25 de dezembro de 2012

Bate e volta a Setúbal, Portugal


Capela do Castelo de São Filipe, em Setúbal, Portugal

Capela do Castelo de São Filipe, em Setúbal


O que fazer em um dia 25 de dezembro, quando as cidades ficam vazias, os museus fecham, os restaurantes idem e até os shoppings deixam de funcionar?

Se você estiver em Lisboa, como foi o meu caso no Natal de 2012, pode aproveitar um dia gostoso na fofíssima cidade de Setúbal, a apenas 40 km da capital.

Situada na Foz do Rio Sado, Setúbal é um centro pesqueiro — seu mercado de peixe é um dos mais importantes da Europa — que teve grande importância militar em séculos passados, como atesta o Castelo de São Filipe, que guarda a entrada do porto da cidade.

Com cerca de 100 mil habitantes, Setúbal é uma boa opção para um bate e volta a partir de Lisboa e um grande lugar para provar frutos do mar fresquinhos.

Veja como foi meu passeio a Setúbal:

Bate e volta a Setúbal, Portugal

Setúbal vista do Castelo de São Filipe
Setúbal, a Foz do Rio Sado e o Atlântico: nada escapava à vigilância do Castelo de São Filipe

Fui a Setúbal por acaso. E amei
Os dias de Natal são sempre difíceis para quem está viajando. No Natal de 2012, que passei em Lisboa, a falta de opções de lazer ainda veio acrescida de uma greve do sistema de transportes — um perrengue pra quem programou dar uma voltinha pelos arredores da capital para driblar a falta do que fazer na cidade.

Minha primeira opção de bate e volta saindo de Lisboa seria Sintra, que é tão, mas tão turística que dificilmente deixaria de ter um bom número de bares e restaurantes funcionando, mesmo no Natal.

A segunda opção seria Évora, que é tão, mas tão linda que basta a gente andar por suas ruas desertas para achar que chegou ao paraíso.

Acesso ao Castelo de São Filipe, em Setúbal, Portugal
Um túnel bem Sessão da Tarde dá acesso ao Castelo de São Filipe

Mas quem disse que havia trens saindo para essas cidades? A paralisação total da empresa Comboios de Portugal (maior empresa de trens do país) deixava poucas opções.

Mas faço questão de dizer: longe de mim reclamar de uma greve de trabalhadores (aliás, joguem duro, camaradas, porque não são vocês que hão de pagar pela crise!).

O bom de apurar uma matéria de corpo presente (eu sou repórter, afinal), porém, é que a gente sempre descobre outras pautas. No caso, descobri os que os trens da Fertagus, empresa que opera linhas de cercanias, estavam circulando normalmente.

Castelo de São Filipe, em Setúbal, Portugal

A vista do Castelo de São Filipe é muito bonita


Rápida conferida no horário das partidas e lá fomos nós rumo a Setúbal, um dos poucos destinos alcançáveis em transporte público, a partir de Lisboa, naquele dia de Natal.

A viagem no trem de cercanias entre Lisboa e Setúbal dura cerca de uma hora.

O castelo de São Filipe, em Setúbal
Ainda no trem, um pouquinho antes de chegar, a gente vê de longe uma das principais atrações de Setúbal: no alto da montanha, dominando a Foz do Rio Sado, o Castelo de São Filipe vem impondo respeito aos navegantes desde o Século 16.

Castelo de São Filipe, Setúbal, Portugal
O Castelo de Setúbal foi construído quando Portugal estava sob domínio espanhol

Construído por ordem do rei Felipe II, quando Portugal esteve anexado ao império espanhol, o Castelo de São Filipe acabou se tornando uma importante defesa portuguesa, após a Restauração — quando o país reconquistou a independência.

A vista que se tem do castelo para a Baía de Setúbal é espetacular, mas confesso que fiquei mais encantada pela capela da fortaleza, construída no Século 18, com o interior totalmente recoberto por azulejos.

Azulejos decoram o interior da Capela do Castelo de São Filipe, em Setúbal, Portugal
O interior da capela do castelo é totalmente recoberto por azulejos

O Castelo de São Filipe, tombado como monumento nacional, sedia um hotel que faz parte da rede Pousadas de Portugal, a versão local dos Paradores espanhóis.

