20 de outubro de 2013

O dia em que eu fiz rapel

Descida de tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
Os pezinhos pendurados sobre a bucólica paisagem são meus.
O auto retrato radical foi registrado enquanto eu desembestava morro abaixo, 
numa tirolesa

Como jornalista, estou acostumadíssima a esportes radicais: virada de noite em pescoção de fechamento, começar a escrever uma matéria cascuda a duas horas do deadline, passar o mês pendurada no cheque especial...

Tem gente que torce o nariz, mas a descarga de adrenalina e o aumento da frequência cardíaca são iguaizinhos aos do Sky Surfing.

Mas nada disso me preparou para o dia que eu fiz rapel.

Cachoeira no Ninho do Corvo, Paraná
O frio na barriga com o rapel foi compensado por essa linda cachoeira

Foi ali que o modo, digamos, "teórico" de viver perigosamente perdeu a graça. Tudo porque inventei de atravessar um cânion, pendurada numa corda, a 70 metros do chão.

Depois dos 50 anos de idade, sem rede de proteção nem seguro de vida. Pois é, eu fiz rapel. Pior: eu adorei!

Veja como foi:


Descida de tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná


Rapel no Ninho do Corvo, Paraná


Eu fiz rapel no Ninho do Corvo, uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) em Prudentópolis (PR). A propriedade tem 25 hectares e oito cachoeiras. Já foi dedicada à lavoura, mas agora é um centro de esportes de natureza.

Com a mata nativa recuperada, a fauna também está de volta. As únicas atividades permitidas na RPPN são o turismo — com ênfase nas traquinagens do tipo rapel e tirolesa — e a pesquisa, como explica Márcio Miranda, dono e administrador do Ninho do Corvo.

Descida de tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
A paisagem vista do alto da "plataforma de lançamento" da tirolesa: se eu tivesse juízo, tinha parado aí

1ª etapa: a tirolesa
O roteiro de emoções no Ninho do Corvo começa com uma tirolesa sonsa que só ela: a gente olha os cabos de aço descendo a encosta e acha a coisa mais inocente do mundo.

Foi o estímulo que eu precisava para vestir os paramentos: capacete (com a câmera GoPro devidamente acoplada, para registrar o mico para a posteridade) e "cadeirinha" (uma espécie de cinturão que é passado também em torno da parte superior da coxa e preso aos cabos de aço por um mosquetão), equipamentos obrigatórios para a prática do esporte.

Descida de tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
A plataforma da tirolesa (à direita): quando eu subi, era como se fosse um patíbulo 😂

Só quando eu olhei lá do alto da "plataforma de lançamento" da tirolesa 😱 é que fui assaltada por algum juízo e cheguei a dizer a Márcio que ia desistir.

Mas meu medo de morrer é ínfimo diante do meu pavor de pagar mico. Achei muito pior descer da plataforma com o rabo entre as pernas do que me atirar no abismo.

Resultado: lá fui eu deslizando, pirambeira abaixo, com a sensação é de estar me deslocando a uns 200 quilômetros por hora, cada vez mais distante do chão.

E o que eu não faço por essa Fragata? Não só sobrevivi (sem gritar nem nada...), como ainda consegui acionar a câmera fotográfica para ter imagens jornalísticas para o blog. Só não deu pra enquadrar muito bem as fotos, mas acho que vocês entendem a situação 😀.

Descida de tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
Enquanto eram meus companheiros de viagem se despenhando morro abaixo, eu consegui enquadrar as fotos direitinho

Enquanto me despenhava morro abaixo na tirolesa, meu único neurônio que não estava ocupado nas tarefas de 1- operar a câmera e 2 - não gritar estava nervosíssimo com a indagação: "Como é que eu vou fazer para frear esses troço?".

Já estava imaginando a aterrissagem tipo dragster sem paraquedas (e o mico, oh, senhor, o mico!!!) quando ouvi um estalo que quase me matou do coração.

Descida de tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
Pra vocês sentirem o drama: vejam a sede do Ninho do Corvo lá no cantinho superior direito da imagem e reparem onde estão os meus pezinhos...

Mas não era o cabo de aço partindo, era o freio da tirolesa começando a funcionar. Sim: um dispositivo preso ao cabo de aço "segura" a tirolesa, reduzindo a aceleração.

Depois de uma eternidade, outro ruído semelhante, no cabo da esquerda, me ajudou a pisar no chão como se estivesse saltando de um bonde de antigamente. Etapa 1 cumprida.

Prática de rapel no Ninho do Corvo, Paraná
Pra quem estava achando pouco abismo nesta história, chegou a hora do rapel

Etapa 2: o rapel
Por incrível que pareça, eu estava com muito menos medo do rapel do que da tirolesa. Eu já sabia que ia ficar pendurada a 70 metros de altura, mas só de saber que ia manter os pés na parede, ao longo da descida, me dava um certo conforto telúrico, se é que me entendem...

Fui uma das últimas a descer e, enquanto assistia os companheiros de aventura desaparecerem, um a um, paredão abaixo, tive algumas crises de desânimo.

O argumento que usei para me convencer definitivamente foi meio besta, ("pode ser que algum dia eu precise fazer rapel, portanto, eu vou agora, como treinamento") mas funcionou.

