5 de novembro de 2022

Museu Fortabat, Buenos Aires

Museu Fortabat em Buenos Aires
Museu Fortabat, Buenos Aires: o lugar para descobrir grandes artistas argentinos

A capital argentina tem um respeitável elenco de museus, cada um de seu jeito. No MNBA, a gente tem um panorama bem amplo das artes visuais no mundo. No Malba, a gente morre de paixão pelos latino-americanos, em geral. Mas foi no Museu Fortabat que Buenos Aires me apresentou à riqueza da arte produzida na Argentina.

No Museu Fortabat, descobri pintores interessantíssimos como os modernistas Roberto AizebergAntonio AliceCarlos Alonso e o genial Antonio Berni. Foi lá que encontrei as impressionantes Raquel Forner e Mildred Burton. Também foi lá que conheci obras do célebre Prilidiano Pueyrredón, que no Século 19 retratou com paixão a Argentina criolla dos pampas.

"A Defunta Correa" de Antonio Berni no Museu Fortabat em Buenos Aires
"A Defunta Correa" de Antonio Berni no Museu Fortabat de Buenos Aires
A Defunta Correa, de Antonio Berni é uma tela/instalação que retrata uma forte devoção popular argentina a Maria Antonia Deolinda Correa, a quem se atribui uma série de milagres

Sim, você verá grandes expoentes das artes no mundo, como Turner, Jan e Pieter Brueghel, Chagall, Miró e Salvador Dalí.

Mas a ênfase do acervo do Museu Fortabat é a arte argentina. De todos os museus de Buenos Aires que já visitei, este foi o que me “educou” mais neste quesito.

"O Censo de Belém", de Brueghel, no Museu Fortabat de Buenos Aires

Se você quer ver grandes nomes da pintura mundial, o Museu Fortabat também tem: este quadro é O Censo de Belém, de Brueghel

Estrategicamente localizado em Puerto Madero — um lugar onde 10 entre 10 turistas dão ao menos uma passadinha —, o Museu Fortabat de Buenos Aires é um programaço que merece demais entrar no seu roteiro portenho.

Veja as dicas:

O que ver no Museu Fortabat, Buenos Aires

O Museu Fortabat foi inaugurado em 2008 e exibe a coleção de arte reunida pela multimilionária argentina Amalia Lacroze de Fortabat (1921-2012), que chegou a ser apontada como a mulher mais rica do país.

"Retrato da Senhora Amalia Lacroze de Fortabat", de Andy Warhol
 O Retrato de Amalia Lacroze de Fortabat, de Andy Warhol, é a obra mais conhecida do acervo do museu

Amalia gostava de atuar como mecenas e incentivou muitos artistas locais. Em 1980, posou para o célebre Retrato da Senhora Amalia Lacroze de Fortabat, pintura de Andy Warhol exibida logo no início do percurso expositivo do museu e, provavelmente, a obra mais famosa do acervo.

Além do recheio sensacional, o Museu Fortabat tem uma embalagem de responsa — ela mesma uma baita obra de arte — que é o edifício projetado pelo arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, o mesmo autor do belo Aeroporto de Carrasco, em Montevidéu.

Museu Fortabat em Buenos Aires
Museu Fortabat em Buenos Aires
Museu Fortabat em Buenos Aires
Museu Fortabat em Buenos Aires
O edifício do Museu Fortabat também é uma obra de arte, assinada pelo arquiteto uruguaio Rafael Viñoly


O teto do prédio é articulado para ser recolhido, em ocasiões especiais. A ideia é permitir a realização de exposições à luz das estrelas.

O acervo do Museu Fortabat


O acervo da Coleção de Arte Amalia Lacroze de Fortabat (nome oficial do museu) tem cerca de 400 obras — telas, principalmente, mas também algumas esculturas e peças greco-romanas e do Antigo Egito.

"A Cadeira Vermelha" (1945), de Emilio Centurion no Museu Fortabat de Buenos Aires
"O pintor e sua modelo" de Horácio Butler no Museu Fortabat de Buenos Aires
No alto, A Cadeira Vermelha (1945), de Emilio Centurion. Acima, O pintor e sua modelo, de Horácio Butler: tem muitos argentinos maravilhosos pra a gente descobrir no Museu Fortabat

"Zig-zag" de Xul Solar no Museu Fortabat de Buenos Aires
Zig-Zag (1949), de Xul Solar


O destaque é para os modernistas argentinos. Foi lá que, pela primeira vez eu prestei atenção à obra de Xul Solar (1887-1963) e me encantei com o forte tom surrealista de seu trabalho.

Outros artistas que me encantaram no Museu Fortabat foram Horacio Butler (1887-1983) e Emilio Petorrutti (1892-1971) e seus Arlequins.

Este olhar em Presságio, da expressionista Raquel Forner, diz simplesmente tudo

"A Corte" de Carlos Alonso no Museu Fortabat de Buenos Aires
A Corte (1977), de Carlos Alonso
"Buquê de Primavera" de Marc Chagall no Museu Fortabat de Buenos Aires

Buquê de Primavera (1966), de Chagall


Entre os figurões internacionais, tem uma obra de Marc Chagall (O Buquê de Primavera, de 1966), uma belíssima obra do Século 17 do flamengo Pieter Brueghel (O Censo de Belém). 