Não vi as acomodações para os hóspedes, mas a julgar pela amabilidade do atendimento que recebemos e pelo bom gosto da decoração da recepção e sala de estar, o hotel deve ser bem bacana.

Muralhas do Castelo de São Filipe, em Setúbal, Portugal

As muralhas do castelo dão vista para os campos cheios de moinhos de vento

Moinho de vento em Setúbal, Portugal

Fomos tão bem tratadas no hotel do Castelo de São Filipe que ganhamos até filhoses, um doce português, típico do Natal, que lembra muito o cavaco baiano. O filhós é uma massinha de pastel sem recheio, frita e passada no açúcar. Bom demais.

A gastronomia de Setúbal
Mas o melhor ainda estava por vir: depois de visitar o castelo, penamos um pouquinho para achar um restaurante aberto que não estivesse até o teto de gente.

E não é que lá estava o Baluarte do Sado, com uma única mesinha para quatro sobrando, esperando por nós? E aí começou o festim.

Castelo de São Filipe, Setúbal, Portugal

A visita ao castelo foi massa, mas o melhor ainda estava por vir


O queijo de Azeitão
A primeira delícia que descobri em Setúbal foi o o queijo de Azeitão, produzido em uma localidade próxima, com denominação de origem controlada e eleito um dos 50 melhores produtos gastronômicos do mundo pelo Great Taste Awards.

O queijo de Aazeitão é feito de leite de ovelha, com uma casca dura que esconde um coração de manteiga. A consistência do bichinho é semelhante à do queijo brie, o sabor lembra o bom parmesão.

Bastou a primeira mordida para o Azeitão subir como um foguete para os primeiros lugares do meu ranking de queijos inesquecíveis.

Arroz de mariscos servido em Setúbal, Portugal
Arroz de mariscos, a estrela da festa em Setúbal

Os frutos do mar de SetúbalO queijo de Azeitão, a saladinha de bacalhau com grão de bico e os risoles de camarão foram parte da entrada servida no Restaurante Baluarte do Sado.

Uma preparação gustativa para cairmos matando no filé mignon super macio, acompanhado de camarão-tigre. Esse camarão é típico da região e que deveria se chamar camarão-baleia, pelas avantajadas dimensões: o corpinho do bicho (já devidamente decapitado) tem quase 25 centímetros e o sabor é um escândalo. Parece lagosta, sim, só que é maior.

Porto pesqueiro de Setúbal, Portugal

O porto pesqueiro de Setúbal


O outro prato (nós éramos quatro, tá?) estava de matar Pantagruel: arroz de mariscos, um caldeirão obelíxico, com caranguejos gigantescos, perninhas de lagostas e muitas, muitas ameijoas, um bichinho de concha de rasgar a roupa, que também é típico de Setúbal.

Tudo isso num caldo bem espesso. Os arrozes portugueses são pratos mais caldosos. O arroz dá nome ao prato e comparece com discreta coadjuvância. A receita lembra mais uma caldeirada que um risoto. O arroz de mariscos que provamos em Setúbal honrava a tradição.

Setúbal, Portugal


Para acompanhar a comilança, muito vinho da região do Sado, um branquinho discretamente espumante, bem legal, e devidamente arrematado por um pudim de pão que deu vontade de uivar para a lua, de tão delicioso. Resultado da farra: € 25 por pessoa.

E viva a classe trabalhadora, cujas greves, além de pressionarem por dias melhores, nos empurram para pequenas aventuras não planejadas e absolutamente inesquecíveis.

Confira as dicas práticas de Setúbal aqui

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2 comentários:

  1. Estou programando uma viagem por Portugal e Espanha e já adorava seu textos pela mistura que você faz entre roteiro e ao mesmo tempo diário de viagem, deixando suas impressões sobre os lugares. Mas depois do apoio à greve dos transportes você definitivamente se tornou minha blogueira de viagem favorita! hahaha Muito obrigado pelos posts e pela ajuda

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    1. Obrigada pelas palavras. E já que você está planejando ir à Espanha, fique ligado/a nos próximos posts. Estive na Andaluzia, agora em janeiro, e voltei apaixonada :)

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