em rum, recheado com chantili e morangos), doce que eu adoro e é muito típico de Nápoles.

Nápoles, Itália: Castel Nuovo
O Castel Nuovo, do Século 13 (esq), foi construído pelos Normandos para abrigar a corte dos reis de Nápoles. À direita, uma rua do Centro Histórico de Nápoles

Endereços em Nápoles

⭐Cantina degli Antichi Sapori 
Via Santa Lucia

A sopa de grão-de-bico da Cantina degli Antichi Sapori estava simplesmente perfeita, mas eu delirei mesmo foi com o antepasto de bianchini, uns peixinhos minúsculos, feitos num molho fantástico agridoce.

O prato principal do meu jantar foi peixe-espada que, francamente, não me conquistou. Achei o sabor do peixe excessivamente forte. Mas eu também não gosto de salmão (exceto no sashimi, que é ótimo)...

Centro Histórico de Nápoles
Centro Histórico de Nápoles
⭐Bed&Breakfast Borgo Santa Lucia 
Via Santa Lucia 90. Diária com café da manhã, 90 Euros. 

O Bed&Breakfast Borgo Santa Lucia é muito bem localizado, longe da região da Estação Ferroviária, onde a barra é pesada.

O Borgo Santa Lucia é um bairro agradável, tradicional, muito próximo da região onde, diz a lenda, Ulisses teria fundado a cidade, retornando de Tróia.

Tem um ônibus para Polsillipo que passa na porta da pousada, que está a confortáveis distâncias a pé de várias atrações da cidade.

O Bed&Breakfast fica no terceiro andar de um casarão muito antigo, tem quartos enormes, com adoráveis balcões.

Está a dois passos do Castel D'Uovo e bem pertinho da Piazza Plebiscito, da Basilica San Francesco de Paola e do Palácio Real.

O vulcão Vesúvio visto de Nápoles
O Vesúvio visto do Porticciolo Molosiglio, uma marina na área de santa Lucia

Os donos do B&B são Luigi e sua namorada brasileira, Carminha, que é super solícita.

Um detalhe curioso é que o prédio tem um elevador pago: você precisa depositar dez centavos de euro para usar a geringonça barulhenta e desengonçada.

Meu roteiro completo: três semanas na Itália

Mapa-índice de destinos na Itália, com dicas de atrações, roteiros, hospedagem, restaurantes e transporte. Clique nos ícones para acessar os links



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4 comentários:

  1. Encantada com o teu post e escutando ao fundo esta linda e melancólica música!
    Quero conhecer este lugar...Nápoles!
    Encontrei muitos relatos em blogs que não se relacionaram com Nápoles como você!
    Mas continuei na busca, queria encontrar algo interessante, pois um lugar com tanta História não poderia ser somente um lugar de passagem para a Capri, Pompéia...
    Parabéns!

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    Respostas
    1. Ah, Malu, Nápoles é um arrebatamento! Que cidade linda, intrigante, sedutora!!! Passei três dias lá, morrendo de frio, muitas vezes tomando chuva e absolutamente apaixonada. Vá a Nápoles, sim, vá logo. Mas vá com cuidado, porque você pode querer ficar pra sempre por lá :)

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    2. Vou sim! Li todos os teus post sobre a Itália, gostei de tudo. Anotei muitas dicas. Trastevere,,,em Roma, adorei...anotei o endereço do Hotel.
      Boas viagens!
      Abraços @malugris

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    3. Aproveite bastante. A Itália é uma maravilha. Estou louca pra voltar :)

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