Também achei interessante um quadro de Turner, no qual ele retrata Julieta num terraço, debruçada sobre a Praça San Marco, em Veneza (!). O quadro Julieta e sua aia, de 1836, não deve ser muito popular em Verona, mas é um dos destaques da coleção.

"Ninfas no Lago" de Antonio Alice no Museu Fortabat de Buenos Aires
Ninfas no lago, de Antonio Alice


Eu vivo dizendo que museu bom tem que ter ao menos uma obra de Joaquín Torres García. O Museu Fortabat não tem nadinha do meu xodó, mas os uruguaios estão representados por obras de Juan Manuel Blanes (uma versão de A Cativa pintada em 1880) e de Pedro Figari.

Sobre os pintores uruguaios, veja este post: 9 centros culturais e museus de Montevidéu

Curiosa é a ausência de artistas brasileiros e mexicanos no acervo, justamente os dois times que mais arrebentaram no Modernismo, que é a escola mais representada no Museu Fortabat.

"Ramona espera" de Antonio Berni no Museu Fortabat de Buenos Aires
Ramona espera (1964), de Antonio Berni



 Um gênio chamado Antonio Berni


O Fortabat também me deslumbrou com o fantástico argentino Antonio Berni (1905-1981), um cara que nós, brasileiros, conhecemos pouco.

Berni é maravilhoso em seus retratos comportados e quase acadêmicos. Mas é absolutamente arrebatador quando retrata cenas e figuras populares (como em Zamba, de 1956, ou em O Almoço, também chamada de Domingo na Chácara).

"Zamba" de Antonio Berni no Museu Fortabat de Buenos Aires
"O Almoço ou Domingo na Chácara" de Antonio Berni no Museu Fortabat de Buenos Aires

No alto, Zamba. Acima, O Almoço ou Domingo na Chácara: fala se Berni não é sensacional...


Mais sensacional ainda é quando Berni rasga a fantasia em telas provocativas, retratando figuras marginalizadas, como Juanito Laguna e Ramona Montiel. Ramona Espera, de 1964, é um dos pontos altos do acervo do Museu Fortabat.

(Aliás, não entendo porque o Malba, dono da sensacional obra Chelsea Hotel, não exibe essa tela, mantendo-a trancadinha na reserva técnica).

Um bom roteiro em Buenos Aires merece uma peregrinação para ver a obra de Antonio Berni. Além do Museu Fortabat, há trabalhos imperdíveis dele no Malba e o no Museu Nacional de Belas Artes.

"Menina com abóbora" de Antonio Berni no Museu Fortabat de Buenos Aires

Berni é fera até quando é comportado, como em Menina com abóbora (1947)

 

A Defunta Correa


Sem dúvida, a obra de Berni mais famosa no acervo do Museu Fortabat é a tela/instalação A Defunta Correa, retratando uma figura meio legendária e tida como milagreira muito presente no imaginário religioso popular argentino.

María Antonia Deolinda Correa teria sido uma mulher que seguiu o marido, combatente na Guerra do Prata (década de 1840), levando consigo seu bebê recém-nascido. María acabaria morrendo de fome e sede nessa marcha e, reza a lenda, quando seu corpo foi encontrado, o bebê havia sobrevivido, mamando no peito da mãe morta.

O suposto milagre deu origem a peregrinações e oferendas à Defunta Correa, como se vê na instalação de Antonio Berni. Apesar de não sancionado pela Igreja, o culto à defunta é forte no interior da Argentina, pois acredita-se que ela atenda promessas e opere milagres.

Museu Fortabat, Buenos Aires
Museu Fortabat, Buenos Aires
Às quintas-feiras, o Museu Fortabat cobra meia-entrada do público em geral e oferece ingresso grátis a estudantes, menores de 12 anos e maiores de 60



⭐ Coleção de Arte Amalia Lacroze de Fortabat
Olga Cossettini 141, Dique 4 de Puerto Madero
Metrô Alem (Linha B) a 1,1 km


Horários: De quinta a domingo, das 12h às 20h. 
Entrada: 400 pesos (R$17/ R$ 10). Menores de 12 anos, aposentados, estudantes, professores e maiores de 60 anos pagam meia. Às quintas, esse público tem entrada gratuita. Menores de seis anos e pessoas com deficiência não pagam entrada no Museu Fortabat.

Croque Madame no Museu Fortabat, Buenos Aires
A rede de restaurantes/cafeterias Croque Madame tem uma filial no Museu Fortabat

Não é permitido fotografar as obras em exposição no Museu Fortabat.

O museu tem uma cafeteria e também uma filial da rede de restaurantes/cafeterias Croque Madame, que se especializou em funcionar em museus e edifícios históricos de Buenos Aires, com cardápio de comidas rápidas e alguns pratos requintados.




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