23 de junho de 2005

Dicas de Berlim: como aproveitar a cidade

Potsdamer Platz, Berlim, Alemanha
Todo o espaço em branco que ficava dentro do traçado do Muro de Berlim está sendo ocupado por construções modernas, mudando a cara do Centro da Cidade. Na imagem, Potsdamer Platz

Horários e preços atualizados em maio de 2019

Poucas cidades do planeta carregam o peso da História recente como Berlim. A antiga capital prussiana foi palco e epicentro dos acontecimentos que traçaram a cara do Século 20, com suas duas guerras mundiais e o longo embate oriente-ocidente, ou comunismo x capitalismo, como queiram.

Com esse carma, daria para entender se essa fosse uma cidade cinza e melancólica, mas nem a latitude nem as memórias impedem Berlim de ser tão solar e vibrante, uma das minhas cidades preferidas no mundo.

Para ser feliz em Berlim, basta estar lá. Mas se você seguir algumas dessas dicas, garanto que vai se divertir um bocado 😀.

Pegue um mapa de Berlim
Tem tanta coisa pra ver em Berlim que é importante carregar sempre o mapa oferecido pelo escritório de turismo local, com informações endereços e horários de funcionamento dos museus (que estão no post Gosta de museus? Vá pra Berlim) e demais atrações.

O escritório fica ao lado da Fernsehturm, a torre de TV da antiga Berlim Oriental. No topo da torre, acessível por elevador, tem um mirante bem bacana.

Câmbio em Berlim
Para fazer câmbio, use a agência do Deutsche Bank, em Unter den Linden: tem pouca fila, não cobra comissão e fica bem na rota turística, a poucos passos da Brandenburger Tor.

Ingresso para a Staatsoper de Berlim
Foi bem fácil comprar ingresso para ver a ópera O Elixir do Amor na Staatsoper

Assista a um concerto, a uma ópera, a um recital...
A oferta de espetáculos musicais de qualidade em Berlim é de deixar qualquer um tonto. Não perca essa oportunidade, mesmo que você não curta muito música erudita, aposto que vai adorar o ritual.

Recomendo vivamente as óperas, que, ao vivo, têm o poder de envolver e comover mesmo quem não conhece ou não gosta de canto lírico.

Cheque a programação de concertos em Berlim nos jornais e nos sites. Dá para comprar ingressos pela internet e é possível encontrar ingressos mais baratos, para o mesmo dia da apresentação, portanto, vale a pena checar as ofertas direto nas bilheterias.

A política de formação de plateias da Alemanha também assegura descontos generosos para estudantes.

Em Unter den Linden fica a Staatsoper, uma sala muito fofa, do Século 18, com dimensões aconchegantes e sem grandes espalhafatos decorativos. E os preços são camaridíssimos.

Assisti duas apresentações na Staatsoper. A primeira foi um recital do pianista Daniel Baremboim (argentino, diretor artístico da casa) tocando sonatas de Beethoven.

A segunda apresentação que vi na Staatsoper foi a ópera Le Elisir D’Amore, de Donizetti.

Achei um barato a platéia berlinense, capaz de comparecer a um concerto até calçando chinelo com meia, mas que guarda a formalidade para o que realmente importa: um silêncio sepulcral depois que sobem as cortinas.

A Staatsoper fica em Unter den Linden 7. Paguei € 42 por um bom lugar na platéia para a ópera L'Elisir D'Amore. Tinha ingressos mais baratos e mais caros. Mas a emoção não tem preço...

Gosta de música e viagens? Siga o link para mais dicas 😉.

Estátua de Karl Marx e Friedrich Engels em Berlim, Alemanha
Marx e Engels, com a cúpula do Berliner Dom (Catedral de Berlim) ao fundo

Suba até a cúpula do Berliner Dom para uma vista linda de Berlim
A catedral protestante de Berlim oferece uma vista linda da cidade, numa escala mais humana do que da Fernsehturm.

A subida à cúpula do Berliner Dom funciona mais ou menos assim: você sobe uma looooonga escada. Aí sobe mais escadas e, quando está pra morrer, encontra um corredor. Segue o corredor e vê uma placa com uma seta dizendo "Zum Steigen" ("para as escadas").

Aí, você sobe mais escadas e mais escadas, até encontrar outro corredor e outra placa "Zum Steigen". Umas cinco ou seis "Zum Steigen" depois, você está odiando a ideia e se perguntando por que não se contentou com a Torre de TV, que tem elevador.

