13 de novembro de 2011

Mangue Seco, um paraíso resgatado


Dunas de Mangue Seco, Bahia

Mangue Seco não precisa de legenda


Minha primeira visita a Mangue Seco foi a trabalho, no final dos Anos 90. Um petroleiro de bandeira liberiana havia provocado um derramamento de óleo no Litoral Norte da Bahia, emporcalhando as célebres dunas, e lá se foi a repórter registrar o estrago — e constatar que as medonhas manchas viscosas na areia branquinha eram o menor dos problemas ambientais do lugar.

Mangue Seco era um segredo bem guardado (como já foram Arembepe, Porto Seguro e Itacaré) até virar cenário da telenovela "Tieta", exibida em 1989. 

Praia de Mangue Seco, Bahia

Praia de Mangue Seco, Bahia
A Praia de Mangue Seco é quase deserta e deliciosa

Praia de Mangue Seco, Bahia

Depois da novela, hordas de turistas passaram a desembarcar em Mangue Seco, todos os fins de semana, para reviver cenas da campeã de audiência. 

Na partida, deixavam para trás toneladas de garrafas pet, latas de cerveja e outros recuerdos. Mas os locais também tinham culpa no cartório: até um sofá eu vi boiando nas águas do Rio Real.

Voltei da minha primeira a visita a Mangue Seco com a sensação de que tinha visto um paraíso perdido para sempre, ferido de morte pelo turismo predatório e pela falta de consciência ambiental. 

Travessia de brugre nas dunas de Mangue seco, Bahia
A travessia das dunas de Mangue Seco é feita de bugre — quero nem imaginar como seria caminhar naquela areia fofas

Dunas de Mangue Seco, Bahia

Pois querem uma boa notícia? Paraísos ressuscitam! Foi o que descobri nesse retorno, 15 anos depois. Está procurando um lugar lindo e sossegado para uma temporada de praia e dolce far niente? Mangue Seco não vai lhe decepcionar.

Veja as dicas:


Mangue Seco, Bahia


Mangue Seco, Bahia

Comecei a constatar a "ressureição" de Mangue Seco ainda a bordo da escuna que faz a travessia do rio Real, partindo de Porto dos Cavalos (SE), ponto de parada para quem vai até lá partindo de Aracaju. 

O rio parecia limpo (sem sofás flutuantes e outros horrores) e desde longe já dava para ver que o povoado de Mangue Seco está bem cuidado. 

De perto, a vila está bonita, florida e sem sintomas daquele "bater-laje" que assola as localidades turísticas, quando os moradores inventam de acrescentar alguns cômodos às residências e montar "pousadas" — se você não sabe do que estou falando, dê um pulinho em Arembepe, a combinação da mais bela natureza com a mais horrenda arquitetura sobre a face da terra.

Vila de Mangue Seco, Bahia
O povoado de Mangue Seco clicado a bordo da escuna que me levou até lá. Abaixo, o Rio Real, que banha o povoado

Rio Real, Mangue Seco, Bahia
 
Rio Real, Mangue Seco, Bahia

Ainda singrando as águas do Rio Real, a única visão desanimadora é a torre de telefonia celular espetada nas dunas. 

O resto é a areia branca, o coqueiral, atracadouros e varandas. A vila mantém as ruas sem calçamento e algumas barreiras de correntes que desestimulam o tráfego dos bugres sob as janelas floridas.

Mangue Seco, Bahia
A torre de telefonia espetada na duna não é uma visão bonita, mas pelo menos os moradores têm sinal de celular

Mangue Seco agora tem pousadinhas rústicas e simpáticas (nem conto como era o moquifo onde dormi, na primeira visita...), poucas lojinhas de artesanato e bares discretos. E silêncio, merecido refresco para a péssima trilha sonora que rolou desde Aracaju, na van e na escuna.

Vila de Mangue Seco, Bahia

A Vila de Mangue Seco, cujo nome oficial é Santa Cruz da Bela Vista: ruas sem calçamento, silêncio e simplicidade


Igreja de Mangue Seco, Bahia

Vila de Mangue Seco, Bahia

Depois da chegada à vila de Mangue Seco, é hora de contratar o bugre para fazer a travessia das famosas dunas até a beira-mar. Os carros levam até quatro passageiros e cobram R$ 70 pelo trajeto, ida e volta — os motoristas marcam a hora para recolher os turistas, no final da tarde. 

Embarcamos no bugre para atravessar as dunas e uau!!! O visual é alucinógeno: a imensidão de areia, pontilhada por coqueiros, e o mar lá longe, sob o céu mais azul do mundo. E nem sinal de lixo nas dunas ou no coqueiral!

Nem preciso dizer que é fundamental estar lambuzada com algumas camadas de protetor solar para fazer a travessia nos brugres. A brancura das dunas reflete o sol inclemente, potencializando seu efeito.

Dunas de Mangue Seco, Bahia

Dunas de Mangue Seco, Bahia

É interessante constatar que os pouco mais de 200 moradores da Vila de Mangue Seco ainda vivem da memória de Tieta do Agreste (da novela, muito mais do que do livro). 

Durante a travessia das dunas, os bugreiros fazem algumas paradas para mostrar o lugar onde a personagem fulana "assistia o por do sol" ou onde a personagem beltrana "pastoreava as cabras"...

Mangue Seco, Bahia

Dá pra praticar "esportes radicais" nas dunas de Mangue Seco. Esta, por exemplo, é uma estação de "esquibunda"


No caminho até a praia, passamos por uma "estação de esquibunda": uma palhoça no topo de uma duna, onde alguns garotos alugam pranchas toscas de madeira para quem quiser deslizar areia abaixo. Um "teleférico" rudimentar e às avessas.

A chegada à Praia de Mangue Seco é um espetáculo: aquele mar azul batendo numa praia infinita, com os contornos distantes envoltos na bruma provocada pela maresia. 

Os bugreiros costuma deixar os visitantes no trecho onde quatro barracas de praia competem pelos gastos dos turistas. Nada obriga, porém, a ficar por ali — se bem que os pequenos quiosques que sombreiam as mesas sejam uma proteção muito desejável, sob o sol de rachar. Não há guarda-sóis na praia.

Dunas de Mangue Seco, Bahia

Dunas de Mangue Seco, Bahia

Praia de Mangue Seco, Bahia
Depois da travessia das dunas, encontre uma sombra e se jogue nesse mar perfeito

Praia de Mangue Seco, Bahia

A maré é batida, como em toda praia de mar aberto, mas não é preciso se intimidar com as ondas. A praia é rasa, de água morninha (viva o Nordeste!) e, na maré vazante, forma espelhinhos d'água, com cerca de um palmo de fundura, onde é possível deitar e esquecer do mundo (com muito protetor solar, viu?!). 

Quando bate a fome, são muitas as opções de petiscos e refeições. Comer em Mangue Seco também é um grande programa, como eu conto no próximo post.


O Litoral Norte na Fragata Surprise
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O charme despojado da Vila do Diogo, um lugar pra esquecer do mundo
Imbassaí tem sossego e badalação
Castelo da Praia do Forte: Idade Média nos Trópicos

Onde comer bem
Três restaurantes que valem a viagem
Do lado da Praia do Forte, um restaurante escondido e delicioso
Banquete pé-na-areia em Mangue Seco



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