Prática de rapel no Ninho do Corvo, Paraná
Depois que eu controlei a adrenalina, deu até para fazer umas fotos, enquanto atravessava o cânion, no rapel

Logo no começo da descida do rapel, meu pé direito escorregou da plataforma de ferro que reveste a parede do morro e lá se foi a minha canela ganhar mais uma mancha roxa, daquelas que, em mim, levam meses para desaparecer.

A pancada doeu horrores, mas resolvi seguir em frente, só para descobrir, alguns metros abaixo, que estava me afastando do paredão, pendurada sobre um cânion, com o chão mais próximo a uns 70 metros de distância.

A paisagem, porém, era de uma beleza arrebatadora: do outro lado do cânion, um platô cortado na rocha, banhado por uma cachoeira que começou a roncar cada vez mais alto, no meio da mata fechada. Lindo.

E eu lá "pairando", balançando as perninhas sobre o abismo, até pousar suavemente no platô. Etapa 2 cumprida.

Tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
A terceira etapa, a descida de tirolesa até o leito do rio, eu deixei para a próxima vez

Etapa três: caminhada pirambeira acima
O problema é que, baixada a adrenalina produzida pela aventura e pela paisagem, a canela começou a doer de verdade e eu percebi que estava com um sangramento forte no local da pancada — tão concentrada eu estava no manejo da corda, que tinha esquecido dela.

Só por isso desisti da etapa 3, que era mais uma tirolesa. Era nela que eu deveria ter descido do platô até o leito do rio que corta o cânion.

É a chamada "corvolesa", uma tirolesa em cuja aterrissagem ninguém escapa sem se molhar.

Se eu soubesse o quanto era cascuda a trilha para voltar à casa sede da reserva, juro que tinha encarado o banho, só para cortar caminho. Fica para a próxima vez.

Esportes de natureza no Ninho do Corvo, Paraná
O estrago na minha canela e (abaixo) uma cachoeira na trilha morro acima

Esportes de natureza no Ninho do Corvo, Paraná


Moral da história: adorei fazer rapel
A aventura no Ninho do Corvo me deixou empenhadíssima em descobrir bons points para a prática de rapel aqui perto de Brasília. Não se espantem se eu virar praticante devota dessa aventura. Descobri que o manejo da corda é tremendamente fácil.

Fiz todo o percurso de rapel na maior tranquilidade, com tempo para apreciar a paisagem (embora eu tenha demorado a "acordar" para acionar a câmera).

Adorei fazer rapel e recomendo, desde que, é claro, a prática do esporte seja feita com segurança e com os equipamentos corretos.

Corvolesa, tirolesa no Ninho do Corvo, Paraná
Não desci a corvolesa, mas não escapei de atravessar o rio, na trilha de volta

Ninho do Corvo - dicas práticas
O Ninho do Corvo fica a 25 quilômetros da cidade de Prudentópolis (a 200 km de Curitiba). A reserva funciona de terça a domingo, recebendo visitantes e pesquisadores para atividades radicais, trilhas e outras atividades.

Um programa que parece interessante são os passeios noturnos. Segundo Márcio Miranda, é à noite que se pode observar mais animais na área da reserva.

Sede da reserva ambiental e centro esportes de natureza Ninho do Corvo, Paraná
A sede do Ninho do Corvo

Para qualquer atividade no Ninho do Corvo, é preciso fazer reserva por meio do site, por telefone ou whatsapp (42-99113-5433).

O Ninho do Corvo tem uma pequena estrutura para hospedagem, atualmente com dois apartamentos (R$280 a diária para um casal, com direito às atividades esportivas), e uma área de camping.

A política deles é não receber dois grupos diferentes ao mesmo tempo.

Almoço típico tropeiro no centro esportes de natureza Ninho do Corvo, Paraná
Almocinho de inspiração tropeira, antes da aventura

Se a ideia for só passar o dia no Ninho do Corvo, Prudentópolis tem estrutura de hospedagem, como o Hotel Fazenda Ózera, onde me hospedei.

O Ninho do Corvo também serve refeições, preparadas lá mesmo. No dia da nossa visita, o almoço com pratos da tradição tropeira estava muito saboroso.

* Esta aventura da Fragata foi parte da presstrip que fiz a convite da Cooperativa de Turismo do Paraná- Cooptur. O conteúdo do post, porém, reflete a minha opinião, formada a partir da experiência com o roteiro e os serviços testados ao longo da viagem.



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8 comentários:

  1. Oi Cyntia!
    Adorei as fotos do lugar..meus parabéns pela coragem!!! Isso aí menina, faço não..por nada deste mundo!!! Ahahahaha!!!!! Bjs.
    Ana Silvia

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    1. Mas é tão legal, Ana!!! O medo passa rapidinho. Eu vou fazer de novo, muitas vezes. Beijo

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  2. Amei as fotos e tua coragem! Com certeza, são lembranças que ficarão! bjuu

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    1. Sem dúvida, Marina. Essa é daquelas aventuras que a gente lembra até ficar bem velhinha :)

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  3. Tenho um certo receio,mas e' daquele tipo que quando chego encaro...o problema e' ir...Kkkk um dia vou !

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    1. Acho que vc vai gostar. Mas procure uma equipe séria, que faça tudo com segurança, tá? Abs e coragem :)

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