Mas eu garanto que quando estiver caminhando em torno do telhado da catedral, você vai concordar que a vista lá de cima vale qualquer sacrifício.

➡️Catedral de Berlim (Berliner Dom)
Ao lado do Lustgarten (acesso pela Schloßplatz)
Horários: 
Verão (abril a setembro): de segunda a sábado, das 9h às 20h. Domingos e feriados, das 12h às 20h.
Inverno (outubro a março): de segunda a sábado, das 9h às 19h. Domingos e feriados, das 12h às 19h.

Ingressos: € 7Oferece visitas guiadas e aluguel de audioguias (€ 3).

Veja o tempo passar no Lustgarten
A Museuminsel (a "Ilha dos Museus") tem um jardim perfeito para uma pausa, especialmente no verão (fiquei surpresa com o calor que faz nessa época, em Berlim).

Adorei os bancos de jardim espalhados sob as árvores do Lustgarten, desenhados como uma chaise longue, irresistíveis para lagartixar à sombra.

Fiquei tão freguesa que ia todas as tardes aos Lustgarten, nas horas mais quentes, ler um livrinho, ouvir música e olhar a vida passar -- porque a vida, em Berlim, passa melhor e mais bonita.

Aproveite também as espreguiçadeiras sob a colunata da Altes Museum, que fica ao lado.

Protesto contra a guerra em um Squat de Berlim, em 2003
Prédio ocupado por estudantes em Mitte: por trás dessas fachadas, sempre tem uma surpresa

Descubra os segredos de Mitte e Prenzlauer Berg
Mitte significa "meio", "centro", o coração de Berlim antes da cidade ser dilacerada e partida ao meio pelos arranjos do pós-guerra.

Além dos cartões postais famosos (Alexanderplatz, Unter den Linden, a Catedral e a Ilha de Museus), Mitte tem uma intensa "vida alternativa" que pipoca em lojinhas de design, porões animadíssimos e repúblicas de estudantes instaladas em velhos edifícios abandonados durante o grande êxodo de alemães orientais, com a abertura das fronteiras da Hungria e da então Tchecoslováquia, ainda antes da queda do Muro.

Prenzlauer Berg, o vizinho ao Leste de Mitte, parece parece uma cidade do interior hiperdescolada.

Em Mitte e em Preslauer Berg, o melhor é caminhar à toa, deixando sua curiosidade lhe levar a pátios floridos e coalhados de esculturas no interior de vetustos edifícios convertidos em squats (ocupações), descobrindo minúsculos centros culturais que exibem filmes independentes e onde artistas criam, ao vivo, à vista do freguês (não que eles estejam muito preocupados com o sentido comercial da palavra "freguês).

Memorial às vítimas do Muro de Berlim, Alemanha
As cruzes representam os mortos na tentativa de atravessar para a Alemanha Ocidental

Percorra o traçado do Muro de Berlim
Um mapa que "explique" a antiga divisão da cidade Berlim é uma ferramenta essencial para entender como o Muro de Berlim, esse monstrengo da Guerra Fria, seccionava a capital alemão.

O muro separava famílias, transformava avenidas em becos sem saída e interrompia bruscamente as linhas de metrô e do Schnell-Bahn (o trem de superfície).

Estar em Berlim ainda é estar permanentemente à sombra do Muro, que não existe mais, mas ainda tem marcas muito visíveis na cidade.

Ao ser derrubado, o Muro de Berlim deixou uma cicatriz profunda no traçado urbano.

O muro era duplo, com uma zona morta entre os dois paredões, um terreno inóspito, conquistado graças à demolição de todas os prédios que ficam nesse miolo. 

Memorial às vítimas do Muro de Berlim
Memorial às Vítimas do Muro de Berlim

Com a queda do muro, há seis anos, o Centro de Berlim ainda tem vastos espaços vazios, que vêm sendo rapidamente ocupados por construções de inspiração futurista.

A história do Muro de Berlim — ou melhor, da resistência ao Muro — é contada num museu interessante, Haus am Checkpoint Charlie (“a casa no Checkpoint Charlie”), instalado em frente ao antigo posto de controle militar numa das poucas passagens (fronteiras) entre as duas Berlins, na esquina da Friedrichstraße com a Zimmerstraße.

Ao lado do Checkpoint Charlie está o Memorial do Muro, onde centenas de cruzes lembram os mortos na tentativa de atravessar do Leste para o Oeste, durante a Guerra Fria.

Torre da Igreja do Kaiser Guilherme, Berlim

A Gedächtnis-Kirche ladeada pelo moderno campanário e o novo templo

  Reflita sobre a guerra na Kaiser Wilhelm Gedächtnis-Kirche

A velha torre da igreja favorita do Kaiser (imperador) Guilherme, erguida em 1890, foi dilacerada pelas bombas que arrasaram Berlim, no final da II Guerra Mundial.

Na restauração do templo, Berlim optou por não apagar essas marcas. A torre, devastada pela guerra, continua a mostrar suas feridas, assim como outros restos da Kaiser Wilhelm Gedächtnis-Kirche: mosaicos mutilados e restos de vitrais, reduzidos a ferro retorcido.

A visão dessa igreja vale mais do que qualquer manifesto pacifista. Ela funciona como um "museu da insensatez".

Memorial da Igreja do Imperador Guilherme, Berlim
A igreja nova lembra muito o Santuário Dom Bosco, em Brasília

Ao lado das ruínas foi construída uma igreja moderna, inaugurada em 1963, todo em vitrais azuis — lembra a Igreja Dom Bosco, em Brasília — com seu Cristo dourado, que parece velho, cansado, em completo desalento...

Embora os alemães tenham decidido reconstruir muitos de seus monumentos arrasados pelos bombardeios, a Kaiser Wilhelm Gedächtnis-Kirche permanece como uma chaga em plena Kurfürstendamm, uma badalada rua de comércio de Berlim Ocidental, cheia de símbolos do consumo (como a KaDeWe). É uma visita imprescindível.

➡️Kaiser Wilhelm Gedächtnis-Kirche
(Memorial da Igreja do Imperador Guilherme)
Breitscheidplatz, na Kurfürstendamm (KuDamm), bairro de Charlottenburg. Estações de metrô (U-Bahn) Zoologischer Garten ou Kurfürstendamm

Horário de visitas
Igreja: diariamente, das 9h às 19h. As missas têm trilha sonora de Bach.
Memorial: de segunda a sábado, das 10h às 18h. Domingos, das 12h ás 5:30h
Entrada gratuita.

Memorial do Holocausto, Berlim
O impactante Memorial do Holocausto

Embrenhe-se no labirinto do Memorial do Holocausto — e porte-se com respeito

O Memorial do Holocausto é uma visita profundamente perturbadora em Berlim, mas indispensável.

O parque/monumento às vítimas do terror nazista foi inaugurado recentemente, num dos muitos espaços vazios que a demolição do Muro de Berlim deixou no centro da cidade.

Apesar de ficar ao ar livre, o Memorial do Holocausto é sufocante. São 19 mil metros quadrados ocupados por blocos de concreto, formando tortuosos corredores, nos quais, aos poucos, a gente vai submergindo.

O declive do terreno, em direção ao centro, faz com que, sem perceber, a gente seja engolfada pelos blocos, cada vez mais altos.

O objetivo do arquiteto Peter Eisenman, autor do projeto do Memorial do Holocausto, é que os visitantes experimentem a sensação de ser engolidos por algo perfeitamente ordenado, mas despido de qualquer humanidade.

Uma construção subterrânea, Ort der Information (“posto de informações”), abriga os nomes das vítimas do Holocausto.

O Holocaust Mahnmal fica na Cora-Berliner-Straße nº 1, no fundo da Brandemburger Tor (se você considera que a "frente" é Unter den Linden).

Uma coisa lamentável é a atitude de alguns visitantes do Memorial do Holocausto, que sobem nos blocos de concreto para posar para fotos "sensuais" ou "engraçadas". Por favor, não faça isso. Lembre-se que o espaço é destinado a lembrar uma tragédia — que só foi possível por conta da indiferença de tantos.

Reichstag, Parlamento Alemão, Berlim
O Reichstag, Parlamento Alemão, está na rota do Ônibus 100

Use e abuse dos passeios turísticos no Ônibus 100
Na verdade, essa é uma linha regular do transporte público de Berlim, mas faz um trajeto tão bacana, passando pelas principais atrações da cidade, que virou opção aos esquemas hop-on hop-off.

O ônibus 100 ficou tão famoso que sabe o que a prefeitura de Berlin fez? Não, ela não aumentou o preço da passagem. Ela criou um site para ajudar os turistas a aproveitarem melhor o serviço (as informações, infelizmente, só estão disponíveis em alemão).

É melhor embarcar no Ônibus 100 em Zoologisches Garten (um dos pontos finais), para poder escolher um lugar bem panorâmico a bordo (o danadinho tem dois andares, já imaginou?).

Berlin Welcome Card
Duas lembranças da minha primeira visita a Berlim, em 2003: o Berlim Welcome Card dá acesso a todo o transporte público e descontos nos ingressos para atrações da cidade. À direita, a foto escaneada do meu álbum mostra os tratores trabalhando no entorno da Porta de Brandemburgo

Com uma Tageskarte (passe de transporte válido para 24 horas), dá para descer nas paradas próximas às atrações e depois pegar o próximo ônibus, como nos clássicos hop-on hop-off.

E o melhor: como estamos na Alemanha, o ônibus chega no ponto no horário certinho. Até parece que o bichinho é amestrado. Na verdade, todos os ônibus da Alemanha são "amestrados". Em cada parada, há cartazes indicando quais as linhas que fazem ponto ali, a que horas passam e qual o itinerário que farão. Acredite, eles cumprem a agenda direitinho.

O melhor lugar para pegar o Ônibus 100 é a estação de trem e metrô de Zoologischer Garten (pertinho da KuDamm, no lado Oeste), onde ele inicia a jornada -- se for o primeiro a entrar, corra para pegar lugar na primeira fila do segundo andar.

O Ônibus 100 segue até Alexanderplatz, em Mitte, o ponto final, no coração da ex-Berlin Oriental.

No caminho, dá para visitar o Memorial do Muro de Berlin, o Bundestag (Parlamento) os Hackescher Höfe (conjunto de lojas, cafés e restaurantes), o Checkpoint Charlie (antigo posto de fronteira entre as duas Berlins) e mais um monte de coisas.

A passagem no transporte público de Berlim custa € 2,80 para as zonas A e B. A Tageskarte custa € 7. O passe para uma semana custa € 30.

Squat em Berlim, Alemanha
Um squat no bairro de Lichtenberg, no lado Oriental de Berlim

Enlouqueça nas compras da KaDeWe 
A Kaufhaus des Westens ("loja do ocidente", em alemão), conhecida pelas iniciais KaDeWe, é um templo do consumo, uma espécie de "farol" em desafio à austeridade dos comunistas do outro lado do muro (quando havia muro).

Vende de automóveis a temperos exóticos, passando por todas as grifes do alfabeto. Fui lá só para comprar um relógio (eu simplesmente não aguentava mais sair do hotel às sete da manhã, apenas por não saber que era tão cedo) e parar de adivinhar as horas. O diabo é que eu sou uma shopholic em recuperação que precisa de vigilância permanente.

Mal escolhi e paguei um reloginho simpático (um Swatch, a 60 Euros), lá estava eu, diante de um balcão de ostras vivas, experimentando as diversas variedades (irlandesas, do Báltico, da Bretanha...). Tudo com muito champanhe, cujas borbulhas desinibiram meu consumismo.

Dei até sorte: naquele assanhamento, era capaz de tentar comprar um Porsche, mas contentei-me em fazer a feira no setor de chocolates (Godiva em promoção: € 0,75 as barrinhas de 50 gramas. Mais de um mês depois, o estoque ainda existia).

➡️ KaDeWe 
Tauentzienstrasse nº 21. A estação de metrô Wittenbergplatz fica quase em frente.

Horários: segundas, terças e quintas, das 10h às 20h. Sextas, das 10h às 21h, sábados das 9h30 às 21h. Fecha às quartas e aos domingos.

Mais sobre Berlim 
Dicas práticas e uma geral sobre Berlim
Os museus mais bacanas de Berlim


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4 comentários:

  1. Olà Cyntia!
    Obrigada por compartilhar essas dicas sobre Berlim. Estou indo para là na pròxima sexta-feira e vou passar 4 dias, um fim de semana prolongado. Adoro seu blog e para mim essas dicas sao preciosas!
    Um abraço,
    Patricia

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  2. Cyntia, torço e rezo para pegar dias com este céu que vc pegou! Lindas fotos e ótimas dicas como sempre! Beijinhos

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    1. Também estou na torcida, Nivia: que vc encontre um céu bem azul em Berlim. Beijo e aproveite muito essa cidade querida!

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